Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Fotografia

Dando seguimento ao trabalho de outros investigadores, Daguerre inventou um processo fundamental para a evolução da fotografia, em 1837, conhecido por daguerreotipia. Logo depois, com Fox Talbot a técnica fotográfica tomou a forma actual, a que se seguiram outras invenções. Entre elas, destaque-se o processo concebido pelo brasileiro Hércules Florence (1841), a fototipia, que permitiu a utilização da imagem fotográfica nos periódicos. Com o lançamento da película fotográfica, em 1884, e dos rolos, em 1891, estavam dados os passos decisivos para que a fotografia alargasse o seu espaço de intervenção. Em Portugal, todo este processo foi acompanhado desde cedo, dado que a primeira referência à fotografia surgiu em 1839, na revista Panorama. Na década de 40, já existiam notícias sobre fotógrafos estrangeiros de passagem pelo país, acabando alguns por fixar residência. Mas foi só a partir das décadas de 70 e 80 que se verificou a sua expansão, cabendo ao alemão Emílio Biel e a Carlos Relvas a responsabilidade por esse facto.

Nos Açores, tal como aconteceu em muitas outras regiões do país, os estrangeiros exerceram alguma influência no desenvolvimento da arte. Os dados disponíveis, até ao momento, apontam para que a fotografia tenha chegado por intermédio deles, ainda na primeira metade do século XIX.

I ? DOS PRIMÓRDIOS À I GUERRA MUNDIAL

Marcellin Turpin terá sido o primeiro daguerreotipista a desembarcar em Ponta Delgada, anunciando no *Cartista dos Açores, a 13 de Novembro de 1845, a sua actividade na hospedaria de João António Rodrigues. Todos os dias, tirava fotografias das 10 às 15 horas da tarde, ao preço de 4$800 réis. Segundo Supico (1995: 122), acabou por residir na ilha, vivendo do ensino da língua francesa. No ano seguinte, outro anúncio referia que um artista vindo do Porto pretendia demorar-se em Ponta Delgada e que tirava retratos a 3 e 4 patacas, conforme o tamanho. Podia, também, ir a casa das pessoas interessadas e efectuava retratos de vistas panorâmicas (Açoriano, 25 de Abril de 1846). No mês seguinte já anunciava a sua partida, fazendo fotografias a preços mais módicos. Para o mesmo ano, o jornal Angrense (9 de Julho de 1846) anunciava que se faziam retratos pelo processo de Daguerre, em 10 ou 20 segundos, na rua do Cruzeiro. Não foi possível confirmar se é este o estrangeiro referido por António Valdemar (Açoriano Oriental, 18 de Abril de 1992), de nome Hellingir. Em 1857, Mr. Dubois apresentou-se na cidade de Ponta Delgada, como acreditado artista e dentista, bem conhecido do povo lisbonense. Fazia retratos a daguerreotipo ? a fusco ou coloridos. Os retratos em lâmina custavam 1$440 réis e em papel 1$400. Encarregava-se também de ensinar a retratar (Açor, 18 e 25 de Abril de 1857). Para o início da década de 60, António Valdemar (idem) refere a presença de dois fotógrafos suíços, Jacques Wunderli e Eduardo Kauphl, em São Miguel, e de Suliev, em Angra, fazendo este fotografia colorida. Em Junho de 1860, outro artista de passagem por Angra tirava retratos «d?ambrotypo» na hospedaria de Joven Nestor (A Terceira, 2 de Junho de 1860).

