[N. Grândola, 1949 ? m. Mérida, Espanha, 20.5.1983] Motivos de ordem profissional levaram-na a fixar-se na ilha Terceira, no final dos anos 60, onde concretizou uma notória intervenção sócio-cultural e literária, integrada no grupo de intelectuais de Angra desse tempo e a que pertencia o poeta J. H. Santos *Barros, com quem casou e com quem viria a falecer num acidente de viação em Espanha.
Estreou-se poeticamente com Digo Fome (1970) a que se seguiram Relatório Fragmentado (1974, prosa) e, já em Lisboa onde se fixara em 1975, Mulher em Horas de Ponta (1979, prosa) e Outra Versão da Casa (1980).
É autora de uma escrita marcada por um ?discurso do feminino?, no que isto possa significar de atenção ao universo da mulher e numa óptica de afirmação feminina perante o mundo e os seus problemas, e em que o intuito denunciador e interventivo se serve de uma linguagem directa e violenta, retoricamente despojada, como bem o exemplifica o seu poema ?Emissor Marítimo? : ?últimas informações / do nosso emissor: // mar cavado a grosso / fome até ao pescoço?. Os livros de 1979 e 1980 atestam um registo lírico e intimista mais envolvente, sem anularem a particularidade desse olhar crítico.
Publicado já postumamente, Peste Malina (1983) reúne treze depoimentos de mulheres de diferentes estratos sociais e regiões (mais um texto da própria autora), de que ressaltam três grandes núcleos temáticos: a infância e a adolescência, a sexualidade e as transformações operadas pelo 25 de Abril na vida da mulher.
Para o teatro escreveu A Espera, longo monólogo de uma camponesa alentejana e que integrou a peça Tudo bem ? reflexões acerca do homem novo, levada à cena em Lisboa pelo grupo de teatro A Barraca (texto publicado no jornal Açores, 6.1.1983). Urbano Bettencourt (Set.2001)
Obras (1970), Digo Fome. Angra do Heroísmo, Gávea-Glacial. (1974), Relatório Fragmentado. Angra do Heroísmo, Degrau. (1979), Mulher em Horas de Ponta. Lisboa, Ed. Maria da Fonte. (1980), Outra Versão da Casa. Lisboa, Ed. Base. (1983) Peste Malina. Lisboa, Ulmeiro. (1983) A Espera. Açores, Ponta Delgada, 6 de Janeiro.