Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Rebello, Ernesto de Lacerda de Lavallière

[N. Sé, Lisboa, 26.4.1842 ? m. Horta, 15.11.1890] Literato e jornalista. Funcionário da Repartição de Fazenda Distrital da Horta. Foi filho de Francisco Peixoto de Lacerda Costa *Rebello, natural do Faial, advogado, e de Maria Elisa Nunes de Lavallière Rebello, natural de Cayenne, Guiana Francesa (Figueira, 1890a). Apesar de nascido em Lisboa (Figueira, 1890a; Rebelo / Silveira, 1965), é tido como um dos mais notáveis escritores «faialenses», individualidade de valor entre os representantes da escola romântica nos Açores (Lima, 1922: 409-410; 1943: 564), operoso escritor, de marcante relevo literário (Serpa, 1987: 187) que deixou produções, quer em prosa, quer em verso, todas correctas, ricas de pensamentos e de estilo suave (Figueira, 1890b). Como poeta, versejou com espontaneidade e simplicidade, despretenciosamente (Carvalho, 1979: 90). Ramos (1890), no necrológio, considera-o como «um dos homens mais honestos, desinteressados e prestimosos [..] nas lides da imprensa».

São diversas as suas produções, umas dispersas por jornais, outras reunidas em livros e outras ainda inéditas. De entre elas tem sido destacada Notas Açoreanas, em que a história anedótica do distrito da Horta, principalmente do Faial, se encontra desenhada com colorido e sabor regionalista bastante apreciáveis (Lima, 1943).

Para Henrique das Neves, a não ser este amor pelas letras e os seus afectos da família, o campo prendia-o mais do que tudo. Gostava do sossego e da solidão e trazia sempre gratas impressões do viver simples do povo, cujos costumes, lendas e crenças descreveu com especial cuidado. Era um cismador e um solitário, o que não quer dizer que não fosse expansivo com os amigos, porque o era, e contava então coisas antigas numa inesgotável cópia de factos curiosos, muitos dos quais se perderam com ele (Neves, 1910: 43).

Era Cavaleiro da Ordem de Cristo e Comendador de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Integrava várias associações culturais e científicas, nomeadamente a Sociedade Dantesca de Nápoles, o Gremio Litterario Fayalense (sócio honorário e presidente), o Gremio Litterario Artista Fayalense, a Sociedade Amizade e Recreio de Ponta Delgada, o Centro Fayalense da Sociedade de Geographia de Lisboa, de que era sócio correspondente, a Comissão Central de 1640, a Fraternidade Açoriana do Rio de Janeiro, o Gremio Litterario Michaelense (sócio correspondente), o Gremio Litterario de Angra do Heroísmo e o Club Popular Angrense (Respigador (O), 1891; Figueira, 1890a).

Tem sido destacada a sua actividade no âmbito do Grémio Literário Faialense que exibia um seu retrato, em formato grande, na sala principal, oferecido pela Sociedade Luz e Caridade (Figueira, 1890a).

Fundou e dirigiu O Amigo do Povo (1870) e Civilizador (1878-1879) e foi redactor de A Luz (1870-1874) e de O Grémio Literário (1880-1884) (cf. Lima, 1943: 529-533), mas deixou colaboração, em verso e em prosa, dispersa por outros jornais da Horta e dos Açores. Em Lisboa colaborou com Ramalhete do Christão, A Civilização Cristã e Revista Ilustrada (Figueira, 1890a; Rebelo / Silveira, 1965).

Em 20 de Novembro de 1890, por decisão da Câmara Municipal da Horta, da rua denominada D. Pedro IV, a parte entre o Largo Duque d?Ávila e Bolama e a Travessa da Misericórdia, passou a chamar-se Rua Ernesto Rebello (Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta, Câmara Municipal da Horta, Vereações, Liv. 44 (c): fls. 140v-142; Rocha, 1992). Luís M. Arruda

Obras editadas em volume: (1873), Contos e poesias açoreanas. Horta, Typ. Hortense. (1879), As noites d?El-Rei: drama histórico em 3 actos. Angra do Heroísmo, Imprensa do Governo Civil. (1881), Um padre: drama em 4 actos. Rio de Janeiro, Matheus Costa & Ca. [levado à cena, na Horta, em 29 de Abril de 1880, conjuntamente com As noites de El-Rei]. (1881), A desleixada: lenda scandinava / de Hjalmei H. Boyensen. Horta, Typ. do Atlântico [tradução livre do inglês]. (1885), Dahlias do convento: comédia em 3 actos. Ponta Delgada, Typ. e Lith. dos Açores [levada à cena no Teatro Esperança, Ponta Delgada, em 30 de Outubro de 1878]. (1885), Notas Açorianas, In Archivo dos Açores. Ponta Delgada, Typ do Archivo dos Açores 7 [Depois publicação autónoma, (1885, 1886, 1887), Notas Açorianas. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, 3 vols.] (cf. Rebelo, 1985). (1982), There... she blows!... Lajes do Pico, Museu dos Baleeiros (publicação póstuma) [apresentação de Pedro da Silveira]. (1989), Aves de arribação: crónica açoriana. Horta, Centro de Estudos da Câmara Municipal da Horta (publicação póstuma).