Para além da presença de estrangeiros, alguns açorianos também se interessaram pela fotografia. Entre eles, encontra-se o médico faialense, António Ferreira *Borralho, que viveu em São Miguel e aí acabou por falecer em 1853, intoxicado com drogas utilizadas na revelação. Embora se dedicasse à actividade como amador, outros faziam-no com carácter mais profissional. Nesta ilha, Manuel Inácio Rodrigues, proprietário do Hotel Central, terá aprendido com os estrangeiros que lá residiram temporariamente. Foi ele que, no início dos anos 1860, tirou a fotografia que serviu de modelo para a pintura do pano do Teatro Micaelense, com uma vista desde o areal de São Francisco até à Ponta da Galera, bem como uma outra de Ponta Delgada que serviu de base a conhecidos artistas portugueses, como Nogueira da Silva e Alberto. Outro fotógrafo, Luís de Sousa Vasconcelos, especializou-se na preparação de nitrato de prata, cloreto de ouro, ácido pirográfico e papel albuminoso e salgado. José Maria Vasconcelos evidenciou-se pelos trabalhos em vidro. Mariano José Machado, um jorgense radicado em Ponta Delgada, já tinha atelier montado na rua do Garcia, em 1873. Uns anos antes (1868), havia adquirido a Manuel Ignacio Rodrigues todos os preparos e sortimentos do seu estabelecimento, bem como os clichés, dos quais fazia reproduções. Por sua iniciativa foi publicado o Almanaque das Bellas Artes, em 1868, nas quais se incluía a fotografia e um artigo sobre a mesma. Este almanaque tem a particularidade de ter sido, provavelmente, a primeira publicação com fotografias coladas: uma vista panorâmica das Furnas e outra da doca de Ponta Delgada. No ano anterior, deslocara-se a São Jorge, onde tirara muitas fotografias e, em 1870, publicou um pequeno livro, no qual descreve uma visita a Santa Maria. Passou quase três meses nesta ilha, tirando «239 retratos de fotografias e ambrotypo», que lhe renderam 70$980 réis, além de outras gratuitas. Neste livro também colou dois retratos: um do próprio autor e uma vista de Vila do Porto. José de Sousa Cabral, alfaiate, anunciava, em 1870, ter-se dedicado ao estudo da fotografia e que se achava habilitado para tirar retratos em grupo e vistas para álbum, podendo fazê-lo no jardim da Sociedade d?Agricultura ou no seu estabelecimento na rua de São Braz. José Pacheco Toste, oriundo da Terceira, aprendeu a arte com Mariano Machado, aperfeiçoou-se posteriormente no estrangeiro e fundou a Photographia Toste. Finalmente, um dos mais conhecidos, foi António José Raposo, que terá sido ensinado por um fotógrafo alemão. Em 1870, já estava estabelecido na rua da Esperança e anunciava que se comprometia a tirar retratos melhores que qualquer fotógrafo que tivesse passado pela cidade. Comunicava, ainda, que tinha em seu poder os clichés do seu antecessor na mesma casa, Rechell, pelos quais tirava reproduções (Gazeta do Povo, 15 de Agosto de 1870). Tanto Pacheco Toste, como António Raposo fotografaram Antero de Quental, em 1887. António Raposo, proprietário da Photographia Artística, ensinava a arte a qualquer pessoa por 300$000 (Novo Diário dos Açores, 24 de Agosto de 1888). Nos finais do século XIX, já existia também a Photographia Mendonça, no Largo da Matriz, de António Correia Mendonça. A estes profissionais micaelenses poderão acrescentar-se os nomes de alguns amadores, como Ernesto do Canto, morgado António Botelho, o padre José Maria de Carvalho e José Maria Álvares Pereira.

Em Angra do Heroísmo, para além dos estrangeiros, um anúncio de 1861, referia a existência de um fotógrafo, instalado na rua de Santo Espírito, e posteriormente na rua do Galo (1864), tirando retratos de vários tamanhos, bilhetes de visita a 3$600 réis a dúzia (A Terceira, 7 de Setembro de 1861). Este artista deve ser Nestor Ferreira Borralho, o único fotógrafo existente na cidade em 1867. Trabalhava a daguerreotipo, sem horário definido. Mas em 1874, já funcionavam a Galeria Photographica, de Carlos Severino de Avelar, e a Photographia Terceirense, de Carlos Mendes Franco. Pouco depois, a Photographia Terceirense terá passado para Manuel de Sá e Silva, e Carlos Mendes Franco abriu a Foto Angrense. Este fotógrafo foi premiado com a medalha de oiro na exposição realizada em São Miguel por ocasião da visita régia (1901) e foi recebido pelo próprio rei para lhe oferecer uma fotografia panorâmica da parte Sul da ilha Terceira, desde a ponta de São Mateus até à Salga. Empenhou-se na mordenização do seu atelier adquirindo em 1904, uma objectiva de recente invenção, a «Planar de Leiss», por 148$000 réis. No início do século XX, retomou a propriedade da Photographia Terceirense e transaccionou a Angrense para Abraham Aboboht, um homem ligado à pintura, e que ficou conhecido por ter fotografado Gungunhana. No final do século XIX, existem referências para a Photographia Franco, de Jayme Franco, e a Photographia Popular, de João de Sá e Silva, que permaneceu em actividade até finais do anos 20.

