Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Silva, Rogério [R. Isauro da S.]

[N. Feteira, Horta, 22.2.1929 ? m. Angra do Heroísmo, 12.6.2006] Pintor, desenhador e gravador. Com 18 anos de idade fixou-se na ilha Terceira onde foi professor de trabalhos manuais na Escola Comercial de Angra do Heroísmo (Telégrafo (O), 1953a) e havia de nascer para a pintura o artista que depois havia de ser (Firmino, 1973). Foi naquela ilha que contactou Martinho da Fonseca, mestre da pintura, a quem ficou ligado por laços da mais sólida amizade e compreensão.

Ainda em Angra do Heroísmo, em 1958, foi um dos fundadores, com Emanuel Félix e Almeida Firmino, da revista Gávea; esteve associado a Carlos Faria na editora Gávea/Glacial; e, em 1967, foi o grande impulsionador da Galeria «Gávea» - Galeria Açoriana de Arte, que funcionou no piso principal da sua residência, na rua Pêro Anes do Canto, com filial na rua D. Vasco da Gama, Horta, que realizou mais de 15 exposições, algumas delas nesta cidade. Foi com a Galeria «Gávea», não comercial e com funções didácticas, que promoveu diversas iniciativas, entre elas a vinda aos Açores de numerosas exposições de artistas portugueses e estrangeiros.

Depois de ter feito na Horta, em 1953, a sua primeira exposição individual de pintura (Telégrafo (O), 1953b; c), expôs em Lisboa, em 1954 e 1956 quando havia de ser descoberto por Artur Portela que lhe atribuiu uma posição honrosa entre outros artistas presentes numa exposição colectiva. Entre 1967 e 1972 realizou várias exposições individuais e colectivas.

Em 1971 fixou-se em New Bedford, Estados Unidos da América, onde promoveu a exposição infantil New Bedford/Angra ? Angra/New Bedford, semelhante a outra promovida ainda na Terceira, naquele ano, Angra/Paris ? Paris/Angra.

Expôs, em 1976, no Festival da Primavera, no Bristol Community College, Fall River, e na Câmara Municipal de Boston, e, em 1977 voltou a expor nesta Câmara, com mais dezasseis grupos étnicos e na Biblioteca Pública da cidade de New Bedford, a convite do Governo português. Em 1978, na Brown University (Providence, R. I.), integrada na série artística «Musas de Portugal e do Brasil» realizou a sua exposição de maiores repercussões.

Para Richard Pacheco, crítico de arte, «Rogério Silva é um excelente talento que desenvolveu uma mistura pessoal de cubismo e surrealismo, de lógica e sonhos loucos que tornam os seus trabalhos sobrepujantes e enternecedores.» (Pacheco, 1978).

Outro crítico de arte, Edward J. Sozanski, registou que «[?] os gráficos, na sua maior parte feitos nos Açores, põem em evidência um artista, tentando expressar um profundo compromisso com a sua ascendência e a sua cultura através de um estilo que mistura elementos do cubismo, do surrealismo e do futurismo com temas açorianos ? baleias, barcos à vela e aves marinhas, por exemplo.» (Sozanski, 1978).

Segundo João Afonso «Não estará ainda produzido um estudo aprofundado da obra de Rogério Silva em suas fases sucessivas, frente às faces transmitidas aos quadros de cada época.

«Desde os Açores e, depois, por estes vinte anos de estada dele na Nova Inglaterra (povoada ou ... desértica!), tem-se escrito em vários tons sobre o artista com traços do seu perfil humano, menos porém quanto às linhas do realizador de Artes visuais» (Afonso, 1989).

Rogério Silva nunca quis comercializar a sua arte. A propósito escreveu Norbert J. Yasharoff: «Nada querendo vender à excepção de provas das ilustrações de livros, tem desprezado completamente o aspecto comercial da sua vida de artista. Não tentou entrar em contacto com agentes ou negociantes. Não contactou nenhum museu ou galeria, com ofertas de exposição das suas obras. Pouco faltou para não convidar críticos de arte de outras cidades a pronunciarem-se sobre as suas exposições.» (Yasharoff, 1978).

Sobre a maneira de Rogério Silva entender a comercialização da Arte, Onésimo T. Almeida esclarece: «O Rogério chocava-se porque ?a arte é arte e não se suja?. Pelo menos a arte do Rogério, ou tal como o Rogério a concebia.» (Almeida, 2006).

Sobre Rogério Silva escreveu Firmino (1973) «[...] não pertenceu, como pintor, a esta ou àquela ilha: é sim, e por natureza, o pintor suis generis dos Açores [...]».

Rogério Silva está representado em diversos museus e instituições dos Açores e da Costa Leste dos Estados Unidos (A. O., 2006).

Na Horta deixou, pelo menos, o «Painel alegórico Faial-Pico» que, segundo Almeida Firmino «oferece uma síntese do esforço comum do povo que, neste lado do Atlântico, vive mais próximo e se confunde na faina do mar e labuta em terra. Uma visão exacta do afã nesses dois aconchegados mundos.» (Firmino, 1973).

Rogério Silva regressou à Terceira na década de 1990. Depois dedicou-se a ministrar cursos de gravura junto das escolas de várias ilhas.

A sua morte ficou marcada por um profundo silêncio! Luís M. Arruda

Fonte: Conservatória do Registo Civil de Horta, assento de nascimento n.º 84 do ano de 1929.

 

Bibl. A. O. [Álamo Oliveira] (2006), In memoriam. Rogério Silva (1929-2006). Diário Insular ? vento norte, Angra do Heroísmo, 20 de Julho. Afonso, J. (1989), Pintor nosso lá fora. Rogério Silva ? açoriano na Nova Inglaterra. Atlântida, 34, 1: 5-12. Almeida, O. T. (2006), Rogério Silva ? a arte de um outro mundo. Tribuna das Ilhas, Horta, n.º 217, 7 de Julho: 7. Firmino, A. (1973), Rogério Silva, pintor dos Açores. O Telégrafo, Horta, n.º 22003, 21 de Fevereiro. Pacheco, R. (1978), Rogério Silva ? shifting planes. New Bedford Standard Times, New Bedford, 30 de Abril: 16. Sozanski, E. J. (1978), A fine artist?s work is hidden no more. Providence Journal-Bulletin, Providence, 12 de Maio: 6. Telégrafo (O), (1953a), Horta, 21 de Agosto, [Rogério Silva]. Ibid., (1953b), Horta, 1 de Setembro [Rogério Silva]. Ibid., (1953c), Horta, 16 de Setembro [Rogério Silva]. Yasharoff, N. J. (1978), [notícia sem título]. Horizontes USA, Jan./Fev. Fragmentos.