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Ponta Delgada (freguesia)

Geografia Freguesia do concelho de Santa Cruz das Flores, situada no extremo norte da ilha das Flores. É limitada a sul pelas freguesias dos Cedros, de Santa Cruz e da Fajã Grande (concelho das Lajes das Flores) e a norte, este e oeste pelo Oceano Atlântico. Apresenta uma forma trapezoidal, com cerca de 17,7 Km2, o que corresponde a 24,9 % da superfície concelhia, distando da sua sede 16 Km, aproximadamente.

A freguesia tem uma topografia bastante acidentada, com declives acentuados no sentido sul ? norte. Contudo, à medida que se avança em direcção à costa norte, os declives tornam-se mais moderados (Figura 1). Parte do território pertence ao Complexo Vulcânico de Base, que aflora nas arribas oeste e este e a restante superfície está coberta por materiais do Complexo Vulcânico Superior. A altitude máxima (670 m) é registada numa curva de nível junto à vigia da Rocha Negra. A costa é baixa e de traçado rectilíneo a norte e escarpada a este e oeste. Nestes troços ocorrem baías, pontas (Fenais, Albarnaz, Ilhéu e Barrosas) e ilhéus de dimensões consideráveis (Maria Vaz e dos Abrões). Quanto à rede hidrográfica destacam-se as Ribeiras do Monte Gordo, Mouco, Seca, Moinho, Fazenda, Ilhéus e Alquevins. Algumas têm regime permanente e desaguam em cascatas de grande beleza. Em termos paisagísticos, realçam-se os Miradouros da Ponta dos Fenais e das Barrosas, bem como as vistas obtidas do promontório da Ponta do Albarnaz (Farol). A orla costeira integra o Sítio de Interesse Comunitário (SIC) da Costa Nordeste e a Zona de Protecção Especial (ZPE) da Costa Nordeste das Flores.

Em termos de ocupação humana, o povoamento é semi-concentrado no lugar de Ponta Delgada, a zona mais baixa e plana desta freguesia. Este povoado está bastante isolado das outras localidades, embora estabeleça uma relação visual permanente com a vizinha ilha do Corvo. A agro-pecuária, a pesca e o pequeno comércio são a base económica local. O porto de pesca é uma das principais infra-estruturas. No plano demográfico, a curva da evolução populacional revela alguns ressaltos. Na primeira década do século XX regista-se um decréscimo populacional, seguido de um comportamento positivo até 1950, altura em que volta a diminuir progressivamente até 2001, com excepção para a década de 80 (Figura 2). O valor apurado no XIV Recenseamento Geral da População (INE, 2002) foi de 453 habitantes, valor equivalente a uma densidade populacional de 25,7 hab/Km2. João Mora Porteiro

 

Heráldica Do município de Santa Cruz, ilha das Flores, cuja Junta de Freguesia tornou pública a ordenação heráldica do brasão, bandeira e o selo da freguesia, tendo em conta o parecer emitido em 30 de Dezembro de 2002 pela Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, e que foi estabelecido, nos termos da alínea q) do n.º 2 do artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, sob proposta da referida Junta, aprovada em sessão da Assembleia de Freguesia de 20 de Outubro de 2000:

Brasão ? escudo de verde, com duas chaves, uma de ouro e outra de prata, passadas em aspa e com os palhetões para o chefe, entre uma espiga de milho vermelho, folhada de ouro e campanha ondada de cinco peças, de prata, azul, prata, verde e prata, a do meio carregada de dois peixes de vermelho, animados e realçados de prata. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «PONTA DELGADA ? SANTA CRUZ DAS FLORES».

Bandeira ? amarela. Cordão e borlas de ouro e verde. Haste e lança de ouro.

Selo ? nos termos da lei, com legenda: «Junta de Freguesia de Ponta Delgada ? Santa Cruz das Flores».

