Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Santa Cruz das Flores (concelho)

Urbanismo A vila de Santa Cruz das Flores exibe o carácter mais urbano de todos os povoados da ilha das Flores ? enquanto a Ponta da Fajã corresponde a uma simples «povoação-rua», as Lajes se exprimem de uma forma curvilínea, espraiada e orgânica, e Ponta Delgada apresenta uma estrutura algo incipiente, proto-urbana.

Por outro lado, o tipo de estrutura ou de tecido urbano que Santa Cruz exibe é formalmente original, único mesmo no contexto dos Açores e da Macaronésia em geral: trata-se de uma estrutura de planta «em tesoura», cruzada, bi-linear.

Em termos gerais, poderíamos à partida incluí-la no modelo mais simples, de tipo linear, das ilhas: «[o povoado] é muito frequentemente disposto perpendicularmente à costa (Machico e Ribeira Brava, na Madeira, Vila do Porto e Povoação, nos Açores, Ribeira Grande de Santiago de Cabo Verde) seguindo o correr normal de uma ribeira; ou então ao longo do litoral, em plataforma ligeiramente sobrelevada (Calheta de São Jorge, Lajes do Pico, Horta do Faial/1a. fase, Santa Cruz da Madeira); certos tipos especiais de estrutura podem considerar-se combinações destes dois tipos de implantação (Santa Cruz das Flores e da Graciosa)» (in Fernandes, 1996: 138-139).

Segundo a análise cartográfica efectuada na obra aqui referida (Fernandes, 1996: 139, fig. 58), poderia ser apresentada a seguinte interpretação da malha urbana de Santa Cruz das Flores e da sua evolução: as duas ruas definidas pela ligação entre o cais do lado sul e o antigo Convento Franciscano (a ocidente), passando pela fachada da Matriz, corresponderiam ao traçado inicial do núcleo. São arruamentos de desenho aproximadamente recto, orientados no sentido nascente-poente, que convergem ambos para a estrada que dá ligação aos sectores norte e sul da ilha (e desembocando um deles no larguinho central da vila, com o Império).

Mais tarde, e talvez devido à possibilidade da povoação utilizar um outro cais, do lado norte, estabelecendo-se melhor articulação viária com ele, terão sido traçados os dois outros arruamentos, no sentido aproximado de nordeste-sudoeste, que convergem para o mesmo núcleo central do povoado ? acabando assim por se definir um desenho invulgar, o de dois sistemas lineares fazendo entre si um ângulo agudo. Este traçado já se encontrava bem definido em 1820, segundo o documento cartográfico do Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Militar n.º 1190, referenciado e publicado na Arquitectura Popular dos Açores (2000: 486).

A Arquitectura Popular dos Açores (2000: 487) refere sobre o tema: «A Vila de Santa Cruz, instalada numa plataforma litoral, apresenta um nítido traçado planeado, desenhando uma planta em forma de V: os dois braços, cada um constituído por dois arruamentos paralelos, ligam ao centro os dois cais que servem a vila. Este centro é, por sua vez, simultaneamente âmago, com o jardim, a Câmara e as casas principais, e periferia, com o antigo convento franciscano a poente. Articulava-se com uma via de ligação aos outros povoados (hoje desfigurada pela implantação do aeroporto) que o rematava. O esquema em duplo V gera três intersecções de arruamentos que fazem esquinas em ângulo agudo de efeito perspéctico insólito. No espaço entre os dois braços principais ergeu-se a Matriz, hoje virada de costas ao Corvo (o edifício actual foi construído em finais do século XVIII), mas anteriormente noutra posição, porventura com a fachada a poente, dando, portanto, melhor sentido à junção das duas ruas internas à malha referida. ?É vila muito chã e bem arruada?, diz Gaspar Frutuoso (1580-90). Referir-se-ia a esta malha? As ruas hoje existentes eram já descritas por Frei Diogo das Chagas em meados do século seguinte (1640-45), e conhece-se cartografia de Oitocentos que regista uma malha idêntica à que actualmente se vê».

