Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Santa Maria (ilha de)

Localização geográfica A ilha de Santa Maria, situa-se no Grupo Oriental, localizado no extremo sudeste (SE) do arquipélago dos Açores. A ilha mais próxima é a de São Miguel a nor-noroeste (NNW) distando cerca de 100 Km, e é a ilha mais próxima de Portugal continental do qual dista 1450 Km (Cabo da Roca). A sua localização absoluta é entre os 36º 54? e 37º 01? de latitude norte e entre 25º 00? e 25º 11? de longitude oeste. Mário Rui Leal

 

Geografia Física Com uma superfície total de 97,18 km², representando 4,2% da área total do arquipélago, e uma configuração ligeiramente elíptica, a ilha de Santa Maria tem um comprimento de aproximadamente 17 km e uma largura máxima, medida na perpendicular ao eixo de maior comprimento, de cerca de 9,5 km. A linha de costa, com 63,4 Km, apresenta-se com declives acentuados e abruptos formando imponentes arribas de origem vulcânica, que podem variar entre os 50 m e os 100 m, sulcadas por linhas de água e ribeiras, suavizadas em algumas baías ou reentrâncias, pela erosão provocada pelos diferentes agentes erosivos, formando uma costa baixa e arenosa com praias bastante encaixadas em amplas baias, como são exemplo a Praia Formosa e São Lourenço. Ao longo da costa existem numerosas «pontas»: Ponta do Marvão, Ponta do Castelo e Ponta do Norte e alguns ilhéus e rochedos de onde se destacam o ilhéu de São Lourenço, o ilhéu da Vila e o ilhéu das Lagoínhas. A acessibilidade ao mar coloca algumas dificuldades, principalmente nos troços de arriba alta e escarpada. Existem baías algumas delas ocupadas por pequenos portos de pesca e de recreio e por um porto comercial e de passageiros, localizado em Vila do Porto.

A ilha de Santa Maria apresenta uma orografia pouco acidentada, com apenas 0,2 % da sua área acima dos 500 m, distinguindo-se duas grandes regiões de relevo, uma aplanada a ocidente com altitudes que oscilam entre os 50 m e os 200 m, que contrasta com outra mais acidentada na região oriental, divididas por um alinhamento montanhoso com orientação de sor-noroeste (NNW) para su-sueste (SSE) que se alonga entre a zona das Lagoínhas até à zona da Glória, atingindo a maior altitude no Pico Alto (587 m).

Santa Maria, sobretudo a oeste tem condições climáticas um pouco distintas das restantes ilhas. O Anticiclone dos Açores, a latitude e as condições do relevo influenciam o clima temperado da ilha, com invernos amenos e chuvosos e verões relativamente quentes. A sua localização mais meridional que as restantes ilhas e as características do relevo levam a que se possam identificar dois tipos de clima temperado, um Mediterrânico de feição marítima, com meses secos, na região ocidental e outro Oceânico ou Marítimo, na oriental. A temperatura média anual varia entre cerca de 17,5ºC (Aeroporto) e 14,3ºC (Fontinhas, a 430 m), a amplitude térmica anual anda à volta dos 5,3ºC (Aeroporto) e 4ºC (Fontinhas). Os valores anuais de precipitação aumentam com a altitude sendo tendencialmente mais elevados na parte oriental que na ocidental, registando-se no Inverno, valores máximos entre 189 mm (Fontinhas, em Dezembro) e 101 mm (Aeroporto, em Janeiro), e mínimos entre 45 mm (Fontinhas, em Junho) e 26 mm (Aeroporto, em Julho)

Ao longo dos séculos, a vegetação natural degradou-se progressivamente sendo a actividade antrópica o factor que mais condiciona a sua distribuição, não obstante os factores físicos, como o clima e o relevo. Na zona ocidental em que as formas do relevo são menos acidentadas, e o clima mais seco, a vegetação é menos densa, rasteira e arbustiva e muito excepcionalmente apresenta vegetação endémica. Na zona oriental da ilha onde o relevo se apresenta mais acidentado e com altitudes superiores e o clima é mais húmido, a vegetação é menos esparsa com um porte arbóreo considerável em que encontramos algumas espécies primitivas, como a urze, Erica azorica (Ericaceae), o pau branco, Picconia azorica (Oleaceae), a faia, Myrica faya (Myricaceae) e o louro-da-terra, Laurus azorica (Lauraceae) e espécies introduzidas como alguns pinheiros bravos, Pinus pinaster (Pinaceae), acácias, Acacia melanoxylon (Fabaceae), eucaliptos, Eucalyptus globulus (Mirtaceae), criptomérias, Cryptomeria japónica (Taxodiaceae) e incenso ou areias (nome dado pelos locais) Pittosporum undulatum (Pittosporaceae). Nas regiões costeiras expostas a sul e de solos pobres desenvolvem-se plantas xérofilas, como uma espécie de cactos conhecida por «toneiros», existente em abundância e que se propaga com grande facilidade, devido a encontrar aí condições naturais ideais. Mário Rui Leal

