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Água de Pau

Freguesia do concelho de Lagoa, S. Miguel. TOPONÍMIA A origem toponímica continua por esclarecer. Segundo Frutuoso, a designação estaria relacionada com o facto de os descobridores, ao aproximarem-se de terra, terem visto qualquer coisa cair do alto da rocha e não conseguirem determinar se era água ou pau. A designação adoptada seria o resultado da junção das opiniões dos dois grupos que se formaram. Por seu turno, o padre João José Tavares (1944: 10) defende ser uma corrupção de Água do Paul, uma ribeira que passa ao lado da igreja de Nossa Senhora dos Anjos.

GEOGRAFIA Está situada na encosta sul da serra de Água de Pau (maciço da caldeira da lagoa do Fogo, ilha de S. Miguel), estendendo-se desde o pico da Barrosa (947 m) até ao mar, limitada pela cumeada oriental da serra de Água de Pau e talvegue da ribeira Chã (a E) e da nascente da ribeira de Água de Pau (para W), até ao mar. À beira-mar tem um clima ameno, mas a cumeada da serra encontra-se na faixa dos nevoeiros. A vertente é declivosa, dissecada pelas ribeiras das Pedras, de Água de Pau e Chã, que deixam entre si lombas estreitas, donde se levantam alguns pequenos cones secundários, como os picos da Eira e da Vila (153 m). A costa é alta (20-30 m), escarpada e muito recortada na escoada basáltica da Caloura, donde se destaca a ponta da Galera, e alta (50-100 m) e rectilínea na faixa ocidental, constituída por rochas andesíticas intercaladas com basaltos, donde se salienta a ponta de Água de Pau. Feita vila por D. Manuel I em 1505, em 1568 contava já 1383 habitantes e mais de 200 fogos; em 1846, 2522 habitantes e 522 fogos (Drummond, 1990). A variação da população foi sempre elevada nos últimos 126 anos. Possui um porto de pesca, mas as principais actividades económicas são a pecuária e, em menor escala, a agricultura. M. Eugénia S. Albergaria Moreira (Nov.1995)

HISTÓRIA Esta povoação antiga da ilha de S. Miguel, com ricos terrenos e abundância de água, foi elevada à categoria de vila a 28 de Julho de 1505 e manteve o estatuto até 19 de Outubro de 1853, altura em que foi extinto o município. Retomou o estatuto de vila por decreto de 26 de Dezembro de 1966. A igreja primitiva - a matriz - foi destruída pelo terramoto de 1522 e a construção da actual iniciou-se logo em 1525 sob a invocação de Nossa Senhora dos Anjos. Em 1665, foi construída, no sítio da Galera, a ermida de Nossa Senhora do Livramento, com uma albergaria para abrigo dos romeiros. No mesmo século, no lugar da Caloura, foi também erguida a ermida da Mãe de Deus. Na sequência de uma suposta aparição da Virgem Maria a duas crianças, em 1918, foi erigida, dois anos mais tarde, a ermida de Nossa Senhora do Monte Santo. Em 1832, foi criada a primeira escola régia e, em 1875, entrou em funcionamento outra do sexo feminino. À primeira filarmónica, inaugurada em 1859, seguiram-se outras três com vida efémera. A actual banda denomina-se Fraternidade Rural. A Casa do Povo foi criada em Agosto de 1967 e as novas instalações polivalentes inauguradas em Abril de 1998. Na freguesia existe um grupo de teatro e uma equipa de futebol federada. Em Junho de 1998 foi inaugurado um espaço cultural lúdico, constituído por um polivalente e jardim. Em termos económicos, seguiu os principais ciclos da economia açoriana: produziu e moeu trigo em moinhos instalados na ribeira, produziu pastel em abundância e laranja até entrar no ciclo da pecuária. No lugar da Caloura, produz-se um dos melhores vinhos da região. No presente, alguns habitantes ainda se dedicam à produção artesanal de vimes e algumas tecedeiras fabricam as conhecidas colchas de Água de Pau.

A lenda da porca que furou o pico tornou conhecida a freguesia em todo o arquipélago. Conta-se que, há muitos anos, um casal humilde tinha uma porca de criação que um dia desapareceu. A família e os vizinhos procuraram-na sem sucesso junto ao pico de Baixo. Na manhã seguinte, uma filha do casal continuou a busca e ao chegar ao cimo do pico avistou-a do outro lado amamentando a numerosa prole. Radiante, correu para casa aos gritos: «a porca furou o pico, a porca furou o pico.» De então para cá, os visitantes maldosos que ousam perguntar «foi aqui que a porca furou o pico?», recebem da população gestos e impropérios adequados à provocação. O orago da vila é N.ª Sr.ª dos Anjos.

HERÁLDICA Antes da sua extinção como concelho, em 19 de Outubro de 1853, a vila possuía uma bandeira em damasco de seda vermelha que ostentava, de um lado, a imagem de Nossa Senhora dos Anjos, padroeira da vila, e do outro as armas nacionais. Desconhece-se, todavia, qualquer exemplar. Carlos Enes (Dez.1998)

Ponta de Água de Pau É uma saliência da arriba da costa sul (freguesia de Água de Pau, ilha de S. Miguel), com 12 m de altura, anexa a uma vertente costeira de 95 m, escarpada e subvertical, talhada em mantos de lava andesítica alternantes com materiais piroclásticos. Na base da arriba existem numerosas grutas (furnas). Ribeira de Água de Pau Com cerca de 3 km de extensão no curso principal, nasce no pico da Barrosa (ilha de S. Miguel), a 900 m de altitude. Desce a vertente SO da serra de Água de Pau num vale encaixado e muito declivoso, recebe dois afluentes importantes a jusante de Relvinha, passa em Água de Pau e desagua na Caloura, a ocidente da ponta da Galera. Serra de Água de Pau Importante cadeia montanhosa que ocupa todo o centro-oriental da ilha de S. Miguel. É formada por um grande cone de escórias vulcânicas e lavas traquíticas, encimado por uma grande caldeira, ocupada pela lagoa do Fogo e com as vertentes entalhadas por ribeiras profundas. Atinge 750 m de altitude, no pico da Barrosa. Na base existem pequenos picos que indicam uma actividade vulcânica recente. M. Eugénia S. Albergaria Moreira (Nov.1996)

Bibl. Direcção Escolar de Ponta Delgada (1980), Apontamento Histórico Etnográfico, S. Miguel, Santa Maria. Ponta Delgada, DEPD, I. Drummond, F. F. (1990), Apontamentos Topográficos, Políticos, Civis e Eclesiásticos para a História das nove Ilhas dos Açores servindo de suplemento aos Anais da Ilha Terceira. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira. Instituto Nacional de Estatística (1961), X Recenseamento Geral da População. Lisboa, INE, I, 2. Id. (1971), XI Recenseamento da População. Lisboa, INE. Id. (1981), Recenseamento da População e da Habitação. Açores. Lisboa, INE. Id. (1991), XIII Recenseamento da População. Dados não publicados de 1991. Lisboa, INE. Tavares, J. J. (1944), A vila da Lagoa e o seu Concelho. Ponta Delgada, Tip. Artes Gráficas. 1981 e 1991).