Na cidade da Horta, embora não tenham sido encontradas referências na imprensa à passagem de estrangeiros, é muito provável que também tivessem escalado o seu porto. O estabelecimento mais antigo que se conhece é a Photographia Avelar, na rua de S. Francisco, que encerrou em 1874 (O Observador, 12 de Julho de 1874). Mas no ano seguinte, Severino João d?Avelar, completou a «sua barraca fotográfica» e prontificava-se a tirar retratos com todo o esmero e perfeição, a preços mais baratos que qualquer outro (O Pensamento, 27 de Março de 1875). A presença da família Dabney ficou registada também pelo seu contributo para a introdução da fotografia no Faial. Fixados nos Açores no início do século XIX, o patriarca John Dabney foi o primeiro cônsul americano no arquipélago e homem de negócios em vários ramos. Os descendentes, gente culta e viajada, interessaram-se pela fotografia, registando aspectos da paisagem e dos costumes faialenses, mas também de outras ilhas. Rose, Raoul e Samuel Dabney conheciam os modernos processos da arte e o seu espólio, ainda preservado, constitui um precioso elemento de estudo sobre os Açores, até à data em que partiram da ilha, em 1892. Numa exposição realizada nesta cidade, em 1878, foram apresentadas três fotografias de Samuel Dabney e outras de Domingos Mendes de Faria, um continental que fixara residência na Horta. Mendes de Faria, em 1875, já dirigia a Photographia Nacional, na Alameda da Glória, e ensinava a qualquer pessoa o «systema de chromo a côres», por 24$000 réis (O Fayalense, 23 de Junho de 1878). Em 1880, já estavam abertos dois outros estabelecimentos: a Photographia Americana, de Laureano P. da Silva Correa, na rua do Caes, e outra casa de João Augusto Laranja, na rua de São João. Registe-se também a actividade de Manuel Goulart (1866-1946), que começou a tirar fotografias nos anos de 1880. Embarcado para a América, em 1889, regressou aos Açores em 1895, trazendo consigo uma máquina. O irmão, José Goulart, residente na Horta, acompanhou-o numa digressão pelas ilhas tirando fotografias. Desta viagem resultou a edição de um catálogo de «Vistas e costumes dos Açores, Madeira e Portugal», em 1895.

Na segunda metade do século XIX já estavam, portanto, instalados ateliers de fotografia nas três cidades. Em termos de divulgação da mesma, muito contribuíram as *exposições agrícolas e industriais realizadas no arquipélago: a da Horta, em 1878, e uma em Ponta Delgada, em 1882, por ocasião do centenário da morte do marquês de Pombal. Esta última foi ainda uma tímida exibição desta arte, onde apareceram apenas dois retratos fotográficos coloridos a óleo por A. M. Vasconcelos e uma fotografia da autoria de Luís de Sousa Vasconcelos. Mas na exposição de 1895, nesta mesma cidade, já estiveram expostas, numa secção própria, mais de três de dezenas de fotografias, da autoria de Mariano Gaspar Teixeira, António José Raposo, Maria Victoria Xavier Raposo, Ernesto Brown, José Pacheco Toste, Francisco Afonso Chaves e Duarte d?Andrade Albuquerque Bettencourt. Maior sucesso teve ainda uma exposição também em Ponta Delgada, por ocasião da visita de D. Carlos, em 1901, com a participação de fotógrafos de várias ilhas. Nos finais do século XIX, a fotografia já era utilizada nos Açores como aplicação a estudos científicos. O naturalista Francisco de Arruda *Furtado (1854-1887) terá sido o primeiro, a nível nacional, a aplicá-la num estudo antropológico (Materiais para o estudo antropológico dos povos açoreanos, 1884), reproduzindo numa página várias fotografias com tipos fisionómicos de camponeses micaelenses. O mesmo procedimento foi seguido por outro açoriano, embora residente em Lisboa. O bacteriologista Anibal *Bettencourt que, no final do século, as publicou nos seus relatórios científicos. Bettencourt, fotógrafo amador, foi sócio fundador e primeiro presidente (1907) da Sociedade Portuguesa de Fotografia. Ainda nos finais do século XIX, a Terceira esteve ligada a uma experiência realizada por José Júlio Rodrigues. Nos túneis de lava da ilha (Março de 1891) foram feitas as primeiras fotografias à luz de magnésio.