5 de Maio de 2003. ? O Presidente da Junta, Francisco Adelino Avelar Xavier. José Arlindo Trigueiro

História, Actividades Económicas e Culturais Município e comarca de Santa Cruz das Flores, fica situada na ponta Norte da ilha das Flores, a uma distância de cerca de 21 quilómetros da respectiva sede. Tem 453 habitantes, 146 famílias e 206 edifícios (Censos de 2001).

Os seu limites situam-se entre as Rochas da Ponta da Fajã, onde começa o concelho de Santa Cruz das Flores, e a Ribeira das Barrosas. Inicialmente a paróquia compreendia também os lugares da Ponta da Fajã e da Ponta Ruiva, os quais foram dela desanexados, respectivamente, em 1676 e 1693, pelo que, então, os seus limites iam da Ribeira das Casas à Ribeira Funda dos Cedros. Desconhece-se a data da sua elevação a paróquia, mas sabe-se que foi a terceira da ilha, depois da criação das paróquias de Lajes das Flores e de Santa Cruz das Flores. O início do seu povoamento verificou-se, praticamente, em simultâneo com o daquelas duas vilas, visto que no final de 1500 já possuía ermida, tendo como primeiro sacerdote o padre Sebastião Pimentel (Gomes, 2003: 135-136).

Resultante de uma pequena ermida dedicada a S. Pedro, que terá dado origem ao nome inicial da paróquia, a actual igreja, igualmente dedicada a S. Pedro, foi a reedificação dessa ermida, e foi iniciada em 1763. Embora se desconheça a data em que terminaram as suas obras, sabe-se que em 1868 o seu estado de conservação era razoável. Depois passou por diversas obras de conservação e de beneficiação, designadamente entre 1971 e 1975 (Gomes, 2003: 136).

Todavia, a primeira ermida que terá existido na paróquia situava-se junto da baía João Martins ? um pouco distante do local onde hoje se situa o centro da freguesia. Era dedicada a Santo Amaro que, pela devoção nele ainda existente, deixou seculares recordações na ilha. Mais recentemente, na sequência da instalação de um cruzeiro colocado no Pico do Meio Dia, em 27 de Setembro de 1970, foi nele edificada a Capela de S. João Baptista, inaugurada em 13 de Agosto de 1978 (Gomes, 2003: 140).

Como organizações seculares, a freguesia possui quatro irmandades do Espírito Santo, onde todos os anos se realizam as suas festas tradicionais: a Irmandade do Espírito Santo da Terra Chã, cujo império data de 1819; a Irmandade do Espírito Santo da Cruz, com capela datada de 1865; a Irmandade do Espírito Santo das Pedras Brancas, cujo império data de 1926; Irmandade do Espírito Santo das Casas de Baixo, com império edificado em 1847. Tem ainda uma irmandade das crianças, conhecida pela «Coroinha», cujas festas são apoiadas pela irmandade da Terra Chã.

Economicamente a sua população vive essencialmente da agro-pecuária, da pesca e dos serviços, explorando sobretudo o gado bovino de carne e de leite, com predomínio do tipo de empresas familiares. A intensificação da agro-pecuária verifica-se na sequência da decadência progressiva das culturas tradicionais do milho, trigo, inhames, batatas branca e doce, feijão, couves e outras hortaliças, bem como de trevo, erva da casta, tremoços, favas e de outras culturas para alimentação dos bovino, face à elevada emigração para os Estados Unidos da América e Canadá e à globalização, sobretudo a partir da década de 1960. Na sequência do movimento cooperativo iniciado na ilha em meados da década de 1910, a freguesia chegou a ter uma cooperativa de produção de lacticínios, que, depois de passar por altos e baixos, entrou para a União das Cooperativas da Ilha das Flores, criada em 14 de Novembro de 1988, cuja fábrica e sede se situa no lugar dos Vales, em Santa Cruz das Flores (Trigueiro, 2003: 58). Para a moagem de cereais ali chegaram a existir quatro moinhos de água na Ribeira dos Moinhos, um na Ribeira da Fazenda e outro na Ribeira dos Ilhéus, agora desactivados e em ruínas. A pesca, que chegou a ser suficiente para a alimentação local, está a desaparecer, face à sua reduzida rendibilidade. A apanha e a recolha de algas marinhas destinadas à indústria, foi uma actividade que constituiu, sobretudo entre as décadas de 1960 a 1990, importante fonte de rendimento da freguesia, empregando elevada juventude de ambos os sexos. Ali chegou mesmo a existir uma empresa com instalações próprias, que procedia à aquisição dessas algas e as enviava para as fábricas de «agar-agar». As referidas algas, também conhecidas por sargaço, foram, durante séculos, importantes como fertilizante dos terrenos agrícolas da localidade. Nos serviços, os principais empregos verificam-se nos serviços públicos, localizados sobretudo na vila de Santa Cruz.

