Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Pavão Júnior, José de Almeida

[N. Ponta Delgada, 6.12.1919 ? m. Ponta Delgada, 20.9.2003] Professor e escritor açoriano. Desde muito novo marcado pela vocação literária e, de uma forma mais geral, pelo gosto pela arte e pela cultura, José de Almeida Pavão encontrou nas Humanidades o ponto de referência central para a sua compreensão do homem e da vida, e uma atitude que deu unidade e sentido aos seus muitos interesses e a uma obra diversificada que abrange a crítica e o ensaio literário, a investigação etnográfica, a narrativa de ficção romanesca, a crónica de índole memorialista.

Feitos os primeiros estudos em Ponta Delgada, José de Almeida Pavão formou-se em Filologia Clássica na Universidade de Lisboa em 1941, para regressar a S. Miguel depois de concluir o curso de Ciências Pedagógicas e o estágio para o ensino liceal. Foi professor ao longo de 34 anos no Liceu Antero de Quental, tendo marcado várias gerações de uma cidade fértil em interesses culturais. À docência acresceu durante longos anos a responsabilidade de diversos cargos directivos, de entre os quais a reitoria. Convidado a integrar o corpo docente da Universidade dos Açores, em 1976, doutorou-se e ascendeu à cátedra de Literatura Portuguesa, tendo-se jubilado em 1989.

No seu magistério, a literatura foi sempre lição de humanidade vivida: daí nascia talvez o ânimo com que se dedicava à participação em colóquios e reuniões científicas, à docência no país e no estrangeiro (realcem-se ciclos de conferências em universidades brasileiras), e à publicação dos resultados da sua investigação.

Figura muito prestigiada social e culturalmente, José de Almeida Pavão mantinha um sentido de dever cívico e intelectual que se manifestou também nos anos em que dirigiu a Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada e na participação nas actividades do Instituto Cultural de Ponta Delgada, a cuja revista, Insulana, presidiu. Ao mesmo tempo, a divulgação do seu trabalho fazia-o publicar pequenos volumes em que ia reunindo os artigos dispersos por publicações como Colóquio, Euphrosine, Ocidente, Arquipélago, Revista Camoniana. Gil Vicente, Camões, Garrett, Fernando Pessoa constituem núcleos importantes dessas publicações, em que se encontram também alguns dos principais estudos críticos existentes sobre Armando Cortes Rodrigues e Gaspar Frutuoso.

A literatura e cultura populares constituíram um dos campos privilegiados de interesse de José de Almeida Pavão. Pertencem-lhe dois títulos fundamentais para o conhecimento da cultura popular dos Açores: Aspectos do Cancioneiro Popular Açoriano e Popular e Popularizante, apresentados em provas académicas.

O interesse crítico que o estudioso manifesta pela etnografia e pela literatura popular reconhece-se ainda na sua escrita ficcional, na sensibilidade viva com que, a partir de 1968, desenha figuras e ambientes populares em romances, contos e novelas de cariz regionalista. Neles procura criar artisticamente uma imagem do povo micaelense, ou seja, procura captar o típico, o local, e ao mesmo tempo evidenciar a universalidade. Salientam-se então obras como O Fundo do Lago (1978), Os Xailes Negros (publicado pela primeira vez em 1973, foi alvo de adaptação televisiva) ou O Além da Ilha (1990). Maria do Céu Fraga

Obras:

1. Ensaio: (1947) Sub Tegmine Fagi. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. (1951), Expressão e Perfeição em Poesia. Ponta Delgada, Tip. do Diário dos Açores. (1951), Reflexões sobre o Teatro Cómico. Ponta Delgada, s.n.. (1955), Garrett Clássico e Romântico. Ponta Delgada, s.n.. (1955), O Sacrifício. Coimbra, s.n.. (1957), As Humanidades e o Ensino. Separata da Revista Euphrosyne, Lisboa, vol. I, 1ª série: 147-177. (1958), Fialho: o Homem e o Artista. Aveiro, Tip. A Lusitania. (1959), Alves Redol e o Neo-Realismo. [Lisboa, Editorial Império]. (1961), Uma Gramática Latina de Verney. Separata da Revista Euphrosyne, Lisboa, vol. III, 1ª série: 111-126. (1962), Poesia e Mística. Lisboa, s.n.. (1964), A Poesia e a Novela em Frutuoso. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. (1967), A Cultura e o Homem. [Ponta Delgada, Of. Tip. do Diário dos Açores]. (1967), A Realidade e o Símbolo em Kafka. Lisboa, Editorial Império. (1967), Arte e Compromisso. S.l., s.n.. (1972) Antero e a Morte. Ponta Delgada, s.n.. (1972), Pessoa e os Heterónimos. Lisboa, s.n.. (1972), O Classicismo de Ricardo Reis. Lisboa, Centro de Estudos Clássicos. (1973), Xailes Negros. Ponta Delgada, s.n.. (1973), O Portuguesismo de Cecília Meireles e os Açores. Lisboa, s.n.. (1974), Sortilégio da Insularidade nos Poetas Micaelenses. Ponta Delgada, s.n.. (1977), Aspectos Populares Micaelenses no Povoamento e na Linguagem. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada (2.ª ed., rev. e aum, 1982). (1981), Aspectos do Cancioneiro Popular Açoriano. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. (1981), Popular e Popularizante. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. (1984), Temas Camonianos. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. (1988), Colagem dos Tempos. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. (1990), O Além da Ilha. Ponta Delgada, Emp. Gráfica Açoreana. (1991), Caminheiros da Cultura. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. (1992), Nugas Linguísticas. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. (1995), Páginas Revividas. Ponta Delgada, Jornal de Cultura, Instituto Cultural de Ponta Delgada. (1998), Páginas Revividas II. Ponta Delgada, Jornal de Cultura, Instituto Cultural de Ponta Delgada. (2001), Horas sem Tédio. Ponta Delgada, edição do autor.

Prefaciou: Cancioneiro Geral dos Açores (1982), de Armando Cortes-Rodrigues. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Cantos Populares Açorianos (1982), de Teófilo Braga. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. Os Maias. Adaptação do original de Eça de Queirós (1984), por José Bruno Carreiro. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

2. Ficção: (1968) Evocações. Ponta Delgada, Tip. do Diário dos Açores. (1970), A Roda do Tempo. [Ponta Delgada, Of. Tip. do Diário dos Açores]. (1978), Fundo do Lago. Ponta Delgada, s.n.. (1985), Ad Familiares. Ponta Delgada, s.n.. (1994), Relicário de Cantigas. Ponta Delgada, edição do autor. (1995), Espelho da Memória. Ponta Delgada, Éter. (1997), Marianinha. Ponta Delgada, s.n..