O crescimento mais recente da vila incide naturalmente nos terrenos disponíveis e planos que envolvem o aeroporto: «A tendência actual é de expansão em malha ortogonal para norte, no terreno deixado livre pelo aeroporto, bem como para a densificação do núcleo existente, pelo preenchimento da área entre eixos através da construção de equipamentos.» (Arquitectura Popular dos Açores, 2000: 487). José Manuel Fernandes

 

Arquitectura Na singela vila de Santa Cruz, podemos destacar alguns monumentos. É o caso da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a matriz de Santa Cruz, começada a construir em 1859, e que é uma das mais imponentes do arquipélago, dada a sua escala, relativamente à ilha e à singela povoação onde se insere. Isto sobretudo pela dimensão e grandiosidade da fachada, ladeada de duas torres, culminadas estas com cúpulas bolbosas. No interior, pode salientar-se a capela-mor, com um altar também grandioso.

A Igreja de São Boaventura, inserida no antigo convento franciscano, (que é hoje um museu regional), foi erigida por volta de 1641. Exibe uma frontaria singela, de gosto «chão», com as duas cripo-torres embebidas na silhueta da fachada aquadradada ? e cujo térreo apresenta os tradicionais três arcos da ordem franciscana; o claustro é de boas proporções, simples no desenho das arcarias térreas, de volta redonda; o interior da nave da igreja contém um altar assinalável, em talha de influência dita hispano-mexicana. O tecto abobadado da igreja é em cedro, pintado com motivos vegetalistas e figuras alegóricas.

Assinale-se ainda o edifício do Museu Etnográfico, sito numa casa térrea, junto ao largo principal, no arranque da rua que leva à frontaria da matriz, que exibe no seu interior diversos temas representativos da habitação rural tradicional da ilha, como o forno, a «copeira», etc.

É de destacar a fachada de «Império» (inserível no tipo de «império-casa» tradicional na ilha, em que o edifício do «Império» se assemelha muito a uma vulgar casa de habitação linear, térrea), que se situa no largo central da povoação, e apresenta elementos decorativos em relevo, como o frontão, o escudo real, as formas simbólicas (roseta sexifólia) e a data de 1854.

Refira-se ainda a existência de uma «casa de vila» característica, de dois pisos, com série de janelas de sacada na frontaria, munidas com guardas em ferro forjado, e com uma protecção por reixas de madeira nas duas janelas de sacada laterais e ainda nos alçados traseiros (cf. Arquivo Popular dos Açores, levantamento de 1983).

Na malha interna da vila, o edifício dos Correios, de gaveto, modesto nas suas dimensões, é característico da chamada «Arquitectura do Estado Novo» dos meados do século XX: de tipo neo-tradicional, com elementos decorativos em pedra ornando a fachada, como o arco redondo definindo o alpendre da entrada.

O conjunto de arquitectura moderna mais relevante em Santa Cruz será sem dúvida o do chamado «Bairro dos Franceses», inaugurado em 1966, para servir os técnicos daquele país destacados para observações astronómicas nesta ilha, e formado por uma série de construções em que se realça o chamado «Hotel». Todo o conjunto, de expressão simples e funcional, valoriza-se sobretudo pela sua localização litoral, junto às piscinas naturais, entre rochas, que aqui servem a povoação.

Fora de Santa Cruz, podemos ainda mencionar algumas das igrejas locais, como a de Ponta Delgada, e o farol da Ponta do Albarnaz, na ponta noroeste da ilha, a seguir a Ponta Delgada. Construído em 1925, num desenho modesto, de forma cilíndrica, de feição tardo-oitocentista, inclui também um edifício anexo térreo, ornado de platibanda. José Manuel Fernandes

 

História Fica situado na parte norte da ilha das Flores, diocese de Angra, com quatro freguesias, *Caveira, *Cedros, *Ponta Delgada e *Santa Cruz, tendo uma população de 2.417 habitantes, 850 famílias e 1.001 edifícios (Censos de 2001). Fez parte do antigo Distrito da Horta, antes da autonomia político-administrativa de 1976, do qual passou a depender a partir de 1822, depois de ter estado sob o domínio de Angra, ilha Terceira.

O feriado municipal do concelho é no dia 24 de Junho, coincidente com a festa de S. João que ali se realiza com evidência concelhia ou municipal há largos anos.