 

Geografia Humana A ocupação e a organização do espaço na ilha, quer ao nível das actividades económicas, quer na distribuição dos aglomerados populacionais e sua evolução demográfica, foi desde sempre condicionada pelo clima e pelo relevo.

A ilha de Santa Maria, a primeira do arquipélago a ser povoada, apresenta um povoamento com um padrão misto, pequenos núcleos edificados alternam com a presença de pequenas faixas de ocupação do tipo aglomerado-linear, organizada ao longo da rede viária, e povoamento disperso entre as explorações agrícolas. O principal e mais antigo centro urbano, sede de concelho, encontra-se em Vila do Porto e é constituído administrativamente por cinco freguesias: Almagreira, Santa Bárbara, Santo Espírito, São Pedro e Vila do Porto.

A população de Santa Maria cresceu sempre a um ritmo relativamente constante até 1864, data do primeiro recenseamento geral da população devidamente organizado, em que contava com 5 863 indivíduos (Censo de 1864). A partir dessa data e até ao final da década de cinquenta do século XX, a evolução da população absoluta na ilha foi no sentido do seu crescimento positivo, a um ritmo relativamente acelerado que culminou em 1960 com um pico demográfico de (13 233 indivíduos), verificando-se um acréscimo populacional superior a 100% neste período. A partir da década de sessenta há um processo de progressiva desvitalização demográfica e em 2005 já só contava com 5 524 indivíduos, valores idênticos, mas inferiores aos do final do século XIX.

A Taxa de Crescimento Efectivo é positiva em 2005 (0,24 %), embora apresente valores muito reduzidos e a população tenha decrescido nos últimos anos.

De acordo com o Anuário Estatístico da Região Autónoma dos Açores (SREA, 2005), a população total a essa data era de 5 524 indivíduos, 2,3 % da população açoriana, o que representa um decréscimo de 54 habitantes relativamente a 2001 em que, segundo o XIV Recenseamento Geral da População (INE, 2002), a população total era de 5 578 indivíduos.

A evolução de densidade populacional tem sido complexa, devido as variações populacionais a que a ilha esteve sujeita, variou entre 60,3 hab/km2 em 1864, 136,3 hab/km2 em 1960 e 56,8 hab/km2 em 2005, sendo a quarta maior densidade do arquipélago, logo de pois das ilhas de São Miguel, Terceira e Faial.

A estrutura etária denota o progressivo envelhecimento da população, apresentando em 2005 mais de metade da população, ou seja, 52,5% da população com idades compreendidas entre 25 e 64 anos, contra 35% de jovens com idades entre 0 e 24 anos, e cerca de 17,2 % de idosos.

O Índice de Envelhecimento que tinha mais que duplicado no período de 1950 a 1981, no período de 1981 a 2001 passando de 37% para 66,7%, o que significa que por cada 100 jovens (0-14 anos) existem cerca de 66,7 habitantes com 65 ou mais anos.

Os principais núcleos populacionais contam com equipamentos, de saúde, segurança, ensino, cultura, desporto e lazer.

No que diz respeito ao sistema de transportes, o rodoviário é o principal meio utilizado a nível interno servido por uma rede relativamente densa, condicionada pelo tipo de povoamento antigo, mas de fraca qualidade, composta pelas estradas regionais, municipais, caminhos municipais e de penetração para acesso às explorações agrícolas e locais de interesse turístico, permitindo chegar a muitos pontos da ilha. A cobertura por transportes públicos de passageiros tem pouco significado, apenas tendo algum no transporte de estudantes. Os serviços de táxis são uma alternativa.

