Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

San-Bento, José de Oliveira

[N. Matriz, Ribeira Grande, 21.4.1893 ? m. Ponta Delgada, 22.1.1975] Poeta e escritor. Passou uma adolescência difícil devido a dificuldades financeiras que não lhe permitiram seguir os estudos de uma forma continuada. Andou dois anos no seminário de Angra, desistiu por falta de vocação e aguardou até aos dezasseis anos para assentar praça no exército e poder sustentar-se. Assim o fez, mas requereu licença para estudos. Quando essa licença acabou e ficou sem a respectiva bolsa, conseguiu emprego como secretário particular do Marquês de Jácome Correia. Foi com esta situação de maior desafogo, já quintanista, que publicou o seu primeiro livro ? Lua e Mar. Com dezanove anos, passou a redactor secundário do jornal A República, dirigido por Francisco Luís *Tavares. Em 1915, partiu para Lisboa, com a finalidade de cursar Direito. Continuou a trabalhar para a imprensa para sobreviver, até encontrar uma situação mais desafogada quando colaborou num jornal de New Bedford. Entretanto, interrompeu o curso para cumprir o serviço militar, mas acabou por se licenciar em 1922. Regressado a São Miguel, instalou-se cinco anos na Ribeira Grande, como advogado. Residindo em Ponta Delgada, continuou a profissão, mas a sua actividade estendeu-se pela colaboração na imprensa, pela intervenção cultural através de palestras e também pela militância política. Ainda universitário, enviava colaboração para o jornal O Protesto (1916), órgão do Centro Socialista Antero de Quental, de Ponta Delgada, solidarizando-se com as lutas operárias. Na Ribeira Grande, foi membro da Comissão Municipal da Partido Republicano Português, bem como em Ponta Delgada, tendo sido candidato por este círculo em 1925. Com o fim da I República, acabou por aderir aos ideais do Estado Novo. A poesia foi a sua grande forma de expressão, que cultivou ao longo da vida. Não só a deixou publicada em vários livros, como muita outra ficou dispersa por jornais e revistas, além dos inéditos. Ruy Galvão de Carvalho caracteriza-a como «formalmente clássico-parnasiana e, conceptualmente, romântico-simbolista e de circunstância» (1979: 400). Foi também considerado (Lisboa, 1994: 461) como um «poeta rebelde à velha forma de versejar», mas não aderiu ao modernismo. Aliás, o seu regresso aos Açores, levou-o à defesa da tradição poética do século XIX, protestando, nos anos 40, contra a ameaça modernista. Carlos Enes

Obras principais. (1912), Lua e Mar. Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores. (1916), Cartas da Beira-Mar. Ponta Delgada, Tip. Artes Gráficas. (1917), Ao Cair da Noite. Ponta Delgada, Tip. Central. (1918), Poema do Atlântico. Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores. (1922), Espirais de Fumo. Angra do Heroísmo, Tip. Andrade. (1927), O Velho do Restelo. Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores. (1933), O Clamor das Sombras. Ponta Delgada, Papelaria Micaelense. (1940), O Auto de Portugal Eterno. Ponta Delgada, Tip. Correio dos Açores. (1942), O Fulgor. Ponta Delgada, Tip. Artes Gráficas. (1946), A Ilha em Prece. Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores. (1947), Vulcão em Flor. Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores. (1952), Riscos na Bruma. Ponta Delgada, Tip. Âmbar. (1960), Ilha de Glória. Angra do Heroísmo, Liv. Andrade. (1970), Asas de Luz: poemas do Senhor Santo Cristo. Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores.

 

Bibl. Carvalho, R. (1979), Antologia Poética dos Açores. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, I: 400. Lisboa, E. (coord.) (1994), Dicionário Cronológico de Autores Portugueses. Mem Martins, Publicações Europa-América, III: 461. Meneses, L. (1992), As eleições legislativas de 1921 e 1925 no arquipélago dos Açores. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura: 253. Vasconcelos, J. (1959), Vida e obra do poeta Oliveira San-Bento, Insulana, XV, 2º semestre: 343-370.