Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Lopes, Frederico

[N. Praia da Vitória, ilha Terceira, 31.5.1896 ? m. Angra do Heroísmo, 6.2.1979] De seu nome completo Frederico Augusto Lopes da Silva Jr. usou o pseudónimo de João Ilhéu com o qual publicou a maior parte da sua obra, principalmente a literária, mas também usou Frederico Lopes e mais raramente Frederico Lopes da Silva.

Estudou nos liceus de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada, que terminou em 1915. Matriculou-se no Instituto Superior de Agronomia, mas mobilizado acabou por seguir a carreira militar matriculando-se na Escola de Guerra, terminando o curso de Infantaria. Foi sucessivamente promovido a alferes, 1918; tenente, em 1922; capitão, em 1938; major, em 1946; tenente-coronel, em 1952. Passou à reserva em 1954, e à reforma em 1966.

Foi comandante do Batalhão I.I. 17, aquartelado no Castelo de S. João Baptista, onde aliás passou a maior parte da sua carreira militar. Na reserva serviu na Base Aérea 4, como presidente do Conselho Administrativo.

Ocupou o cargo de presidente da Câmara de Angra do Heroísmo em 1933, provedor da Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória, 1941, e de Angra do Heroísmo, 1949, presidente da Direcção do Montepio Terceirense, 1960, e vários outros cargos de índole social.

Distinguiu-se essencialmente como poeta, contista, autor teatral, etnógrafo e jornalista. Toda a sua obra é de índole regionalista e etnográfica e interligada por uma ideia base da identidade açoriana e da força criadora da cultura popular. Os seus versos, os seus contos, as suas peças teatrais, todas elas estão marcadas por essa opção de ir beber à fonte popular a inspiração e os ensinamentos, ainda que muitas vezes idealizando o povo, dando dele uma imagem romântica e desfasada da realidade.

Obteve sempre grandes êxitos literários junto dos seus leitores fieis e do grande público, principalmente com as suas obras para o teatro musicado, no género opereta, em colaboração com músicos da sua geração. A mais conhecida obra sua neste campo foi Água Corrente, com música de Henrique Viana da Silva e que foi sucessivamente representada entre 1928 e 1962, na Terceira, em S. Miguel e no Faial.

Foi sócio fundador do Instituto Histórico da Ilha Terceira, onde desenvolveu um aturado e continuado trabalho de investigação e teorização sobre etnografia, sendo discípulo de Luís da Silva Ribeiro. A sua obra etnográfica, que é fundamental para se entender o regionalismo açoriano da primeira metade do século XX, encontra-se recolhida num volume, Notas Etnográficas.

Foi, também, com menos êxito, divulgador de temas de história açoriana, sob um prisma da história biográfica de enaltecimento dos heróis insulares no seu contributo para o engrandecimento da pátria comum.

Como jornalista, fundou o Jornal de Angra, em 1933, que marca pelo seu programa renovador na imprensa local e pela qualidade técnica e artística das suas edições. Além disso foi colaborador assíduo de A União, com rubricas de crítica social e política.

Por último é de destacar a sua faceta de animador cultural incansável, através de palestras e montagem de espectáculos, sendo dos primeiros nos Açores a usar a rádio como veículo de comunicação cultural.

Foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, do Instituto Cultural de Ponta Delgada e do Instituto Açoriano de Cultura e condecorado com a Ordem de Cristo e de S. Bento de Avis. J. G. Reis Leite

Obras. (1927), Tipos da minha terra. Angra do Heroísmo. Tip. Insulana. (1928), Touradas e romarias. Angra do Heroísmo, Tip. Ed. Açoreana. (1931), Rústicas. Angra do Heroísmo, Tip. Angrense. (1933), Gente do Monte. Cenas da vida regional terceirense. Angra do Heroísmo, Tip. Angrense. (1934), Á boquinha da noite (crónicas diárias no Jornal de Angra). Angra do Heroísmo, Tip. Angrense. (1938), Discretear (palestras e discursos). Angra do Heroísmo, Livraria Ed. Andrade. (1944), Sol das romarias. Angra do Heroísmo, União Gráfica Angrense. (1951), Alma Perdida. Angra do Heroísmo, Tip. Moderna. (1956), Gente do monte. II série, Angra do Heroísmo, Tip. Angrense. (1970), Do povo e de mim. Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura. (1971), Da Praça às Covas. Memórias de uma velha rua. Angra do Heroísmo. Tip. Andrade. (1980), Notas de Etnografia, Algumas achegas para o conhecimento da história, da linguagem, dos costumes, da vida e do folclore do povo da Ilha Terceira dos Açores. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira.

 

Bibl. Afonso. J. (1980), [Prefácio] in Notas de Etnografia. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira: I-IX. Leite, J. G. R. (1998-1999), João Ilhéu. Homenagem e Bibliografia. Atlântida, XLIV: 93-104. (1996), Um hino à terra. No 1.o centenário de nascimento de Frederico Lopes Jr. (João Ilhéu). Angra do Heroísmo, Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo.