Apresentação, nas ilhas Flores (13 julho) e Terceira (14 julho), do «Diário de um Náufrago nas Flores e no Faial. John Fowler Viajante a bordo do Robert Fulton», tradução anotada de Elisa Gomes da Torre
Edição IAC
Será apresentado ao público nas ilhas das Flores e Terceira o Diário de um náufrago nas Flores e no Faial. John Fowler - Viajante a bordo do Robert Fulton, tradução anotada de Elisa Gomes da Torre.
As apresentações estarão a cargo de Luís Gomes Vieira (Flores) e de José Luís Neto (Terceira) e ocorrerão no próximo dia 13 de julho, pelas 20h15, no salão nobre dos Paços do Concelho das Lajes das Flores, e no dia 14 de julho, pelas 21h00, na galeria do IAC.
John Fowler, inglês em viagem pelo Estado de Nova Iorque em 1829, faz, em Journal of a tour in the state of New York in the Year 1830, um relato dessa viagem, com particular incidência nas condições económicas, como desvenda no subtítulo (with remarks on agriculture in those parts most eligible for settlers and return to England by the Western Islands, in consequence of shipwreck), tendo em vista os que quisessem instalar-se nos Estados Unidos e aí desenvolver as suas atividades empresariais. Na viagem de regresso a Inglaterra, no outono de 1830, a bordo do Robert Fulton, barco americano com carregamento de farinha, sofre um naufrágio quando a embarcação decide ir em socorro de uma barca inglesa em perigo. A descrição arrepiante do acidente e dos dias sucessivos num barco naufragado até alcançar a costa da Ilha das Flores (no espaço de uma semana) é o início de um relato atento e pormenorizado de um homem que, chegado a terra segura, se deslumbra com a beleza da ilha, o exotismo da vida dos florentinos, se escandaliza com o regime político miguelista, reservando elogias à Ilha Terceira e à causa de D. Maria e anota outras curiosidades, muito ao estilo da época. Assim, através deste diário sabemos onde, como e durante quanto tempo os 114 passageiros e tripulantes do navio Robert Fulton foram instalados. Descreve-nos ainda o leilão dos destroços do navio e da sua carga e qual a importância arrecadada com o mesmo. Os tripulantes, o Capitão Britton e John Fawler. Estes, na companhia do vice-cônsul americano na ilha das Flores, Sr. Borges, passam, depois, à Horta onde são convidados dos Dabney. Não espanta, por isso, que também tenhamos conhecimento do naufrágio de Robert Fulton através das notícias consulares americanas incluídas nos Anais dos Dabney.
O interesse particular do relato agora publicado pelo IAC reside na descrição e observações da Ilha das Flores, dos seus habitantes, mulheres, costumes, atividades económicas, política, segurança militar... aspetos esses que John Fowler, protestante e liberal, homem apreciador da atividade física e da caça, vai pontuando em comparação com os modos de vida ingleses e americanos, ao mesmo tempo que revela um particular deslumbramento pela beleza natural da ilha e pela autenticidade e generosidade dos seus habitantes. Trata-se, pois, de um relato emocionante, atento, generoso e também crítico das ilhas das Flores e do Faial na primeira metade do século XIX.
A divulgação deste texto é, assim, de enorme interesse e vem preencher uma lacuna na área de conhecimento dedicada às ilhas periféricas dos Açores.
Elisa Gomes da Torre é professora auxiliar da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, investigadora do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto e colaboradora no Centro de Estudos sobre o Imaginário Literário da Universidade Nova de Lisboa. Doutorada em Literatura Medieval Portuguesa e Especialista em Filosofia Medieval, prepara a tradução inédita para português diretamente do latim das “Collationes”, de Pedro Abelardo, depois de ter levado a cabo a edição crítica do Diálogo de Preceitos Morais em Modo de Jogo, de João de Barros, a ser publicado online em breve. Foi visiting fellow da Universidade de Oxford, no Trinity Term de 2013, cujo estatuto manteve até junho de 2016. Com incursões de investigação na área da literatura tradicional, também estuda as danças de entrudo da Ilha Terceira.
Luís Filipe Nóia Gomes Vieira nasceu em 1965. Licenciado em História, com pós-graduação em Património, Museologia e Desenvolvimento e mestre em Património, Museologia e Desenvolvimento. Professor entre 1987 e 1999. Presidente do Conselho Diretivo da Escola Preparatória e Secundária Padre Maurício de Freitas de 1994 a 1999. Técnico superior do Museu das Flores a partir de 1999 e diretor da mesma instituição desde 2001.
José Luís nasceu em Lisboa no ano de 1977. Viveu também em Braga e em Setúbal e reside há alguns anos em Angra do Heroísmo. Publicou vários livros e cerca de duas centenas de artigos nas áreas da História, Arqueologia, Filosofia, Património e Museologia. Da sua dinâmica como ativista nos movimentos sociais e culturais, colaborou, coordenou ou criou instituições culturais, periódicos e documentários ativistas. Na área de ficção publicou Historietas Psicotrópicas (contos, 1999), Danças de Espada (romance, IAC, 2014) e O Terreiro (romance, 2016).