Os limites do concelho situam-se ao sul pela Ribeira da Silva e pela Ribeira das Casas, entre as respectivas nascentes, com passagem pela Fonte do Frade, excepto abaixo da Rocha da Fajã onde a parte norte e interior desta localidade corresponde à sua limitação, conforme consta das matrizes prediais e referem os antigos, nomeadamente o padre José António *Camões (Camões, 2006: 80). Todavia, por falta de acordo entre os respectivos concelhos da ilha, não houve homologação judicial desses limites, relativamente à zona dos baldios, quando as respectivas câmaras municipais procuraram entender-se sobre o assunto (Gomes, 2003: 671-675). O lugar da Ponta da Fajã chegou a pertencer ao concelho de Santa Cruz, integrando a paróquia de Ponta Delgada, tal como a Caveira chegou a fazer parte da paróquia da Lomba, do concelho das Lajes. Entre 1895 e 1898 os concelhos das Lajes e do Corvo chegaram a integrar o concelho de Santa Cruz, por terem estado temporariamente suspensos, reposição essa que foi aprovada por diploma de 13 de Janeiro de 1898 (Gomes, 2003: 675-676).

Embora não haja unanimidade sobre se foi pelo sul ou se pelo norte que se iniciou o povoamento da ilha, aí por volta de 1469, sabe-se que pela Ribeira da Cruz terá entrado Guilherme da Silveira, proveniente da ilha do Faial e que os primeiros habitantes terão ocupado inicialmente Fajãs, como conclui Francisco António Gomes (Gomes, 2003: 41-47).

A vila de Santa Cruz, sede do respectivo concelho, que terá sido a segunda a ser criada na ilha, fica essencialmente situada à beira mar, numa extensa e pitoresca planície da parte és-nordeste das Flores, servida por arruamentos de aspecto citadino tradicional que muito a favorecem. Confrontando a nascente, sul e norte com o mar, pelo poente sobressai, a seguir à pista do aeroporto, Monte das Cruzes, que o historiador florentino, Frei Diogo das *Chagas, afirma que ali, no seu tempo, era o Monte Calvário, em face da sua semelhança com o local onde os judeus crucificaram Jesus Cristo (Chagas, 1989: 536). Já em 1717 seria o principal centro populacional da ilha e manteve, a partir de então, essa supremacia, tendo sido nela instalados, para além dos adequados serviços concelhios, diversos serviços a nível da ilha e, em certos casos, extensivos à vizinha ilha do Corvo (Gomes, 2003: 105-106). Destes serviços, salienta-se que ali existem o Tribunal Judicial, a Delegação de Obras Públicas, a Delegação Marítima, o Hospital ou Serviços de Saúde, os Serviços Florestais, a Escola Secundária, o aeroporto, o museu, a fábrica de lacticínios, o Posto Fiscal da GNR e o matadouro.

A concentração dos serviços e do poder político em Santa Cruz das Flores verificou-se a partir daquela data e, nomeadamente, de 1767, com a colocação ali do primeiro juiz de fora e dos serviços da Alfândega (Gomes, 2003: 330). A respectiva comarca, com jurisdição extensiva aos concelhos de Lajes das Flores e do Corvo, ao que se sabe, foi criada por alvará de 2 de Agosto de 1766 (Gomes, 2003: 334).

A população do concelho vive essencialmente da produção agro-pecuária, dos serviços e da pesca. A agro-pecuária, que tem sido intensificada a partir da década de 1960, em face da emigração para os Estados Unidos da América e Canadá e da globalização da economia mundial, substitui as antigas culturas agrícolas do milho, trigo, batatas-doces e brancas, inhames, feijão, couves e outras hortaliças, que durante séculos foram a base económica essencial das populações locais, culturas estas que, progressivamente, estão a cair em desuso. Com o movimento cooperativo instituído pelo padre José Furtado Mota em 1917 e 1918, foram então criadas cooperativas de lacticínios em Santa Cruz, Ponta Delgada e Cedros, tendo as primeiras duas integrado a União das Cooperativas da Ilha das Flores, instituída na década de 1990, cuja sede e fábrica fica situada no lugar dos Vales, em Santa Cruz, onde foi inaugurada em Novembro de 1994 e que se mantém a produzir queijo de leite de vaca (Trigueiro, 2003: 41-59). Nos serviços, os maiores empregadores são os serviços e empresas públicas, os quais, na sua grande maioria, se situam no concelho. A pesca, embora em decadência acentuada, devido a serem poucos os que a praticam, certamente influenciados pela menor rentabilidade e pela reduzida população existente, ainda tem algum significado económico. Difere, contudo, bastante dos tempos áureos da sua existência, sobretudo quando a mesma era complementada com a agricultura e com a caça à baleia, caça esta que no concelho foi exercida em larga escala desde a primeira metade do século XIX e até à década de 1980. O investigador Jacob Tomaz afirmava que tinha sido ali que havia sido constituída a primeira armação baleeira açoriana, beneficiando do intercâmbio que naquele século a ilha das Flores tinha com as baleeiras americanas que por ali passavam e se abasteciam de meios humanos e materiais. Era a primeira ilha que encontravam depois da saída do continente americano e a última que tinham no regresso a esse continente. Efectivamente, muitos foram os florentinos que se serviram dessa passagem para emigrarem para os Estados Unidos da América, tendo vários deles ascendendo a elevados cargos na marinha mercante americana, depois de terem passado largos anos naquelas baleeiras onde aprenderam a língua e a arte de navegar. Toda a história da baleação, quer das ilhas açorianas, quer dos diversos portos baleeiros desse país, demonstra a grande envolvência dos florentinos na respectiva faina, tal como se verifica nos livros que João António Gomes *Vieira e David E. Bretão editaram sobre o assunto recentemente (2006).