Praticamente isolada das restantes localidades da ilha até meados da década de 1960, ocasião em que ficou concluída a estrada que lhe serve de acesso terrestre, a freguesia até então era servida essencialmente por via marítima, através de embarcações costeiras, bem como por acidentados e rústicos caminhos terrestres. O seu pequeno porto que ainda funciona, sobretudo durante o Verão, embora agora com pouca utilização, serve a pouca pesca local, designadamente a pesca desportiva.

Cobrindo importante área de navegação marítima e aérea, local e intercontinental, que por ali transita em grande quantidade, o Farol do Albarnaz situa-se na ponta Norte da freguesia e da ilha. Construído em alvenaria com valor patrimonial histórico, entrou em funcionamento em 28 de Janeiro de 1925, servido por uma torre que está a 104 metros acima do mar, cuja lanterna dispara relâmpagos ou feixes luminosos de 5 em 5 minutos tem o alcance de 22 milhas (Aguilar, 2005: 298-301). Com um quadro de quatro funcionários, incluindo o respectivo chefe, que ali habitavam com suas famílias, presentemente funciona com três faroleiros. O nome de Albarnaz provém da designação da ponta da ilha onde o mesmo se situa, nome esse que terá tido origem no de um antigo proprietário desses terrenos proveniente do reino (Camões, 2006: 69).

Foi nos terrenos da freguesia, sobretudo nos seus matos, que esteve instalada a parte técnica da Estação de Telemedidas da França, entre 1964 e 1993 e que se destinava essencialmente à correcção de satélites. Era constituída por diversos edifícios de serviços e antenas exteriores, onde técnicos franceses especializados se deslocavam diariamente, provenientes da vila de Santa Cruz, onde tinham as suas residências. A sua instalação nesse local, habilmente conseguida pelo antigo governador do Distrito da Horta, Dr. António de Freitas Pimentel, apressou a edificação da estrada de acesso à freguesia (Trigueiro, 2003: 223-228).

Na cultura, para além do teatro, realizado com grupos de carácter eventual que surgem de tempos a tempos, a música é a actividade que maior projecção ali tem tido. Ficaram célebres os grupos corais da igreja, a tuna de bandolins e violas de José Garcia, bem como das danças de carnaval e dos ranchos de Ano Novo e Reis. Criada em 1942, a Filarmónica «União e Progresso Musical Senhor S. Pedro», depois de ter passado por largos períodos de actividade, mesmo no tempo em que a freguesia se encontrava isolada por estrada das restantes localidades da ilha, face à falta de juventude na localidade, suspendeu a sua actividade na década de 1990. Por sua vez, o «Grupo Folclórico da Casa do Povo de Ponta Delgada», instituído em 1981, tem divulgado o folclore florentino e açoriano, tendo actuado em diversas localidades, quer na ilha, quer fora dela (Trigueiro, 1998a: 69-77).