No início do século XX, surgiram mais alguns fotógrafos, profissionais ou amadores, que se evidenciaram no panorama regional. Em Ponta Delgada, por volta de 1905, Jácome Pacheco Toste, era proprietário da Fotografia Artística, e Manuel Joaquim de Matos, da High-Life, que se manteve até finais dos anos 30. Na Terceira, António Luiz Lourenço da Costa (1883-1839), iniciou a sua actividade depois de se ter aperfeiçoado no Brasil e em Paris. A fusão do seu estabelecimento com o de Jayme Franco, deu origem à Photographia Lourenço e Franco, onde realizavam fotografia a cores. Mas a experiência da fotografia a cores na Terceira era já anterior, dado que em 1910 o amador Sebastião do Canto e Castro expôs as primeiras fotografias a cores na loja de José Leite (A União, 23 de Junho de 1910). A sociedade entre Lourenço e Franco deve ter-se desfeito, porque em 1925, o primeiro formou uma outra, por quotas, com Fernando Carvão, passando a designar-se Fotografia Lourenço Limitada. Contemporâneo do fotógrafo Lourenço, António José Leite (1872-1943), revelou-se um dos melhores artistas do seu tempo. Nascido no Porto, foi parar à Terceira, onde casou e se estabeleceu como comerciante de fazendas e ourivesaria. Fotógrafo amador, recorreu à objectiva nos tempos difíceis para compensar dificuldades financeiras. Os postais da Loja do Buraco, nome do seu estabelecimento, tiveram grande divulgação. Nos anos 20, terá estado à frente da Photo Bazar, vendendo material fotográfico e fazendo acabamentos em trabalhos de amadores. Na Horta, José Goulart, que aperfeiçoara os seus conhecimentos na América, regressou ao Faial em 1900. Nesta data fundou o seu estúdio, de sociedade com José Luís Lemos, a que foi dado posteriormente o nome de Galeria Photographica. Fazia retratos, imagens comerciais, industriais, paisagens e costumes. Foi um dos pioneiros da fotografia a cores em Portugal. Após a sua morte, a família continuou a sua arte e preserva o espólio. A partir de 1912, o fotógrafo Tiago Romão de Sousa exerceu também a actividade na Horta, até aos anos 40.

Embora predominando nas cidades, a fotografia também contou com os seus adeptos nas vilas das várias ilhas. Na maior parte dos casos não passavam de amadores, revelando os seus trabalhos em pequenos quartos caseiros adaptados a «laboratórios» ou nos ateliers dos profissionais, como se deduz dos anúncios publicitários. Contudo, o seu trabalho veio dar cobertura a outros eventos que nem sempre atraíam a atenção dos profissionais citadinos. Registam-se os nomes de alguns deles, com a indicação entre parêntesis dos anos em que é conhecida a sua actividade, referenciada com a., cujas informações foram retiradas do Anuário Comercial. Em Vila do Porto, Januário Soares de Figueiredo, que aprendeu a arte em Boston e abriu um estabelecimento nos finais do século XIX (a. até finais dos anos 20); na Praia da Vitória, refira-se a presença de César de Matos Serpa (a. 1905-1940); em São Roque do Pico, Francisco Xavier Bettencourt da Silveira (a. 1905-1925); nas Lajes do Pico, João Soares de Lacerda (a. 1917-1925); nas Velas, Pedro Nolasco Gambão (a. 1917-1925); em Santa Cruz das Flores, Braz Teodoro da Costa (a. 1905-1912) e Filomena Adelina da Silva (a. 1905-1953). Até à I Guerra Mundial, a fotografia só foi utilizada muito esporadicamente na imprensa. A nível de livros, para além do grupo de cientistas em torno de Carlos Machado, como Arruda *Furtado e Afonso *Chaves, a fotografia foi utilizada no trabalho já referido de Manuel Goulart, e num trabalho por Osório Goulart sobre a visita régia ao Faial, em 1901. Refira-se ainda a utilização da fotografia da autora Maria Belmira de Andrade no livro de poemas Phantasia, em 1875. Com a fundação da Sociedade Propagadora de Notícias de Micaelense, em 1898, foram editados postais de António Raposo, como meio de propaganda turística. Em Angra do Heroísmo, foi inaugurada uma galeria de retratos com 33 personalidades açorianas, em 1907, o que vem evidenciar a importância dada à fotografia.