No concelho de Santa Cruz ficou instalada a sede, bem como as principais instalações, dos Serviços Florestais, no tempo dependentes do Ministério da Agricultura, que, a partir de 16 de Abril de 1964, passaram a administrar os baldios da ilha. Até então estes eram administrados pelas populações locais que neles mantinham gado ovino para a produção de lã, gado bovino para carne e leite e até suínos. Situados na parte interior da ilha, com cerca de 6.500 hectares de terrenos, que se estendem pelos dois concelhos de Santa Cruz e das Lajes, esses Serviços, no cumprimento do Decreto-Lei n.º 44.609, de 1962, fizeram arroteias, plantações de arvoredo e estradas interiores que valorizaram significativamente a agro-pecuária florentina (Trigueiro, 2003: 215-221). Anteriormente, quando as populações administravam os baldios, estes constituíam um complemento económico importante para a ilha, com destaque para o aproveitamento da lã. Com ela as florentinas faziam nos seus teares caseiros tecidos que serviam para roupas de cama e de vestuário, bem como, em agulhas manuais, camisolas, vestidos, meias e outros agasalhos. A lã que sobrava era vendida para outras ilhas, o mesmo acontecendo com os tecidos. Durante o Verão, nas pastagens dos baldios era colocado gado bovino e porcino dos lavradores, os quais possuíam sinais próprios registados nas respectivas câmaras municipais.

Com base no Acordo Luso-Francês, assinado pelos governos de Portugal e da França em 1964, graças à sensibilidade política do então governador civil da Horta, Dr. António de Freitas *Pimentel, também ele um florentino nascido na Fazenda das Lajes, os franceses instalaram no concelho uma Estação de Telemedidas para a correcção de satélites. Com esse acordo a ilha passou então por um acentuado surto de desenvolvimento que muito contribuiu para a retirar do atraso ancestral em que a mesma se encontrava, beneficiando, sobretudo, o concelho de Santa Cruz. Por esse acordo ter propiciado a Portugal contrapartidas financeira e apoios políticos e militares importantes e por ser uma exigência da França, construiu-se o aeroporto e o hospital das Flores, electrificou-se a ilha, fez-se a estrada de acesso à freguesia de Ponta Delgada e beneficiou-se o porto velho da vila de Santa Cruz, infra-estruturas estas que eram indispensáveis ao bom funcionamento daquela Estação. As instalações da Station Francaise de Mesure das Flores eram constituídas por duas partes: o sector administrativo e residencial, que se situava dentro da vila de Santa Cruz, onde se instalou cerca de uma centena de franceses, constituídos essencialmente por técnicos militares e suas famílias; o sector operacional, situado nos matos da freguesia de Ponta Delgada, onde foram instalados os serviços técnicos. Os franceses retiraram a sua Estação de Telemedidas da ilha em 1993, em virtude da mesma ter sido considerada tecnicamente ultrapassada (Trigueiro, 2003: 223-228). Hoje os edifícios que serviram de habitações e de instalação dos serviços daquela estação, que pertenciam ao Estado Português, são essencialmente propriedade de diversas entidades públicas e privadas da ilha.

Situado nas proximidades da vila de Santa Cruz, o aeroporto das Flores, que fora construído essencialmente para servir os aviões franceses daquela Estação, a partir do 25 de Abril de 1974, por exigência das populações locais, foi aberto ao transporte aéreo de passageiros, através da SATA. Mais tarde, já com a instituição da autonomia político-administrativa de 1976, o Governo Regional dos Açores construiu a aerogare e, anos depois, procedeu a uma grande ampliação e beneficiação da pista, ampliação essa que acabaria por alterar profundamente a estrutura e arruamentos da vila, e que foi inaugurada em 1992 (Trigueiro, 2000: 270). A referida aerogare foi já ampliada em 2006.

