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Sé (edifício) A de Angra,

Construída na segunda metade do século XVI, é um dos edifícios mais destacados do maneirismo português, também conhecido por arquitectura chã. É uma igreja de três naves com desenho geométrico puro, mas com reminiscências medievais e elementos romanos. A capela-mor é um exemplar único.

Desde a criação da diocese de Angra, em 1534, que os bispos começaram a insistir com a coroa para se construir um edifício de raiz para instalar a Sé, em substituição da primitiva igreja de São Salvador. Em 1557, o Senado da Câmara de Angra insistia uma vez mais para que se construísse a Sé, pedindo contudo que a cidade fosse isenta de imposto especial para esse fim. Em 1568 (10 de Janeiro), o Cardeal Henrique como regente, despachou favoravelmente esta petição mandando construir a Sé de Angra como despesa da Fazenda Real. O primeiro mestre de obras foi Luís Gonçalves Cota, a quem a tradição atribui a autoria da traça da Sé, mas é provável que a planta tenha antes sido da autoria de um arquitecto régio, como aventou entre outros Mateus Laranjeira.

A primeira pedra foi lançada a 18 de Novembro de 1570 e o terreno escolhido era o da velha igreja de São Salvador e outros anexos sendo o principal doado por Estêvão Cerveira. Foi polémica e indecisa no início a orientação do edifício, que acabou por ficar com a frente para a rua principal depois dita da Sé.

Em 1572 (alvará de 8 de Julho) foram introduzidas alterações na traça da igreja.

As obras pararam (1582) durante as lutas da sucessão entre D. António, prior do Crato, e Filipe II. Contudo, como não fora desmantelada a Sé velha continuou esta a servir. Foram recomeçadas em 1590, mas com outras prioridades, como a construção da fortaleza de São Filipe e a diminuição da receita do pastel, de onde saía a verba para a obra, esta foi retardada e manteve-se até 1618 quando a parte da pedraria e a alvenaria foi dada por concluída.

As obras de decoração interior prolongaram-se pelo século XVII e só a 16 de Março de 1683 o lugar de mestre-de-obras da Sé foi extinto, tendo o total da obra ascendido a mais de 230.000 cruzados.

Durante o século XVIII foi construída a sacristia grande e a sala do Tribunal Eclesiástico.

O sismo de 1 de Janeiro de 1980 danificou profundamente o edifício, tendo-se desmoronado, quando se iniciaram as obras de recuperação, uma das torres e, posteriormente, a 23 de Setembro de 1983, um incêndio, de fogo posto por um pirómano, destruiu a cobertura e a decoração interior da Sé.

O governo regional classificou a Sé de Angra como monumento regional a 11 de Junho de 1980 e decidiu suportar os custos da sua recuperação. As obras duraram até 1985 e foi reaberta ao público a 3 de Novembro desse ano.

A Santa Sé do Salvador situa-se no centro da cidade com o frontispício voltado a Norte desenvolvendo-se o corpo da igreja para sul, onde se encontra a capela-mor e as sacristias. Ocupa todo o quarteirão, com um largo adro na frente e nos dois lados. Nas traseiras existia desde o início do século XVII uma claustra, que serviu no século XIX de cemitério, pelo qual se tinha acesso à sala do Tribunal Eclesiástico. A claustra desapareceu nos meados do século XX, dando origem ao arranjo urbanístico hoje existente na frente virada à Rua da Rosa.

A fachada apresenta duas torres que flanqueiam o corpo central formado por quatro pisos demarcados por cornijas. O piso térreo apresenta uma galilé com tripla arcaria. As torres têm lugar para 32 sinos e são coroadas por coruchéus revestidos de azulejos e em cujos vértices estão os cata-ventos.

Ao nível do terceiro piso existe entre as torres uma varanda que na segunda metade do século XVIII foi substituída por um corpo central para colocar o relógio (1782).

A entrada no templo faz-se pela galilé e por três portas que dão acesso à nave central. É de planta basilical e as naves têm de comprimento quarenta e dois metros, tendo a central onze metros de largura e as laterais quatro e meio. A arcaria que separa as naves é composta de 7 arcos de volta perfeita assentes em pilares toscanos com oito metros de altura, de secção quadrada e de cerca de um metro de lado.

A nave central apresenta uma larga cornija e sobre esta uma outra com espaço de dois metros, que suporta o tecto. Nos topos o espaço entre as duas cornijas é ocupado por janelões, dois em cada topo. A cobertura elevada a dezasseis metros e meio de altura é constituída por caixotes de madeira oitavados de decoradas com florões. As coberturas laterais com 13 metros de altura são de tabuado simples pintados de branco.

O pavimento de todo o edifício é lajeado, mas no século XIX havia sido sobradado. Nele existem várias sepulturas assinaladas. A iluminação faz-se por catorze janelas ao longo das naves laterais nos vãos dos arcos.

Tem um coro baixo em frente à capela-mor, onde antes do incêndio existiu um cadeiral de madeira e hoje é ocupado pelo altar-mor.

A capela-mor, o elemento mais interessante deste edifício, ocupa a largura da nave central. O arco triunfal tem onze metros de altura a partir do coro baixo. No seu centro estão as armas reais sobrepostas à Cruz de Cristo.

A circundar a capela-mor encontra-se um deambulatório com cerca de dois metros de largura. A capela-mor propriamente dita é sobrelevada e a ela se acede por degraus a partir do coro baixo. O seu espaço é delimitado por colunas jónicas. No deambulatório existem três altares e as portas de acesso às sacristias, a grande do lado do Evangelho e a dos cónegos do lado da Epístola. Nas naves laterais existem capelas no topo de cada uma, a do Santíssimo Sacramento no lado do Evangelho e mais duas em cada lado, seguidas de dois outros altares.

As capelas axiais têm uma profundidade de dois metros e meio por quatro metros e meio, sendo os vãos dos arcos de entrada de três metros e meio. Todas as capelas apresentam abóbadas artesuadas. No tramo seguinte aos altares abrem-se duas portas travessas.

Nas bases das torres fica, do lado do Evangelho, o baptistério e no da Epístola, a escada de acesso ao coro alto e às sineiras. O coro alto situa-se no topo da nave central sobre a galilé e abre-se para a nave por um lógia interior formada por três arcos. Esse espaço hoje é ocupado pelo monumental órgão de tubos construído com alguns elementos dos antigos órgãos destruídos pelo incêndio e com muitos elementos novos, pelo organeiro açoriano Dinarte Machado.

A Sé tem quatro sacristias. A maior foi construída no século XVIII com acesso pelo deambulatório com uma antecâmara formada pela antiga sacristia mais pequena. Tem um altar rasgado em arco e a iluminação é feita por seis janelas, duas em cada face da sala. Existem dois arcazes de jacarandá para guardar paramentos e nas paredes uma galeria dos bispos da diocese.

As outras três sacristias são em paralelo à do lado do Evangelho, dita dos cónegos e duas outras anexas as segundas capelas laterais, uma da irmandade do Santíssimo Sacramento e outra da Confraria de São Pedro Ad Vincula, sendo ambas adoçadas ao edifício com acesso pelo adro lateral.

Toda a decoração em talha dourada das capelas da Sé foi destruída pelo incêndio de 1983, mas escaparam as imagens, as grades de jacarandá e as pinturas. J. G. Reis Leite

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