Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Património Cultural Imaterial dos Açores Sinalização



Identificação da Manifestação

Designação: Tapetes de Folha de Milho - Santa Bárbara, Ilha de São Miguel
Outras Designações:

Capachos; Capachos de Folha de Milho; Esteiras

Domínio: Competências no âmbito de processos e técnicas tradicionais
Categoria: Atividades transformadoras

Contexto Social

Comunidades, grupos ou indivíduos:

Maria dos Anjos e outras senhoras, no meio rural e um pouco por toda a ilha de São Miguel, na faixa etária dos 60, 70 e 80 anos.


Contexto Territorial

Ilha(s): Ilha de São Miguel
Município(s): Ponta Delgada
Freguesia(s): Santa Bárbara
Espaço: Doméstico

Contexto Temporal

Periodicidade:

A senhora Maria dos Anjos cultiva milho para fazer pão, guarda as folhas para fazer os capachos como aprendeu na sua juventude, realiza-os conforme vai precisando e consoante a disponibilidade de folha de milho, a matéria prima.

Antes os capachos eram produzidos uma a duas vezes por ano. Os tapetes novos ficavam guardados para ocasiões festivas e os mais velhos eram utilizados quotidianamente nas habitações.


Caracterização da Manifestação

Caracterização e Historial:

Caraterização:



Os capachos de folha de milho são os mais caraterísticos da ilha de São Miguel. Implicam um modo de produção constituído por várias fases, nomeadamente a seleção das folhas, a respetiva secagem e desfiação, a aplicação de cor através de processos de tinturaria caseira, o entrançamento, e, por fim, o coser das tiras entrelaçadas com fio de espadana. As cores utilizadas para tingir as folhas eram garridas, predominando o amarelo, o cor-de-rosa e o verde. Para o efeito da desfiação, utilizava-se uma tábua larga com cinco ou seis pregos grandes com a ponta virada para cima -o ripanço- com a qual se rasgava a folha em tiras muito fininhas, formando pequenos molhos, que eram amarrados com fio de espadana para serem tingidos.



A folha de milho mais escura, ou a folha preta, era molhada para se fazer a trança na qual se coziam, com fio de espadana, as folhas brancas ou coloridas, obtendo-se motivos geométricos simples, mas muito alegres.



Uma habitação podia ter vários capachos: um à entrada da casa, outros à entrada dos quartos e outro à porta do quintal.



O milho depois de colhido, em setembro, era guardado nos cafuões sendo utilizado ao longo do ano. As folhas mais grossas eram alimento do gado. Com as folhas mais tenras é que se faziam os tapetes, ou produziam outros artefactos. Normalmente, esta era uma tarefa das mulheres. Hoje, ainda há muitas senhoras (na faixa etária dos 60, 70 e 80 anos) que sabem fazer tapetes de folha de milho, no entanto, estes já não são usados como capachos, ganharam um outro estatuto meramente decorativo que tem vindo a ser valorizado com a economia do turismo.



 



Historial:



O milho, originário da América do Sul, foi introduzido nos Açores no século XVI, foi uma das culturas predominantes nestas ilhas. Outrora importante recurso nutricional, hoje continua a ter um lugar importante na gastronomia, contudo mais simbólico do que nutricional.



As condições naturais das ilhas dos Açores: climáticas e o tipo de solos são favoráveis a esta cultura.



Desde muito cedo, o povo destas ilhas começou a produzir artefactos em fibras têxteis, com funções utilitárias, decorativas e até de entretenimento infantil. Eram principalmente as mulheres que elaboravam os capachos.



Era da agricultura que vinha, indiretamente, mas em grande abundância, matéria-prima para os mais diversos artefactos, uns de natureza funcional como os capachos, as vassouras e os chapéus e, outros, de natureza decorativa e lúdica, como as flores e as bonecas.



Embora esta atividade nunca tenha conhecido grande desenvolvimento, a utilização de capachos e esteiras no interior doméstico rural ou em trabalhos agrícolas foi considerável.



Os capachos e as esteiras eram utilizados para as pessoas se sentarem no chão, no interior das casas, onde tomavam as refeições e passavam o serão, e junto à porta da rua e do quintal, onde ficavam algum tempo a conversar e onde realizavam algumas tarefas domésticas como, no caso das mulheres, costurar e bordar.



Mas era na ocasião das festas que os novos e coloridos capachos de folha de milho, eram colocados à entrada das portas da casa.



No que diz respeito aos trabalhos agrícolas, as esteiras eram utilizadas para colocar o milho a secar ao sol, servindo também de assento quando se realizavam tarefas como escolher feijões, debulhar milho ou tirar a vagem das favas e das ervilhas. Estas peças eram ainda utilizadas para forrar o leito do carro de bois ou a caixa das carroças, quando iam mulheres e crianças no seu interior.



Atualmente, os capachos e esteiras de fibras vegetais integram o artesanato regional, sendo os artesãos de hoje repositórios vivos destas artes tradicionais, transmitidas de geração em geração.


Manifestações associadas: Esta manifestação relaciona-se diretamente com a cultura do milho, com a moagem da farinha, com a alimentação e criação de gado, com a gastronomia (pão de milho, papas de carolo, bolo de sertã, etc). Algumas construções ligeiras como as barracas de milho, hoje praticamente desaparecidas, erguiam-se para secar e armazenar as maçarocas.

Transmissão da Manifestação

Estado: Ativo
Modos: Informal
Oral
Com recurso a objetos
Em articulação com outras manifestações

Identificação da Documentação de Suporte

Bibliografia:

DIAS, Urbano de Mendonça, 1944, A Vida de Nossos Avós. Estudo Etnográfico da Vida Açoriana através das suas leis, usos e costumes, Vila Franca do Campo: Tip. de “A Crença”, Vol. 4, pp. 145 – 152

ANDRADE, Alexandre, 2000, Artes e Ofícios Tradicionais dos Açores, Ponta Delgada: Centro Regional de Apoio ao Artesanato

TOSTÕES, Ana et al., 1985, Arquitectura Popular dos Açores, Lisboa: Ordem dos Arquitectos

Registos fotográficos:

Total de 25 fotografias, registadas pela equipa PCI/MCM em 2014, 12 das quais ilustram, abaixo, esta manifestação.

Outra documentação:

http://museucarlosmachado.azores.gov.pt/tapetefolhamilho

http://acores-quiosques-turismo-artazores.blogspot.pt/2013/02/artesanato-folha-de-milho.html

http://www.artesanato.azores.gov.pt/artesaos.php?lingua=1&familia=16&subfamilia

Anexos:
  • © Maria dos Anjos a indicar o material necessário para a elaboração dos tapetes de folha de milho, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Maçarocas de milho, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Folhas de milho para a elaboração dos tapetes de folha de milho, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Ripanço do milho, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Maria dos Anjos a selecionar as folhas de milho para a elaboração dos tapetes, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Debulhador de milho, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Maria dos Anjos a preparar as tintas para tingir as folhas de milho, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Folhas de milho tingidas por Maria dos Anjos, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Folhas de milho tingidas por Maria dos Anjos, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Tapetes de folha de milho elaborados por Maria dos Anjos, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Tapetes de folha de milho elaborados por Maria dos Anjos, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014

  • © Maria dos Anjos (à direita) a explicar como se elaboram os tapetes de folha de milho, Santa Bárbara, Ponta Delgada, 2014


Património Associado


Registo criado por: Museu Carlos Machado
Data do registo: 03-01-2017

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