II - ENTRE AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS

Este período ficou essencialmente marcado pelo trabalho dos fotógrafos na área do cinema. Em 1927, coube ao fotógrafo terceirense, Lourenço da Costa, a proeza de realizar o primeiro filme açoriano (ver cinema). Em Ponta Delgada, Jacinto Óscar Dias Rego fundou, nos anos 20, a Foto Central, adquirindo posteriormente a Foto Toste. Em 1930, realizou o primeiro filme micaelense. José de Melo Vasconcelos Araújo, ligado à foto Rápida exerceu a actividade até ao final dos anos 50. Em Angra do Heroísmo, António José Leite e Raul Cruz seguiram as pisadas do fotógrafo Lourenço com pequenos documentários cinematográficos. Foi nesta década que Raul Cruz chegou à Terceira, com as credenciais de fotógrafo formado pelo Internacional Studio of Chicago. Para além de pintor, abriu estúdio fotográfico que durou até aos anos 70. Para a Horta há apenas a registar o aparecimento de Alexandre Rebelo, com uma actividade relativamente curta nos anos 30 e 40. A expansão nas vilas foi mais notória neste período. Assim podem registar-se: na Povoação, António Ferreira Pacheco (a. 1925-1928); em Vila Franca do Campo, Jácome Pacheco Toste (a. 1919-1953), localizado anteriormente em Ponta Delgada; em Vila do Porto, Carlos Ância Travassos e José Ângelo Ferreira (ambos entre 1933-1948); em São Roque, Adolfo Vieira da Costa (a. 1928-1948); em Santa Cruz da Graciosa, Aníbal César Bettencourt (a. 1917-1938), António Terra (a. 1917-1928) e Nicolau Terra (a. 1938-1953); nas Velas, Francisco Xavier Giraldes (a. 1921-1953); em Santa Cruz das Flores, Henrique Costa (a. 1928-1970); na Praia da Vitória, António Borges de Quadros que, entre outros afazeres, se dedicou à fotografia entre os anos 20 e 40, sendo o trabalho de revelação feito em casa pela esposa Maria Graciomilde. Neste período, a fotografia foi conquistando as páginas dos jornais e, principalmente, das revistas. A fundação da Oficina Artes Gráficas, pelo marquês de Jácome Correia, permitiu a utilização da fotogravura, nos princípios do século XX. Destaque-se a Revista Michaelense (1918-1921) e a revista ilustrada *Açores (1922-1928), que foi a primeira publicação em que a fotografia teve tanta ou mais importância que o texto escrito.

III ? DOS ANOS 40 AO 25 DE ABRIL

Este foi o período de maior expansão da fotografia nos Açores, com a abertura de numerosos estabelecimentos. Para Ponta Delgada, registe-se o aparecimento da Arte Gráfica (a. 1940-1974), Foto Estrela (a. 1943) de Raul Eiró, Tinoco (a. 1948-1960), Garcia (a. 1958-1995), Londres (a. 1958-1965), Arte (a. 1965-1991), Bela (a. 1965-1974) e a Foto Nóbrega. Gilberto Nóbrega (1919-2003), natural do Funchal, acabou por se fixar em Ponta Delgada, em 1942, dedicando-se de alma e coração à fotografia. Como refere António Valdemar (idem), Nóbrega é um naturalista, do ponto de vista estético e conceptual, um clássico entre os modernos e um moderno entre os clássicos. Pela sua objectiva passaram os momentos mais significativos da vida micaelense da última metade do século XX. Angra do Heroísmo ficou também marcada por uma explosão de estabelecimentos: Foto Lilaz (a. 1943-1970), de Arnaldo Bettencourt; Foto Bazar (a. 1948-1958); Perlino (a. 1953-1964), de A. Lino, que trespassou para Arnaldo Tristão Aguiar, dando origem à Foto Madeira (a. 1964-1974); Brum (a. 1953-1974), de Rodolfo Ferreira Brum e a Mini-Foto (a. 1969-1974), de Manuel Bettencourt. O mesmo fenómeno se registou na Horta: Foto Jovial (a. desde 1943), de Júlio Vitorino da Silveira, Elvira Romão de Sousa (a. 1948-1960), João Baptista Dutra e Herdeiros (a. 1953-1960) e a Foto Azul (a. 1965-1974). Graças às reportagens de todos estes fotógrafos e à preservação dos seus espólios, a história dos Açores está bem documentada para este período, nas suas mais diversas áreas. Os espaços urbanos de menor dimensão continuaram a assistir à proliferação de fotógrafos e respectivos estabelecimentos: na Povoação, a Foto Santos & Teixeira, L.da (a. 1970-1974); em Vila Franca do Campo, Manuel Carreiro dos Santos Lima (a. 1943-1960), José Fernandes Coelho (a. 1960-1974) e Silvino Pacheco (a. 1970-1995); em Vila do Porto, Foto Pepe, de José Elizabeth (a. 1953-1995); na Praia da Vitória, Foto Pereira, de Luís Pereira (a. 1953-1969), a Casa Bispo, de José Silvério Bispo (a. 1956-1980), e a Foto Iris, de Costa e Costa L.da (de 1956 até ao presente); em São Roque do Pico, António Dias de Melo (a. 1943-1948); nas Lajes do Pico, Camilo Costa e João Baptista Alves Soares (a. nos anos 60/70); em Santa Cruz da Graciosa, João da Silva (a. 1948-1974) e Reginaldo Correia de Melo (a. 1970-1974); nas Velas, Fotografia Godinho (a. 1953-1965) e Fotografia Guial (a. 1960-1974); na Calheta, Virgínia Soares da Silveira (a. 1958-1974), Ernesto Jacinto da Silveira (a. 1965-1974) e Flamínio da Silva Azevedo (a. 1974); em Santa Cruz das Flores, Humberto Augusto Lopes (a. 1965-1974); e nas Lajes das Flores, Adão Pinheiro da Silva (a. 1965-1974).

