[N. Funchal, 14.2.1810- m. Angra do Heroísmo, 7.3.1874] Estudou na Madeira e matriculou-se na Faculdade de Filosofia e Matemática da Universidade de Coimbra, em 1825, mas não acabou o curso por em 1827 se ter alistado no Batalhão Académico, onde lutou pelos ideais liberais. Com a derrota das forças liberais, emigrou para a Galiza, acompanhando a Divisão Constitucional, e daí seguiu para Inglaterra. Em 1829 foi para a Terceira integrado no Batalhão Académico dos Voluntários da Rainha e combateu na batalha de 11 Agosto, na Vila da Praia. Acompanhou o Conde de Vila Flor nas expedições que libertaram a outras ilhas açorianas, achando-se presente na acção da Ladeira da Velha, em S. Miguel, a 2 de Agosto de 1831. Fez parte do Exército Libertador e desembarcou com D. Pedro IV no Mindelo, em 1832, distinguindo-se no cerco do Porto. Foi condecorado com a Medalha nº 9 das Campanhas da Liberdade.
Com o final da guerra, seguiu uma carreira político-administrativa. Foi nomeado, em 1833, Secretário-Geral da Prefeitura dos Açores, com sede em Angra e, em 1836, foi transferido para Ponta Delgada, onde exerceu o cargo de Administrador Geral e Governador Civil interino. Em 1843 esteve colocado em Aveiro e em 30.12.1844 foi nomeado governador civil do distrito de Angra do Heroísmo, iniciando uma longa carreira neste cargo político-administrativo, essencialmente nos Açores. Teve que se haver, quando governava o distrito de Angra, com a revolta de 1847, em que os Setembristas estabeleceram uma Junta Governativa que o destituiu. Eram seus inimigos jurados, uma vez que era cartista e, mais tarde, regenerador, e tudo fizeram para que não voltasse ao cargo, mesmo depois da revolta nacional ter sido esmagada. Não o conseguiram e voltou a ser reintegrado. Foi governador-civil em períodos alternados no distrito de Angra do Heroísmo e Horta, nas seguintes datas: em Angra do Heroísmo, de 30.12.1844 a 1.6.1846; de 10.10.1846 a 6.6.1848; de 8.9.1849 a 3.6.1851 e de 24.4.1852 a 19.8.1857. Na Horta, de 6.6.1848 a 8.9.1849 e de 3.6.1851 a 24.4.1852. Foi eleito deputado pelo círculo da Horta, em 1853, mas não exerceu o mandato, por incompatibilidade com o lugar de governador.
Acabou a sua carreira como governador-civil do distrito de Portalegre (de 7.11.1859 a 30.7.1862), data em que se reformou, voltando à Terceira, onde casara e constituíra família e que considerava a sua segunda pátria. Distinguiu-se essencialmente no governo do distrito de Angra do Heroísmo, onde desenvolveu várias acções de fomento, das quais as mais notáveis foram a fundação da Caixa Económica de Angra do Heroísmo, em 1845, e a do Asilo da Infância Desvalida, em 1853.
Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, do Conselho de S.M.F., comendador da Ordem de Cristo e de N. Srª da Conceição de Vila Viçosa. J. G. Reis Leite (Jul.2000)
Obras principais (1840), Mapa da população e seu movimento no distrito de Ponta Delgada. Ponta Delgada, 11 de Junho [1 folha impressa]. (1848), Colecção de alguns escritos administrativos. Angra, Imp. do Governo. (1851), Estatística da Instrução Primária no distrito da Horta. Revista dos Açores, Ponta Delgada, I: 199. (1853), Inauguração do Asilo da Infância Desvalida. Angra do Heroísmo, Imp. do governo. (1857), Exposição dos factos que se deram no distrito de Angra do Heroísmo relativamente à exportação de cereais. Lisboa. (1859), Relatório sobre o Distrito Administrativo de Aveiro. Lisboa, Imp. Nacional.
Bibl. Canto, E. (1890), Biblioteca Açoriana. Ponta Delgada, Tip. Archivo dos Açores, I: 322. Dicionário Portugal (1906), Lisboa, Ed. Romano Torres, II: 329. Sampaio, A. S. (1904), Memória sobre a ilha Terceira. Angra do Heroísmo, Imp. Municipal: 773 e segs. Sampaio, V. B. F. M. (1991), Ascendência e descendência do Conselheiro Nicolau Anastácio de Bettencourt. Lisboa, ed. do autor: 13.