Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Melo, José Augusto Cabral e (J. A. C. M. e Silva)

 [N. Angra, 22.1.1793 ? m. Angra do Heroísmo, 16.10.1871] Filho de um comerciante, o quinto de uma prole de 13 irmãos, foi destinado pelos pais à carreira eclesiástica e por isso frequentou as cadeiras de gramática portuguesa, latina, latinidade, filosofia racional e retórica, então existentes em Angra, adquirindo uma sólida formação clássica. Não mostrando qualquer vocação para o sacerdócio foi destinado ao comércio e por isso estudou inglês, italiano e contabilidade, mas também não lhe agradou a carreira. Não tendo possibilidades de frequentar a universidade, como lhe agradaria para satisfazer o seu gosto pelas humanidades, acabou por seguir uma carreira na função pública, com início em 1809, na secretaria do Governo Geral dos Açores, onde atingiu o lugar de secretário-geral. Os capitães-generais reconheceram a sua competência e cultura e encarregaram-no de comissões de serviço, entre elas uma ida à corte do Rio de Janeiro, onde conviveu com Silvestre Pinheiro Ferreira. O agitado período das lutas liberais trouxe-lhe dissabores, sendo demitido em 1828 por suspeita de miguelista, que realmente não era, mas contemporizara com eles. Nesse tempo difícil foi advogado de provisão.

Em 1836, por concurso, foi nomeado secretário da Câmara Municipal de Angra, mas acabou por ser preterido por outro, passado pouco tempo, indo então a Lisboa em demanda da justiça, que lhe foi feita e foi reintegrado em 1840. No fim da vida passou necessidades devido à parca reforma.

Apesar de tudo isto, Cabral de Melo nunca deixou de estudar e ler, sendo um bom latinista, poeta e tradutor, além de excelente calígrafo, reconhecido. A sua obra de inspiração neo-clássica é vasta e com algumas composições excelentes no seu género, principalmente a Ode a um Pessegueiro (1851) e à Laranjeira (1845). Na tradução, a sua obra-prima são as Odes de Horácio (1853), mas traduziu também do inglês e do francês, neste caso a Mérope de Voltaire (1841). Compilou parte dos seus poemas, Poesias Líricas (1834), o primeiro livro de um poeta açoriano impresso nos Açores, mas a maioria das suas composições estão dispersas por jornais, revistas ou publicadas isoladamente. Inocêncio deixou no Dicionário Bibliográfico a mais completa lista que se conhece.

Escreveu ainda prosa de onde se destaca a Biografia do Padre Jerónimo Emiliano de Andrade (1861) e o Manifesto da Câmara Municipal de Angra (1836) que lhe trouxe grandes dissabores. Foi procurador na Terceira de Almeida Garrett.

Foi agraciado por D. João VI com o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo.

Existe dele um retrato litografado em Lisboa. J. G. Reis Leite

Obras principais. (1834), Poesias Lyricas. Collecção Primeira [única]. Angra do Heroísmo, Impr. da Prefeitura. (1836), Manifesto offerecido á nação portugueza pela Camara Municipal da cidade de Angra, no anno de 1836. Lisboa, Imp. de Gallardo e Irmãos. (1841), Mérope, tragédia de Voltaire, traduzida em verso portuguez. Angra do Heroísmo, Impr. do Iris. (1845), Ode à laranjeira. Angra do Heroísmo, Imp. J. J. Soares. (1851), Ode a um pessegueiro: no dia 9 de Julho de 1851, aniversário daquele em que o autor, no ano de 1809, começa a servir o estado na secretaria do Governo Geral dos Açores. Angra do Heroísmo, Imp. J. J. Soares. (1853), Odes de Q. Horácio Flaco, traduzidas em verso na linguagem portuguesa. Angra, Typ. do Angrense. (1861), Biographia do P. Jeronymo Emiliano de Andrade. Angra do Heroísmo, Typ. de J. J. Soares.

 

Bibl. Dicionário Bibliográfio Português (1973). 2.a ed., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, IV: 251-256, 466, XII: 243-244. Leite, J. G. R. (1987), José Augusto Cabral de Melo, calígrafo e poeta. Atlântida, XXXII (2): 21-27. Silveira, P. (1977), Antologia de poesia açoriana do século XVIII a 1975. Lisboa, Livraria Bertrand: 106-109. Ribeiro, L. S. (1935), Um tradutor açoreano de Horácio. José Augusto Cabral de Melo e Silva. Angra do Heroísmo, Livraria Ed. Andrade. Id. (1954), Cartas de José Augusto Cabral de Melo a Almeida Garrett. Introdução e notas de ... Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XII: 135-187.