IV ? DEPOIS DO 25 DE ABRIL

Neste período continuaram a surgir outros fotógrafos, com as respectivas casas comerciais, fazendo a cobertura dos eventos mais significativos, mas o método de trabalho foi alterado. Na maior parte dos casos, os estabelecimentos vivem da revelação de trabalhos do público amador em máquinas industriais, da digitalização de fotografias mas também das tradicionais reportagens das festas mais variadas. Para Ponta Delgada, saliente-se o Laboratório Açor Color, o Atelier Belarte e o Mega 4 fundados na década de 90. Foi também na mesma década que abriram em Angra a Iris Color, a Foto Madeira (2.a), Lilaz (2.a), Corvelo e O Fotógrafo. Para a Horta registe-se a Foto Silva, Iris e Hortalab. O trabalho na área da fotografia industrial e publicitária foi desenvolvido pela Zoom1.1, de Martinho Grilo Coelho, em Ponta Delgada (a. 1991). Nas vilas as alterações foram pouco significativas: na Lagoa, a Foto Madrid; em Vila do Porto, a Foto Nova; em Santa Cruz da Graciosa, a Foto Iris; nas Velas, a Foto Mesquita e a Foto Azevedo, e em Santa Cruz das Flores, a Foto Alves. Registe-se, ainda, o trabalho de uma nova geração que através de exposições (Jorge Monjardino) ou da publicação de livros (Guedes da Silva e Mário Duarte) têm contribuído para a divulgação da fotografia na região.

De um modo geral, constata-se que a fotografia nos Açores acompanhou a evolução verificada no país. Contudo, registe-se que a facilidade de deslocação aos Estados Unidos permitiu a muitos fotógrafos o aperfeiçoamento da arte. O arquipélago beneficiou também da presença regular de estrangeiros nos cabos submarinos da Horta e na Base das Lajes. A venda de material fotográfico a preços mais acessíveis na base americana democratizou o acesso a um bem que até então pertencia a uma minoria. Por outro lado, não é de desprezar a influência da emigração. Para os emigrantes trabalhavam os fotógrafos, tirando retratos para passaportes e outros que circulavam entre as famílias. Acrescente-se ainda que os referidos emigrantes nas viagens de retorno se faziam acompanhar das respectivas máquinas.

Carlos Enes

 

Bibl. Machado, M. J. (1870), Uma viagem à ilha de Santa Maria. São Miguel, Tip. M. A. Tavares Resende. Sena, A. (1998), História da imagem em Portugal ? 1839-1997. Porto, Porto Editora. Supico, F. M. (1995), Escavações. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, I: 122-123. Valdemar, A. (entrevista), Açoriano Oriental, Ponta Delgada, 18 de Abril de 1992.