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Quintanilha, Aurélio Pereira da Silva

[N. Santa Luzia, Angra do Heroísmo, 24.4.1892 ? Lisboa, 27.6.1987] Cientista dedicado à investigação e ao ensino da Botânica e da Genética. Órfão de pai, ao sair da escola primária foi educado por uma irmã 13 anos mais velha. Depois de ter estudado nos liceus de Angra do Heroísmo, da Horta e de Ponta Delgada, seguiu para Coimbra onde frequentou a Universidade sem aproveitamento. Na circunstância, o irmão Guilherme, 16 anos mais velho, coronel de Artilharia, convenceu-o a fazer os preparatórios para a Escola do Exército, o que conseguiu.

Durante a sua estada em Lisboa, entre 1912 e 1919, matriculado em Medicina, frequentou as aulas do Professor Celestino da Costa, adquirindo grande experiência laboratorial nas áreas da Citologia e da Histologia.

Em 1915 adoeceu gravemente e o contacto então havido com o Professor Ruy Telles *Palhinha levou-o a decidir-se pela licenciatura em Ciências Naturais que viria a concluir em 1919. Nessa altura foi convidado pelo Professor Luís Wittnich Carrisso para leccionar em Coimbra como assistente.

Em 1926, fez concurso para professor catedrático e iniciou uma viagem pela Europa quando conheceu o cientista alemão Hans Kniep. Resultado desse contacto, em 1928 partiu para a Alemanha como leitor de português na Universidade de Berlim, onde esteve até 1931, aproveitando para aprender com Kniep novas técnicas da Genética de Basidiomicetes.

Regressado a Portugal, foi encarregado da docência de Botânica Médica, mas, em 1935, foi demitido da função pública, alegadamente por razões políticas, não obstante ter cessado, em 1919, a sua actividade como anarco-sindicalista, defensor da causa do proletariado e da República. Envolvido em diversos projectos de investigação, terminou aquele sobre a sexualidade dos Basidiomicetos (Quintanilha, 1936), apresentou-o no Congresso Internacional de Botânica, em Amsterdão, que lhe valeu o prémio Hansen da Academia das Ciências da Dinamarca, em 1937, e uma bolsa de estudo britânica para trabalhar no Laboratório de Criptogamia, em Paris, onde, durante dois anos, desenvolveu actividade científica intensa.

Em 1939, em Edimburgo, durante o Congresso Internacional de Genética, onde apresentou uma comunicação sobre o fenómeno de Buller (Quintanilha, 1939), contactou com o Professor António Câmara que o convidou a trabalhar na Estação Agronómica Nacional. Todavia, só regressou em 1941, depois de ter sido soldado de 2.ª classe do exército francês, durante um ano, e para sair do ambiente de guerra da capital francesa.

Salazar não deixou que trabalhasse na Estação Agronómica Nacional mas permitiu que fosse dirigir o Centro de Investigação Científica Algodoeira, em Moçambique, onde incrementou a produção algodoeira e publicou diversos trabalhos. Após a extinção deste Centro, em 1962, e atingido o limite de idade, Quintanilha viria a trabalhar no Laboratório de Botânica da Universidade de Lourenço Marques e no Instituto de Investigação de Moçambique.

Em 1950, alcançou grande prestígio internacional em Estocolmo, durante o Congresso Internacional de Genética, quando decidiu contrariar a doutrina Genética do Mitchurinismo, defendida pelo cientista russo Lysenko (Quintanilha, 1960). Oito anos mais tarde, durante o Congresso Internacional de Genética, em Montereal, voltaria a atacar o cientista russo defensor daquela doutrina.

Na sua terra natal, foi redactor principal do jornal A *Lanterna que apareceu em Julho de 1915, com a epígrafe «iluminar por dentro a consciência humana», ligado ao movimento anarquista.

A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo homenageou-o atribuindo o seu nome a uma rua do concelho.

A sua vida e obra tem sido estudadas por vários autores que incluíram listas dos seus trabalhos (ver Armas (2002); Brotéria (Ciências Naturais) (1975), 44, 71: 171-174). Luís M. Arruda

Obras. (1936), Cytologie et genétique de la sexnalité chez les hyménomycétes. S.l., s.e. [Alcobaça, Of. de José de Oliveira Júnior] [Separata do Boletim da Sociedade Broteriana, A. 10]. (1939), Étude genétique du «Phenoméne de Buller». S.l., s.e. [Alcobaça, Tip. Alcobacense]. (1960), Michurinismo e mendelismo. Lisboa, s.e..

 

Bibl. Armas, J. L. (2002), Dois açorianos ilustres: Aurélio Quintanilha e Ildefonso Borges, Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, 60: 281-293. Brotéria (Ciências Naturais) (1975), Braga, 44, 71: 171-174.