Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Azevedo, José Pegado de (D.)

[N. ? - m. Ponta Delgada, 19.6.1812] Provisor da diocese de Leiria, era religioso da Congregação do Oratório, «filho desta Real Casa de N. Sr.ª das Necessidades», como se regista no Livro de Óbitos, de que saiu em 1798. Foi prior da freguesia de Santos-o-Velho, em Lisboa, desembargador da cúria patriarcal e veio a ser apresentado 24.º bispo de Angra, em 24 de Novembro de 1800, confirmado a 22 de Julho de 1801 e sagrado a 13 de Novembro seguinte, tomando posse por seu procurador, o deão Mateus Homem Borges, a 15 de Dezembro deste mesmo ano. Chegou a Angra em 15 de Novembro de 1802, tendo ido hospedar-se no Convento de S. Francisco. Estaria, então, entre 50 e 60 anos de idade. Sagrou a Sé Catedral angrense em 6 de Outubro de 1808 e tentou, corajosamente, a renovação da Oratória Sacra, relegando ao esquecimento velhos moldes que a afectação e a mediocridade gongoristas tornaram obsoletos e ridículos. Por isso, bom teólogo e pregador afamado, conhecia na perfeição a história eclesiástica e as línguas francesa e italiana, o que lhe facilitou colocar-se a par do movimento literário no estrangeiro e estudar os grandes oradores, principalmente Boussuet e Massillon. Ensinou Gramática Latina nas Necessidades, tendo tido como aluno, em 1785-86, Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato, que dele deixou esta opinião severa: «Nunca me lembro sem horror, d?este meu tirocinio litterario: eu era muito mandrião e propenso a dormir [...]; o mestre tinha um genio muito forte, ou antes, colerico, e não possuia o dom de se fazer estimado nem de tornar ameno o arido estudo da grammatica.» Tomou sob a sua égide a reforma moral do clero e, acima de tudo, dos religiosos que se achavam, então, segundo ele e seus informadores, na mais deplorável decadência. Crendo-se que houvesse tido formação militar na juventude, o que, de algum modo, justificaria o seu carácter rigoroso e decidido, era, com efeito, de sensibilidade extrema à música e calmo e ponderado ao dirigir-se aos homens por escrito; mas, de temperamento autoritário e intransigente, nos despachos e no contacto directo revelava-se, amiúde, implacável na correcção de graves e frequentes abusos. Foi odiado por quantos não suportavam os rigores das normas disciplinares que punha e mandava pôr em prática. A 23 de Março de 1803, fez uma Pastoral, onde condenou o abuso de alguns párocos assistirem ou delegarem noutros a faculdade de assistirem a matrimónios fora da igreja paroquial, e até da própria paróquia, sem autorização expressa do Ordinário; a 11 de Agosto fez outra a regulamentar a maneira como devia proceder-se para o preenchimento das paróquias. A 3 de Junho de 1803, foi nomeado visitador e reformador dos Franciscanos da Custódia da Conceição, na ilha de S. Miguel. Em 1805, houve desavença entre o bispo e o governador-geral, conde de Sabugosa, devida à atitude dos nobres contra o bispo. Em 5 de Agosto de 1809 redigiu uma outra Pastoral sobre os sofrimentos por que passava a Igreja com a invasão dos Estados Pontifícios e a prisão de Pio VII e, de 25 de Outubro de 1810, datada já de Ponta Delgada, outra, a solicitar a recolha para resgate de 615 portugueses, cativos em Argel, pelos quais era exigido um montante que ascendia a 214 285$000. Nesta efervescência de melindres e zangas e com problemas de solução tão urgente e difícil, começou a ser feita uma campanha de descrédito contra o prelado, pondo em causa o zelo enérgico com que estava a gerir os negócios da diocese. Julgou, então, prudente sair para a ilha do Faial, com vista a uma visita pastoral e, em 1810, retirou-se de Angra, repleto de desgostos e sofrimento, para ir residir em Ponta Delgada, onde veio a finar-se no Convento dos Gracianos, como constou, vítima de uma apoplexia causada por insultos por parte de um dos seus maiores inimigos, Fr. José dos Anjos, sendo sepultado na matriz. João Silva de Sousa (Jun.1996)

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