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Nova (A)

Folha de Noticia e Critica foi editado em Ponta Delgada, ilha de S. Miguel, sendo o seu número um de 18 de Maio de 1902. Publicação de domingo, foram seus redactores Francisco de Medeiros Bethencourt e Raposo de Oliveira e editor Manuel F. Medeiros. A redacção e administração estavam localizadas na rua dos Mercadores, sendo impresso na Tipografia Ferreira § C.ª (Oficina do Sr. Ferreira Cordeiro).

Redigido por jovens, A Nova começou a inovar logo pelo grafismo do título. Traços de arte nova ornamentaram o cabeçalho deste jornal desde o primeiro número. Não obstante os aplausos para o novo projecto, essa inovação, juntamente com uma maior liberdade de escrita da língua portuguesa, trouxe-lhes também algumas criticas: «Para que há de a gente, ao escrever [...], parar de pouco a pouco, a pensar se a palavra que vae escrever deve levar dois pp ou dois ss? [...] Até com a inofensiva e elegante vinheta que há por baixo do nome da nossa folha embirraram os criticos! Oh! arte nova, arte nova! Não te podem tragar em sêco estes espiritos velhos!».

Os artigos editoriais eram assinados por «João Só» e «Rei Vax» e a sua publicação parece ter atingido níveis de sucesso indiscutíveis, uma vez que no seu número 23 passam a imprimir no seu cabeçalho «A Nova. Semanario de maior circulação em San Miguel».

Os seus artigos versavam temas do quotidiano e davam notícias do dia-a-dia. Defendiam e divulgavam ainda, talvez devido à faixa etária dos seus redactores, os interesses dos estudantes do Liceu de Ponta Delgada. É neste contexto que publicaram, em Outubro de 1902, uma carta de um jovem estudante daquele Liceu, de seu nome António Kopke de Ayalla, onde se expressava a ideia da construção de uma biblioteca anexa ao dito Liceu. Essa ideia viria a concretizar-se e seria criada a Biblioteca Auxiliar Académica, cujos estatutos seriam publicados no próprio jornal.

O último número data de 7 de Dezembro de 1902. A dissolução da dupla Bethencourt e Oliveira deveu-se à saída daquele primeiro da redacção do jornal. Essa saída foi sentida com bastante mágoa por Raposo de Oliveira, que a não escondeu do público: «Francisco de Bethencourt era uma parte da alma da Nova, assim como é uma parte da minha alma. Esta sua cadeira deserta, enche-me de tristeza, como se mo tivessem levado para muito longe [...]».

Ao sair, Francisco de Bethencourt deixara uma carta de despedida pública que seria publicada no jornal: «Amigo e colega, circunstancias várias e muitos afazeres, sem duvida de mais interesse para a minha vida futura, me forçam agora, com bastante e sentida magua, a deixar a camaradagem intima e bôa que sempre em ti encontrei, desde o dia em que nos lembrámos de fundar a nossa Nova. Não significa este meu afastamento uma recusa absoluta da minha parte na cooperação do bello futuro que esta reservado ao nosso semanario [...]; porquanto continuarei a ser ? posso assegurar-te ? senão o mesmo redactor efectivo delle, ao menos seu assiduo colaborador. [...]».

Mas, de facto, a resposta que Raposo de Oliveira deu publicamente àquela carta teria todo o fado de verdade. Referiu ele que o facto de Bethencourt deixar de ter o seu nome ligado ao jornal e de «não possuir este dever moral de escrever para o publico» faria com que se perdesse o entusiasmo original e o coração perdesse «o antigo ardor».

No próprio número de despedida apareceria a notícia de que ambos haviam aceite projectos diferentes: Francisco de Bethencourt, presidente da academia do Liceu Central de Ponta Delgada, passaria a ser o redactor principal de um novo semanário, órgão dos estudantes daquele Liceu; Raposo de Oliveira teria sido convidado para fazer parte da redacção do jornal O Heraldo, filiado na política regeneradora, que era redigido pelo Administrador do Concelho de Ponta Delgada, Manuel da Câmara M. Cabral, e por Augusto Loureiro.

Na despedida, Raposo de Oliveira refere que «ao abandonar o caminho dos nossos mais queridos ideaes, estamos certissimos de ter cumprido desassombradamente a ardua missão a que nos propuzemos, adentro sempre das estreitas balisas do nosso restrito programa. [...]» Referiu ainda que a suspensão da publicação não era «motivada por deficiencia de circunstancias materiaes [...]», atribuindo a culpa ao «destino, que assim nos obriga a parar a meio da jornada».

«Na despedida

Brotaram de teus olhos lentamente

Duas lágrimas tristes, silenciosas;

Era da tarde, e as aves tristemente

Choravam elegias misteriosas.

 

Bebi com beijos essas gotas de água

Que em fél se transformaram no meu peito:

? Fél de que é feita a minha immensa magua,

Dôr de que todo o meu tormento é feito!»

Raposo de Oliveira

Ana C. Moscatel Pereira

Bibl. A Nova (1902), Ponta Delgada.