A rede de transportes com o exterior é composta pelo porto de mercadorias e de passageiros de Vila do Porto e pelo aeroporto. Os transportes marítimos de mercadorias assumem muita importância na economia local, porque asseguram o abastecimento do comércio local; o transporte de passageiros realiza-se apenas durante os meses estivais dando origem a um forte fluxo de turistas da ilha de São Miguel, devido à sua proximidade, contribuindo de forma relevante para o comércio local. O transporte aéreo é o principal recurso dos passageiros para deslocações inter-ilhas e para Portugal Peninsular.

A agro-pecuária é a actividade predominante do sector primário, a existência de solos férteis e de um clima favorável às pastagens, que ocupam a maior parte da superfície agrícola, com extensões e formatos diversos consoante as características do relevo, permitindo garantir um efectivo de 5000 cabeças de gado bovino para abate. A criação de gado ovino é também uma actividade a ter em conta (300 cabeças), tendo substituído em parte a produção de cereais, que teve muita importância até aos anos sessenta, sendo hoje uma actividade em forte decréscimo e de subsistência. Nas últimas décadas tem-se assistido a uma diminuição da superfície ocupada por culturas agrícolas e à sua substituição por pastagens.

A pesca artesanal é também uma actividade importante do sector primário, desenvolvendo-se, sobretudo, nos meses de Verão, a produtividade é aceitável, consumida na ilha e exportada. A actividade piscatória assume um peso decisivo no sustento de algumas famílias locais.

O sector secundário de actividade não tem uma representação significativa na economia mariense e indústria transformadora assume um peso reduzido no contexto da economia local, embora no passado tenha tido uma importância relevante no que diz respeito à industria cerâmica, conserveira e baleeira. Actualmente a indústria extractiva, ligada à extracção de inertes para a construção civil é aquela que melhor persiste.

Santa Maria apresenta um elevado grau de terciarização, com mais de metade da sua população activa ligada à prestação de serviços, com especial significância do peso da administração pública, dos sectores da saúde, da educação e dos transportes aéreos. Ainda no sector terciário destacam-se as actividades do comércio, dos transportes e comunicações, as actividades imobiliárias e as actividades turísticas, embora estas ainda não assumam um papel de relevância no contexto da criação de emprego. De salientar que a expansão dos serviços não se fez acompanhar de um crescimento da produtividade nos sectores de actividade primário e secundário.

O turismo é uma actividade que começa a estar em desenvolvimento e é visto como o pilar estratégico da diversificação da base económica, a oferta de alojamento é satisfatória, existindo, segundo o Serviço Regional de Estatística dos Açores (2006), Séries Estatísticas 1994/2004, quatro unidades de hotelaria tradicional, três de turismo em espaço rural, também um parque de campismo e algumas residências particulares que alugam quartos. A ilha tem, segundo o Anuário Estatístico da Região Autónoma dos Açores (2005) capacidade para albergar 348 visitantes. Serviços de apoio aos visitantes, estabelecimentos de restauração, cultura, aluguer de viaturas, animação turística, entre outros, podem ser encontrados em redor da ilha principalmente nas sedes de concelho.

A taxa de actividade aumentou na década de 90, passando de 36,4%, em 1991, para 42,5, em 2001, a taxa de desemprego aumentou de 1,9%, em 1991, para 8,4%, em 2001.

O nível de instrução da população é baixo, mas tem vindo a melhorar significativamente. Para uma população que em 1981 tinha uma taxa de analfabetismo muito elevada, de 21,5%, em 2001, 38,3% dos habitantes completou o 1.º ciclo do ensino básico e a taxa de analfabetismo era de 10,0 %. Da restante população, 13,7 % detém o 2.º ciclo do ensino básico, 11,8 % o 3.º ciclo do ensino básico, 14,0 % possuem o ensino secundário e apenas 6,1 % possuem o ensino superior, valor superior à média regional (5,2%). Mário Rui Leal

Bibl. França, Z.; Cruz, J. V.; Nunes, J. C.; Forjaz, V. H. (2005), Geologia dos Açores: Uma perspectiva actual. Ponta Delgada, Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores. Instituto Nacional de Estatística (2002), XIV Recenseamento Geral da População. Lisboa, Instituto Nacional de Estatística. Serviço Regional de Estatística dos Açores (2006), Anuário Estatístico da Região Autónoma dos Açores. Ponta Delgada. Serviço Regional de Estatística dos Açores (2006), Séries Estatísticas 1994/2004. Ponta Delgada.