Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Costa, Manuel Damasceno da (D.)

 [N. Covilhã, 2.2.1867? m. Angra do Heroísmo, 27.1.1922] Era filho de António da Costa Rato e de D. Maria do Carmo Damasceno. Fez a sua instrução primária e secundária em 6 anos, sob a direcção dos padres da Companhia de Jesus, concluindo os estudos aos 16, no Colégio de S. Fiel. Matriculou-se, em seguida, no Seminário da Guarda, onde cursou Teologia. Em 1888, foi para Coimbra onde esteve sob a protecção de um tio, Manuel de Jesus Lino, lente de Teologia da Universidade. A 20 de Setembro de 1890, recebeu a ordem do presbiterado na Sé da Guarda e, após ter-se licenciado, em 1893, foi nomeado professor de Filosofia e História Eclesiástica do seminário desta cidade. Desenvolveu aqui grande actividade religiosa, como director do ?Apostolado da Oração? e fundador das ?Conferências de S. Vicente de Paulo?. Foi substituir o Arcebispo de Mitilene, D. Manuel Vieira de Matos, no cargo de director espiritual do Seminário de Viseu (1898) e veio a ser Cónego da Sé. Assumiu aqui a direcção espiritual do Colégio do Sagrado Coração de Maria, sendo a alma do Círculo Católico de Operários que ele fundou nesta cidade. Preparou-se para emigrar para o Brasil, após a implantação da República, dada a extinção do seminário e a expulsão das religiosas, quando foi nomeado para a diocese de Angra, pela bula Commissum humilitati nostrae (de 2.10.1914) por Bento XV, em substituição de D. José Correia C. Monteiro. A 11 de Abril de 1915, recebeu a sagração episcopal na Catedral de Viseu, embarcando, no dia 20 deste mês e ano, para os Açores. Chegado a Ponta Delgada a 25, foi feita no dia seguinte uma recepção na sede da diocese, em Angra, que estava sem bispo havia cinco anos. A 30 desse mês, fez a sua 1.ª Saudação Pastoral à diocese e, a 5 de Maio, cumprimentou, oficialmente, a Corporação Capitular. Iniciou, então, uma primeira visita pastoral pelas ilhas Graciosa, Faial, Pico e S. Jorge. Em provisão de 22 de Julho de 1915, recomendou ao seu clero o amor ao estudo e a organização de Conferências Eclesiásticas e, a 14 de Setembro, fez uma pastoral sobre o ensino da catequese, apresentando regras práticas. Estabeleceu, então, a Comissão Central Diocesana a que se subordinaram as Congregações da Doutrina Cristã já existentes ou a fundar na Diocese. Visitou depois a Terceira, a fim de conhecer a vida religiosa de cada paróquia. Elevou a paróquia o curato de Sto. António, em S. Jorge e, a 25 de Novembro de 1915, dirigiu ao clero uma instrução pastoral sobre a pregação, publicando, em Dezembro seguinte, outra instrução sobre a assistência espiritual aos doentes e moribundos. Nos inícios de 1916, publicou a primeira pastoral da Quaresma, sublinhando que a ignorância das verdades da Fé era a doença originária de todos os outros males religiosos. Voltou a recomendar aqui a instrução do catecismo que não devia limitar-se à primeira idade das crianças, mas que as deveria acompanhar sempre por meio dos patronatos, círculos-de-estudo e associações de juventude. Elevou a paróquia o Curato de Santa Cruz das Ribeiras, a 13 de Janeiro de 1916. Neste ano, Portugal entrou na Grande Guerra. Foi, então, que a autoridade superior do distrito de Angra, Joaquim Teixeira da Silva, recorreu à intervenção do prelado que redigiu uma circular, a recomendar ao clero paroquial que serenasse os ânimos da população açoriana, pelo que endereçou nova pastoral pela Páscoa. Criou as ouvidorias dos Fenais da Ajuda, Povoação e Capelas, restaurando a do Topo. A 10 de