A electrificação da ilha, cuja Central Hidroeléctrica, denominada «Eng.º Arantes e Oliveira», foi edificada na Ribeira de Além, com o aproveitamento das suas águas, no lugar da Fazenda, nos arredores da vila de Santa Cruz, fez-se em 1966 e chegou logo a todas as localidades da ilha no ano seguinte. A partir de então tem passado por várias beneficiações. No tempo da sua instalação, a ilha das Flores era a única ilha do arquipélago que já tinha energia eléctrica em todas as localidades, situação que se devia, sobretudo, à existência da estação francesa atrás referida e ao facto de ali haver grande abundância de água. Face ao consumo ter aumentado, hoje está reforçada com energia térmica, e foi integrada na EDA Essa electrificação veio substituir a antiga rede eléctrica de origem térmica, instalada em 1945/1947, que funcionava apenas na vila, desde o anoitecer até às 23 horas (Gomes, 2003: 565).

Graças à secular existência da Santa Casa da Misericórdia da Ilha das Flores, cuja sede foi logo instalada em Santa Cruz, o Hospital das Flores, que data do século XIX, funcionou até meados da década de 1960 no convento de S. Boaventura, que ali fora criado e edificado na década de 1640 (Gomes, 2003: 127. Com a chegada da citada estação francesa à ilha, foi edificado ao lado novo estabelecimento hospitalar ? o Hospital das Flores ? onde passaram a funcionar, lado a lado, médicos e enfermeiros portugueses e franceses, servindo toda a população da ilha. É nesse estabelecimento que hoje se encontram instalados os Serviços de Saúde da Ilha.

Na sequência da criação do Externato Nossa Senhora da Conceição, que em 1959 havia iniciado no concelho o ensino secundário sob a égide da Diocese de Angra, foi instituído em meados da década de 1970 o ensino oficial, que deu lugar à Escola Básica Integrada Padre Maurício António de Freitas, cujo estabelecimento de ensino então edificado de novo passou por diversas ampliações e que recebe jovens de toda a ilha (Trigueiro, 2003: 207-217).

No antigo convento de S. Boaventura foi instalado o Museu da Ilha das Flores, inaugurado em 11 de Novembro de 1993, onde se encontram os principais equipamentos históricos da ilha, em cuja recolha se empenhou essencialmente o florentino João António Gomes Vieira e o médico daquela estação francesa Dr. George Guillon (Trigueiro, 2000: 288). Ligado ao mesmo existe, junto da Praça Marquês de Pombal, a casa museu dos «Pimentel de Mesquita». Ambos os edifícios passaram na ocasião por importantes obras de recuperação.

O concelho está servido por uma rede de estradas essencialmente iniciada em 1946 e concluída nos últimos anos da década de 1960, embora posteriormente tenha sido parcialmente renovada.

Depois do surto de desenvolvimento verificado com a instalação da citada estação francesa, foi na sequência da autonomia político-administrativa, sobretudo a partir da década de 1990, que a ilha voltou a passar por novos investimentos públicos de grande vulto. No concelho, para além da ampliação do aeroporto, aberto ao tráfego local depois da «Revolução de Abril», foram levados a efeitos vários outros empreendimentos, nomeadamente: a construção do lar de idosos, fábrica de lacticínios, ginásio desportivo, casas do povo, polidesportivos, sedes sociais de clubes e matadouro da ilha; a ampliação da escola secundária, do hospital, dos arruamentos, de estradas de redes de água e de electricidade; a intensificacão de arroteias destinadas à instalação de pastagens e de plantação de árvores, quer públicas, quer privadas, bem como da construção de caminhos de penetração para o interior da ilha (Trigueiro, 2000: 316).

No concelho existem diversos miradouros de interesse turístico, entre os quais se distinguem: as vistas do mato do Vale da Ribeira da Cruz, do mato do Vale da Fazenda, do Pico da Sé, do Monte das Cruzes, do Miradouro dos Cedros, do Miradouro de Ponta Delgada e de muitos outros lugares vistosos, quer viajando-se por estradas, quer percorrendo caminhos pedestres.

