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Pereira, Brianda

[N. ilha Terceira, século XVI] Mulher terceirense conhecida popularmente como heroína pela sua participação no confronto com os castelhanos que pretendiam colocar a ilha sob o domínio de Filipe II. A figura mítica de Brianda Pereira foi sendo construída a partir do século XIX, com o apadrinhamento de Francisco Ferreira Drumond. Este historiador apoiou-se numa Relação anónima de 1611 que a ela se refere como Ângela Pereira, mulher de Bartolomeu Lourenço, rico lavrador residente no local da batalha. Depois de ver a sua casa tomada pelos castelhanos e o marido aprisionado, teria andado como doida animando os «portugueses para que melhor pelejassem». Na mesma Relação faz-se referência a outras mulheres que andavam com armas na mão junto dos maridos e outras que não tinham maridos. Por este texto, o único que faz referência a Brianda, nada ficou registado que a transponha para o pedestal da glória. Mas Ferreira Drummond, natural de S. Sebastião, local onde se registou a batalha da Salga, apesar do seu rigor positivista, não resistiu à influência da tradição oral, catalogando-a como heroína. A partir de meados do século XIX, passou então a ser vista como a líder da resistência, a responsável pelo armamento de outras mulheres, com um estatuto equiparado ao da padeira de Aljubarrota. Paralelamente, foi sendo realçada a sua beleza e o desejo dos castelhanos a possuírem. O patriotismo e a projecção nacional completaram o modelo da heroína terceirense. Os escritos de Gervásio *Lima foram, em boa medida, responsáveis pelo enraizamento das virtudes de Brianda no seio das camadas populares, que enriquecem a narrativa com outros pormenores. No período do Estado Novo, as principais personagens da resistência ao domínio filipino foram alvo de uma valorização e divulgação com o objectivo de apagar a memória dos heróis terceirenses do período liberal. Carlos Enes

Bibl. Enes, C. (2004), Brianda Pereira: a construção do mito, Atlântida, Angra do Heroísmo, XLIX: 45-56.