No desporto, foi no futebol que a freguesia mais se projectou, com equipa e campo desde 1966, quer com organização da FNAT/INATEL, quer da Associação de Futebol da Horta, embora com actividade suspensa desde 2002. Depois de uma persistente prática desportiva, o seu futebol chegou a representar a ilha em diversas provas açorianas. A freguesia possui também um campo polidesportivo, junto do edifício polivalente da Casa do Povo, que serve as crianças da escola e os adultos nas diversas modalidades desportivas, com destaque para o futsal (Trigueiro, 1998b: 93-96).

Nela nasceram importantes florentinos, entre os quais se salientam os seguintes: Dr. João dos Santos Silveira (1912-1980), poeta, professor e bibliotecário, salientando-se da sua produção literária o livro de poesia Poemas (1984); Dr. José dos Santos Silveira (1914-2005), juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, e poeta, com várias obras publicadas na área do Processo Civil e do Direito Penal, salientando-se na produção poética o livro A Voz dos Tempos Idos (1988); Dr. Carlos da Silveira Ribeiro (1933-2002), juiz e procurador-geral adjunto; Dr. José Abel da Silveira Ventura (1935), juiz desembargador jubilado; João Maria Soares Barcelos (1952), médico, que publicou Falas da Ilha das Flores ? Vocabulário Regional (2001).

Nesta freguesia paroquiou, viveu e morreu o padre José António Camões (1777-1827), poeta, escritor, professor e ouvidor eclesiástico, considerado o autor de Memórias da Ilha das Flores (1815-1822), Testamento de D. Burro Pai dos Asnos (1813), Os Pecados Mortais (1813) e de Poemas Dispersos (1821-1824), onde, depois de responder e de ser absolvido, em 1815, num polémico processo em Angra, perante a mesa capitular, ali leccionou a disciplina de Gramática Latina, recebendo estudantes das Flores, do Corvo e até do Faial. Faleceu aos 49 anos de idade e os seus restos mortais foram sepultados no cruzeiro da respectiva igreja em 1827 (Camões, 2006: 15-35).

São pontos de interesse turístico da freguesia, o Pico do Meio Dia, a Zona das Plataformas Francesas, o Facho, o Farol do Albarnaz e respectiva ponta, a baía vista do porto e do Alto do Portinho e a Igreja de S. Pedro. Das suas festas tradicionais salienta-se a de S. Pedro (29 de Junho), Santo Amaro (primeiro domingo de Setembro), S. João (segundo domingo de Julho), Espírito Santo e de Nossa Senhora da Guia. No artesanato indicam-se as rendas, malhas, bordados, colchas de retalhos e miniaturas em madeira de cedro da ilha. José Arlindo Trigueiro

Bibl. Aguilar, J. T. (2005), Onde a Terra Acaba ? História dos Faróis Portugueses. Lisboa, Pandora. Camões, J. A. (2006), OBRAS-Memória da Ilha das Flores, Testamento de D. Burro, Pai dos Asnos, Os Pecados Mortais, Poemas Dispersos. Lajes das Flores, Câmara Municipal de Lajes das Flores. Censos 2001. Angra do Heroísmo, Serviço Regional de Estatística. Diário da República (2003), III Série, n.º 120, de 24 de Maio. Gomes, F. A. N. P. (2003), A Ilha das Flores: da redescoberta à actualidade. Lajes das Flores, Câmara Municipal de Lajes das Flores. Instituto Nacional de Estatística (2002), XIV Recenseamento Geral da População. Lisboa, Instituto Nacional de Estatística.Trigueiro, J. A. A. (1998a), Filarmónicas das Flores. Santa Cruz das Flores, Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores. Id. (1998b), Futebol na Ilha das Flores. Lajes das Flores, Câmara Municipal de Lajes das Flores. Id. (2003), Retalhos das Flores ? Factos Históricos do Século. Lajes das Flores, Câmara Municipal de Lajes das Flores.