Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Pamplona, José Coelho

[N. Porto Martins, Cabo da Praia, 24.4.1843 ? m. Santa Cecília, S. Paulo, Brasil, 28.6.1905] Foi Comendador da Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e Visconde de Porto Martim, respectivamente, por decreto do Rei D. Carlos I, de 9 de Março de 1899 e de 29 de Agosto de 1905. O título provém da terra onde nasceu, ao tempo lugar do Porto Martins, freguesia do Cabo da Praia, concelho da Praia da Vitória, na ilha Terceira dos Açores. Era filho de outro José Coelho Pamplona e de D. Lauriana, e tetraneto do casal Manuel Paim da Câmara e de D. Apolónia de Merens Pamplona, que vivia no princípio do século XVIII no Belo Jardim, arredores da vila da Praia da Vitória, com ascendência no povoamento da ilha.

Adolescente, embarcou para o Rio de Janeiro onde viviam seus meios-irmãos Manuel Paim Pamplona e José Paim Pamplona, filhos do primeiro casamento do pai, já com desafogo económico, porque ali exploravam umas pedreiras chamadas de Gambôa, que forneciam pedra para as obras do porto do Rio de Janeiro.

É suposto que nessas obras se tivesse iniciado o futuro visconde, dada a técnica com que manejava a pedra, sozinho, apenas com a ajuda de uma barra de ferro, como ficou na tradição oral. Ao mesmo tempo que trabalhava, aproveitava as noites para estudar no Colégio de Artes e Ciências que existiu algures no Rio, procurando cultivar-se e obter uma cultura geral.

Naquela cidade vem a casar com sua sobrinha, D. Maria Vieira Paim Pamplona, filha do irmão Manuel Paim Pamplona, que vivia numa casa senhorial localizada no chamado Morro do Paim.

Do Rio foi viver para S. Paulo, que então passava por grande expansão e crescimento económico, cuja corrente de oportunidades não deixa escapar e investe em negócios de saboaria e numa inicial fabriqueta de velas, que teve enorme sucesso, constando mesmo que foi o fermento da sua fortuna. Mas terá sido o emprego dos seus recursos financeiros bem geridos na actividade imobiliária paulista que o tornaram magnata. Possuía grandes extensões de terreno loteado de uma enorme propriedade que pertencera a seu cunhado Mariano António Vieira, seu 12.º dono, oriundo da ilha de São Miguel, denominada quinta das Jaboticabas com grande mansão dos tempos coloniais, onde abundava o jacarandá.

José Coelho Pamplona, futuro titular, era homem prático, decidido e de espírito benemérito. Empregou grandes somas que ajudaram a expansão do Hospital de S. Joaquim, fruto do espírito associativo da Real Beneficência Portuguesa de S. Paulo, de que foi um dos fundadores, assim como o pavilhão para operações cirúrgicas, dirigida por grandes e prestigiosas figuras de portugueses, e que veio a tornar-se uma das melhores unidades hospitalares da América do Sul. Desta nobre instituição caritativa foi presidente anos sucessivos, homenageado e distinguido com a Cruz de Cristo, recebendo o título honroso de presidente honorário.

Enquanto isso, nas visitas que fez à sua terra natal, em 1898, 1900 e 1905, realizou a expensas próprias, relevantes obras de carácter associativo, filantrópico e social, contribuindo para o bem público do lugar e da população em melhoramentos e infra-estruturas inadiáveis, dedicando especial atenção ao ensino primário, fundando a Escola Mista de Santa Margarida, dotando-a com o lugar de uma professora, a qual que funcionou a título temporário em instalações improvisadas até se instalar em edifício feito de raiz e inaugurando em 1905, equipado com todo o necessário potencial escolar; reconstruindo e ampliando a pequena ermida de Santa Margarida de Pizídia, dotando-a com novas imagens, paramentos e alfaias sagradas; alindando o adro fronteiro; canalizando água potável para três chafarizes que construiu; levantando o Império do Divino Espírito Santo, anexou-lhe uma despensa e exercitando benemerências várias sempre no sentido da promoção social. Na sua terra, o concelho praiense elevou-o a Cidadão Honorário do Cabo da Praia, onde se inseria o Porto Martins, atribuído pela Junta de Paróquia, assim como viu o reconhecimento público no largo a que foi dado o nome de Largo do Comendador Pamplona e posteriormente a uma via com o seu título, caminho ou estrada do Visconde de Porto Martim, em oportunas e justas deliberações do município praiense. Também a toponímia da cidade de S. Paulo honrou esta filantrópica personalidade da comunidade açoriana ali radicada, atribuindo a artérias citadinas os nomes de algumas figuras ilustres da sua família, que mereceram destaque pela sua relevância social. Valdemar Mota

Bibl. Mota, V. (1978), O Visconde de Porto Martim um benemérito açoriano no Brasil. Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano da Cultura [Colecção Ínsula, n.° 13]. Nobre, A. G. (s.d.), Esboço histórico da Real e Benemérita sociedade portuguesa de S. Paulo, Brasil. S.l., Edição Paulista. Vieira, A. P. (1952), Chácara do Capão, separata do Departamento de Cultura de S. Paulo, Brasil.