 

Trabalhos publicados em jornais: Scenas dos Açores (romance) (Fayalense (O), 1879-1880). Aves de arribação (romance) (Fayalense (O), 1880) [publicação autónoma, póstuma, em 1989]. Soror Maria (romance) (Fayalense (O), 1880). Urzes e silvados (romance) (Açoreano (O), 1884). Mathilde (romance) (Açoreano (O), 15 de Novembro de 1885 ? 14 de Abril de 1886; Telégrafo (O), 3 de Janeiro a 7 de Abril de 1914). Excentricos faialenses (contos) (Gremio Litterario (O)) [Os pupillos da Lucinda, vol. 1, (1880) 15 de Outubro, n.º 11: 85-87; 1 de Novembro, n.º 12: 91-94; 15 de Novembro, n.º 13: 100-102; e 1 de Dezembro, n.º 14: 109-110; O ferreiro de cima da Lomba, vol. 1, (1881), 1 de Abril, n.º 22: 174; e 1 de Maio, n.º 24: 189-190; vol. 2 (1881). 1 de Julho, n.º 25: 7-8; e 15 de Julho, n.º 26: 14-15. Uma imperatriz, vol. 2 (1881), 1 de Agosto, n.º 27: 20-21; 15 de Agosto, n.º 28: 29-30; 1 de Setembro, n.º 29: 39-40; 15 de Setembro, n.º 30: 46-47; 1 de Outubro, n.º 31: 54-55; 15 de Outubro, n.º 32: 63-64; e 1 de Novembro, n.º 33: 71-72. O sr. Vieirinha, 15 de Novembro, n.º 34: 78-80; 1 de Dezembro, n.º 35: 85-86; 15 de Dezembro, n~.º 36: 93-95; (1882) 1 de Janeiro, n.º 37: 102-103; 15 de Janeiro, n.º 38: 110-111; 1 de Fevereiro;, n.º 39: 120; 15 de Fevereiro, n.º 40: 126-127].

 

Inéditos: Flores do mato (versos). Amor filial [levado à cena no Teatro União Faialense, em 30 de Maio de 1878] e Margarida (dramas). O Sr Eleutério (comédia). Scenas do Outono (romance, incompleto, escrito para O Atlântico)

 

Fonte. Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta, Câmara Municipal da Horta, Vereações, Liv. 44 (c).

 

Bibl. Carvalho, R. G. (1979), Antologia poética dos Açores. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. Figueira, S. (pe.) (1890a), Ernesto de Lacerda de Lavallière Rebello, A civilização Christã ? Semanário religioso, litterario e noticioso, Lisboa, ano 1, n.º 36, 10 de Agosto: 281-283 [Artigo bio-bibliográfico]. Id. (1890b), Ernesto Rebello, A civilização Christã ? Semanário religioso, litterario e noticioso, Lisboa, ano 2, n.º 2, 14 de Dezembro: 14 [Notícia da morte]. Lima, M. (1922), Famílias faialenses: subsídios para a história da ilha do Faial. Horta, Tip. Minerva Insulana. Id. (1943), Anais do Município da Horta. Vila Nova de Famalicão, Oficinas Gráficas Minerva. Rebelo, E. / Silveira, P. (1965), Costumes e lendas populares, Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 4, 1: 11. Serpa, J. M. (1987), A Fala das Nossas Gentes. Ponta Delgada, Signo. Ramos, M. (1890), Ernesto de Lacerda de Lavallière Rebello, A civilização Christã ? Semanário religioso, litterario e noticioso, Lisboa, ano 2, n.º 2, 14 de Dezembro: 14. [Notícia da morte]. Respigador (O) (1891), S. Jorge, n.º 61, 20 de Fevereiro, Á Memória de Ernesto Rebello. Rocha, J. E. (1992), Rua da Misericórdia, Boletim Municipal, Câmara Municipal da Horta, n.º 68, Jan., Fevereiro e Março.