Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Rebelo, Jacinto Inácio de Brito

[N. Ponta Delgada, 25.10.1830 ? m. Lisboa, 5.2.1920] Militar de carreira, bibliófilo, escritor, historiador e investigador, cujo nome ficou associado à publicação do Arquivo dos Açores. Era filho de Pedro de Brito Rebelo, alferes de Caçadores N.º 11, natural de Lisboa (Nossa Senhora da Ajuda), e de D. Teresa de Jesus Rebelo, também natural de Lisboa (Santa Isabel). Foi baptizado a 10 de Janeiro de 1831, na igreja paroquial de São Pedro, sendo padrinhos Jacinto Inácio Rodrigues da Silveira, mais tarde barão de Fonte Bela, e sua mulher, D. Mariana Isabel de Meneses Silveira. Frequentou o Colégio Militar, cujo curso concluiu em 1847, e tendo assentado praça em infantaria a 27 de Julho desse mesmo ano, foi progressivamente promovido, chegando a coronel a 31 de Fevereiro de 1887 e reformando-se como general de brigada em 1895. A par da carreira militar e até à sua promoção ao posto de capitão, Brito Rebelo desempenhou também diversas funções nas obras públicas em Santarém, Aveiro, Albergaria-a-Velha e Ílhavo e cumpriu posteriormente várias comissões de serviço em Santarém, Lisboa, Beja e Évora. No plano cultural, Brito Rebelo foi um dos fundadores do jornal Concórdia, publicado no Porto em 1873, tendo sido igualmente seu redactor principal; esteve na fundação do Ocidente, em 1878; e colaborou em diversos jornais da época, como o Jardim das Damas, o Campeão das Províncias ou o Jardim Literário. Manteve correspondência assídua com Inocêncio Francisco da Silva ? escrevia-lhe acerca de artigos do Diccionario Bibliographico Portuguez, das actividades que desenvolvia como funcionário do Estado e da sua vida pessoal ? e com investigadores norte-americanos, franceses e alemães (Henry Harrisse, Henri Vignaud, Honrad Haebler, entre outros), tendo-se revelado como divulgador, autor de dramas e poesias e, acima de tudo, como historiador. Publicou estudos monográficos e artigos em O Instituto e no Archivo Historico Portuguez, merecendo destaque os estudos dedicados a Gil Vicente (Gil Vicente, colectânea de textos datada de 1902, e Gil Vicente: 1470-1540, de 1912), Afonso de Albuquerque (Ementas Historicas, I: A edade de Affonso de Albuquerque, separata de O Instituto, de 1896) e Alexandre Herculano (Em torno de Alexandre Herculano, de 1910), mas, sobretudo, a edição em 1903 do Livro de Marinharia, de João de Lisboa, importante códice quinhentista que pertencia à biblioteca dos condes de Castelo Melhor. Jacinto Inácio de Brito Rebelo casou duas vezes: da primeira esposa, enviuvou em 1866 e, em 1869, desposou D. Felismina Adelaide Teixeira. Este notável intelectual recebeu a comenda da Ordem de Avis em 1888 e entrou para a Academia das Ciências de Lisboa em 1911, como sócio correspondente. Faleceu sem ter obtido o público reconhecimento do seu labor ? os jornais micaelenses da época não referem o óbito ?, apenas elogiado pelos seus pares e mais íntimos amigos (Rodrigues e Silveira, 2000). Para além da sua ligação natal a Ponta Delgada, merece ser relevada a importante contribuição prestada ao projecto do Arquivo dos Açores, devido à iniciativa de Ernesto do Canto (1831-1900). A colaboração de Jacinto Inácio de Brito Rebelo com Ernesto do Canto e a equipa do Arquivo dos Açores não começou com o início do projecto, mas, nesse mesmo ano, Brito Rebelo respondeu ao convite que lhe endereçara o director do Arquivo dos Açores, aceitando colaborar no projecto e revelando a Ernesto do Canto que acompanhara a edição do Arquivo dos Açores e que dispunha de informações que poderiam enriquecer ou corrigir o que já fora publicado. A intervenção que Brito Rebelo teve no Arquivo dos Açores decorreu paralelamente aos estudos realizados para O Ocidente, onde publicava com regularidade, e para o Diccionario Bibliographico Portuguez. A partir de 1879, Brito Rebelo conduziu pesquisas em Lisboa, sobretudo no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, e manteve uma correspondência regular com Ernesto do Canto. O volume II do Arquivo dos Açores, editado em 1880, contou já com a colaboração de Brito Rebelo, a quem se deveu a publicação da «Collecção de Documentos Relativos ás Ilhas dos Açores Extrahidos do Archivo Nacional da Torre do Tombo» e que elaborou notas para a série «Dominio Hespanhol nos Açores e D. Antonio, Prior do Crato». No geral, a participação de Brito Rebelo no projecto editorial do Arquivo dos Açores foi uma realidade que se pautou sempre pelo cuidado posto nas transcrições paleográficas e notas que acompanhavam os documentos por si lidos e pela probidade, esta traduzida no envio regular para Ernesto do Canto das informações relativas às despesas tidas com o trabalho relacionado com o Arquivo dos Açores. José Damião Rodrigues

Bibl. Neves, A. (1946), Jacinto Inácio de Brito Rebelo ? Micaelense douto. Diário dos Açores, Ponta Delgada, Ano 77º, n.º 20.443, 17 de Dezembro: 1; n.º 20.444, 18 de Dezembro: 1-2. Rodrigues, J. D. e Silveira, F. (2000), Ernesto do Canto, Brito Rebelo e a construção do Arquivo dos Açores. Arquipélago-história, 2.ª Série, vol. IV, n.º 1: 53-98.