Nascidos no concelho, designadamente na vila de Santa Cruz, distinguiram-se, entre outros, os seguintes florentinos, indicados pela ordem cronológica de nascimento (Trigueiro, 2004): Frei João da Trindade (15..?-1650) padre e navegador; padre Inácio Coelho (1575-1643) fundador do Convento de S. Boaventura; Frei Diogo das Chagas (1584-1661) religioso, teólogo e historiador; Frei Mateus da Conceição (1585-1653) religioso, missionário e teólogo; Manuel Borges de Freitas Henriques (1826-1873) empresário e vice-cônsul de Portugal e do Brasil em Boston; António Vicente Peixoto Pimentel (1827-1881) comerciante, filantropo e benemérito; José Cristiano de Freitas Henriques Júnior (1832-1902) fotógrafo e escritor na América do Sul; James *Mackay (1832-1920) agente comercial e vice-cônsul Britânico; José Pimentel (1835-1900) emigrante de mérito nos Estados Unidos da América; Dr. Teófilo Ferreira (1840-1894) professor, médico, vereador de Lisboa e deputado; Dr. Nestor Augusto Xavier de Mesquita (1854-1924) médico, professor e benemérito; António Maria de Freitas (1859-1923) escritor, jornalista e professor; Fernando Joaquim *Armas (1864-1931) político, notário público e escrivão judicial; Dr. Carlos de *Mesquita (1870-1916) académico e poeta; Roberto de *Mesquita (1871-1923) poeta e funcionário de finanças; padre Alfredo Mariano de Sousa (1872-1932) monsenhor e grande empreendedor religioso; Dr. José Jacinto Armas da Silveira (1877-1924) médico e músico; padre José Furtado *Mota (1878-1963) cooperativista, sacerdote e músico; padre Roberto Fernando Armas (1885-1953) sacerdote e solicitador; Lino Augusto Santos (1892-1961) músico, jornalista e meteorologista; José Jacinto Mendonça Flores (1900-1968) político, comerciante, industrial e solicitador; António Caetano de Serpa (1914-1965) empresário e ajudante notarial; Roque de Freitas Moura (1924-1983) jornalista, carteiro e lavrador; José Augusto Lopes (1829-2006) armador ou empresário marítimo e comendador; Dr. Horácio de Carvalho Flores (1931) médico-cirurgião e assistente universitário; António de Fraga Serpa (1934-2002) professor, juiz substituto e chefe de finanças; José Renato Medina Moura (1949) político, jornalista e funcionário de finanças. Embora não tenha nascido na ilha, o Dr. James *Mackay (1790-1874), que nasceu na Escócia e fixou residência em Santa Cruz das Flores por volta de 1828, depois de ter acompanhado Napoleão Bonaparte à sua prisão na ilha de Santa Helena, foi o primeiro médico das Flores, onde viria a falecer e está sepultado com campa alusiva. Também Manuel Pedro *Lopes, (1852-1919), que nascera no Corvo, ali se distinguiu como político, como juiz substituto e empresário; Jaime Leal Páscoa (1891-1957), que nascera no Pico, ali se distinguiu como um dos melhores santacruzenses, como professor, político, jornalista e empresário; João António Gomes Vieira (1939) que nasceu em Lajes das Flores, distinguiu-se como fundador do Museu das Flores, investigador histórico e historiador de temas marítimos, tendo já editado vários livros sobre esses temas. Naturais da freguesia de Ponta Delgada distinguiram-se, entre outros: Dr. João dos Santos *Silveira (1912-1980) (registado na Caveira), professor, bibliotecário e poeta; Dr. José dos Santos *Silveira (1914-2005) juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça e poeta; Dr. Carlos da Silveira *Ribeiro (1933-2002) juiz, procurador-geral adjunto; Dr. José Abel da Silveira Ventura (1935-....) juiz desembargador jubilado. Nascidos na freguesia da Caveira distinguiram-se, entre outros: padre Francisco Cristiano Korth (1881-1946) sacerdote e político; cónego José Maria Fernandes (1887-1949) sacerdote, missionário, professor e director jornalístico. Na freguesia dos Cedros distinguiram-se, entre outros: padre Fernando Joaquim da Silveira (1881-1958) sacerdote e gestor diocesano; Eduardo Augusto de Fraga (1888-1960) professor; cónego Gil Vicente de *Mendonça (1927) sacerdote, professor e gestor diocesano; Monsenhor José de Freitas *Fortuna (1929-2005) sacerdote, professor e director jornalístico. José Arlindo Trigueiro

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