Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Ribeiro, José Silvestre

[N. Idanha-a-Nova, 31.12.1807 ? m. Lisboa, 9.3.1891] Frequentou a Universidade de Coimbra a partir de 1823, mas devido às suas ideias liberais interrompeu o curso para integrar o Batalhão Académico (1826). Acabou por sair bacharel em Cânones em 1834, depois da vitória dos liberais. Emigrou em 1828 pela Galiza, para Inglaterra mas antes passou por Paris. Veio para a Terceira integrado no Batalhão dos Voluntários Académicos tendo participado na batalha de 11 de Agosto de 1829 na Praia.

Alistado no Exército Libertador, desembarcou no Mindelo e durante o cerco do Porto distinguiu-se na guarnição da Serra do Pilar tendo recebido a comenda da Torre e Espada. Acompanhou o Duque da Terceira ao Algarve e com ele entrou em Lisboa a 24 de Julho de 1833.

Seguiu uma carreira política administrativa e foi nomeado secretário-geral da Prefeitura da Beira Baixa (7 de Agosto de 1834), secretário-geral do Governo Civil de Castelo Branco e administrador-geral interino de Portalegre (1837). Foi escolhido para administrador-geral do Distrito de Angra do Heroísmo que exerceu de 27 de Setembro de 1839 a 13 de Novembro de 1844 num período de acalmia da revolução de Setembro. A sua acção como administrador-geral em Angra foi sempre muito louvada pelas acertadas medidas que tomou, mas ficou marcada sobretudo pela energia e determinação com que enfrentou a catástrofe do terramoto de 1841 que destruiu a vila da Praia e as freguesias circundantes e depois pelas medidas para a reedificação, que no essencial estava concluída em 1843. Regressado ao continente foi ainda governador civil de Beja (1844-1846), de Faro (1846) e do Funchal (1846 a 1852).

Fez parte da comissão que apresentou uma proposta de bases para a reforma do Código Administrativo (1862-1864). Foi conselheiro (1841) e membro extraordinário do Conselho de Estado (1856). Ocupou o cargo de ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça (1857-1858) no governo do marquês de Loulé.

Foi, em várias legislaturas, eleito deputado por Angra do Heroísmo (1846 e 1858-1859) e pelo Funchal (1848-1851, 1853-1856 e 1857-1858), passando a par do Reino por carta de 24 de Dezembro de 1881. Foi eleito pelo Partido Regenerador. A sua acção no Parlamento distinguiu-se pela defesa dos interesses do seu círculo eleitoral, orientação que anunciou logo no início dos mandatos, afastando-se das grandes questões nacionais. Na Câmara dos Pares teve papel apagado.

Silvestre Ribeiro deixou o seu nome inscrito no movimento cultural do século XIX como escritor e fundador de bibliotecas públicas, entre elas a da Praia, e que ainda hoje existe e funciona embora delapidada pelo abandono a que foi votada por longo tempo. Fundou a Sociedade Protectora dos Animais (1875), presidiu à Assembleia Geral do Montepio Geral, foi sócio de muitas sociedade e academias, entre elas a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense e a Academia das Ciências de Lisboa. Colaborou em vários jornais e a sua obra mais notável é a História dos estabelecimentos científicos, literários e artísticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia.

Foi agraciado com a comenda da Torre e Espada, Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, mas recusou a Ordem de Santiago de Espada.

A Praia da Vitória ficou-lhe sempre muito grata, erigindo-lhe uma estátua inaugurada a 31 de Dezembro de 1879, que ainda existe no jardim público e celebrou com pompa o centenário do seu nascimento, existindo no salão nobre da Câmara Municipal o seu retrato e tendo a Biblioteca Municipal o seu nome, assim, como um dos largos principais da cidade.

A Câmara de Angra também lhe ofereceu um espadim de honra, com ornatos de ouro, em 1853, que depois ele em testamento legou à Câmara Municipal do Funchal.

Silvestre Ribeiro deixou em testamento à Câmara da Praia os seus livros, para a biblioteca, e um colar de ouro que a Câmara do Funchal lhe oferecera em 1852 e à Câmara de Angra um candelabro de prata, que lhe fora oferecido pela rainha Adelaide, viúva de Guilherme IV de Inglaterra, objectos ainda hoje integrados no espólio artístico daqueles municípios. J. G. Reis Leite

Obras. Da sua longa bibliografia registam-se os títulos com interesse açoriano directo. (1843-1844), Collecção de excriptos administrativos e littyrarios do senhor Jose Silvestre Ribeiro, governador civil do distrito de Angra do Heroísmo, desde 26 de Novembro de 1839 a 26 de Novembro de 1843, organizada por Felix José da Costa. Angra do Heroísmo, Imprensa Municipal. (1844), Collecção de documentos sobre os trabalhos de reedificação da villa da Praia, e villa de S. Sebastião, Fonte do Bastardo, Cabo da Praia, Fontinhas, Lages, Vila Nova e Agualva, occasionadas pelo terramoto de 15 de Junho de 1841, organizada por José Ignacio de Almeida Monjardino. Angra do Heroísmo, Imp. do Governo [2.ª ed., 1983, Praia da Vitória, Câmara Municipal da Praia da Vitória].

 

Bibl. Dias, E. A. R. (1888), O conselheiro José Silvestre Ribeiro. Exemplo da inteira dedicação à liberdade e à pátria. Lisboa, Imprensa Nacional. Mónica, M. F. (coord.) (2006), Dicionário biográfico parlamentar (1834-1910). Lisboa, Assembleia da República, III: 464-468. Nemésio, V. (org.) (2002), Memorial da muito notável vila da Praia da Vitória. 2.ª ed., Praia da Vitória, Câmara Municipal da Praia da Vitória: 162-165. Valadão Jr., F. L. (s.d.), Um terceirense notável. O primeiro conde da Praia da Vitória. Angra do Heroísmo, Tip. Angrense.