Maio, seguiu para a ilha do Faial, dominada pela Maçonaria, entrando depois em S. Jorge. De regresso a Angra, partiu para S. Miguel e voltou à Terceira para escrever uma outra acerca da demorada visita que fizera (a 1 de Novembro de 1916). Estabeleceu um subsídio ao cabido que enviou ao presidente da Corporação Capitular, para as despesas da sé catedral, o que veio a renovar em Novembro do ano seguinte. Entre 1916 e 1917, emitiu pastoral acerca da Família e do alcoolismo e fez nova visita a S. Miguel (Junho de 1917). Nos inícios de 1918, publicou o Regulamento Diocesano àcerca da Prégação e normalizou as Conferências Eclesiásticas, com uma instrução pastoral acerca do dever eleitoral e contra o erro da abstenção comodista. A 5 de Junho de 1918, publicou uma outra que teve por assunto central a organização religiosa e social da diocese e outra ainda sobre o seminário e a formação dos aspirantes ao sacerdócio. No ano seguinte, publicava uma outra acerca da indiferença religiosa, antes de promover uma visita às paróquias da Terceira, o que o levou a prosseguir nas reformas da Legislação Diocesana, seguindo, em visita, para Santa Maria e S. Miguel. De regresso à sede diocesana, deu à estampa uma instrução pastoral sobre a mesma, sublinhando que se sentia em falta em relação às ilhas do Corvo e das Flores. Iniciou o ano de 1920, com uma outra pastoral, desta feita, sobre a ?Assistência do Culto e do Clero? e, em Fevereiro, uma outra acerca da Quaresma que teve por temas a piedade e a oração, exortando, como o fez sempre, à necessidade e utilidade na feitura e na consulta dos jornais católicos, instituindo, para 29 de Junho, o ?Dia da Boa Imprensa?. Neste seguimento, fundou, em S. Miguel, o semanário A Actualidade e auxiliou a manutenção das publicações que já existiam: em Angra, A Verdade e o boletim paroquial A Cruz; em S. Miguel, A Crença, favorecendo o surgimento de O Dever, os Sinos da Aldeia e O Semeador. Propôs um projecto do novo seminário, dado o aumento constante do número de alunos e preparou a visita às duas ilhas em falta, que parece não ter chegado a concretizar. A 2 de Outubro, voltou a referir-se à ?Assistência do Culto e do Clero?, numa Instrução Pastoral e, nos começos de 1921, publicou uma outra sobre ?A Família?. Alvo de um processo que lhe moveram, pela relevância que deu ao matrimónio como Sacramento em desfavor da união civil, só soube dela aquando de uma estada no Continente, ao visitar Viseu e Coimbra e ao deslocar-se a Tui (1921). A 20, regressou à sua diocese, para sagrar, na matriz da Horta, D. José da Costa Nunes, bispo de Macau. A sua última visita pastoral foi ao Faial, de que saiu uma instrução referindo-se, em termos elogiosos, à Juventude Católica. O documento ? tido como seu testamento ? veio a ser a instrução pastoral sobre a celebração do Santo Sacrifício da Missa e a Recitação do Ofício Divino que veio a ser publicada já após a sua morte, alegadamente, acelerada por um triste incidente. Foi substituído pelo 34.º Bispo, D. António Augusto de Castro Meireles. João Silva de Sousa (Abr.2001)

Bibl. Boletim Eclesiástico dos Açores (1916-1920), XXII: 72, 92-94, 114-116, 146, 167, 186, 293, 435; XXIII: 3, 155, 174, 199, 203, 219, 239, 255, 267 e 283; XXIV: 3, 25, 49, 65, 125, 143, 161, 173, 269, 281 e 290; XXV: 3, 8, 26-27, 37, 49, 61, 133 e 157. Almeida, F. (1970), História da Igreja em Portugal. Porto-Lisboa, Liv. Civilização, III: 495-496. Pereira, J. A. (1939), Padres Açoreanos. Bispos ? Publicistas ? Religiosos. Angra do Heroísmo, União Gráfica Angrense: 55-105.