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Nogueira, Bernardo de Sá (barão, 1.º visconde e marquês de Sá da Bandeira)

[N. Santarém, 26.9.1795 ? m. Lisboa, 6.1.1876] Também conhecido por Bernardo de Sá Nogueira e Figueiredo é uma das mais notáveis figuras da Monarquia Constitucional quer como militar, quer como político e chefe dos «radicais» moderados. A sua biografia é muito conhecida e de fácil acesso e por isso aqui na Enciclopédia Açoriana regista-se a sua ligação aos Açores.

Sá Nogueira foi o herói da retirada dos liberais em 1828, depois da derrota da tentativa de derrubar o governo de D. Miguel. Exilou-se com os outros em Inglaterra e foi dos primeiros a tentar ajudar pessoalmente os focos de resistência liberal nas ilhas. A primeira tentativa dá-se em Setembro de 1828, quando pretendeu atingir a ilha da Madeira onde o general Valdez fizera uma revolta liberal que acabou derrotada pelos miguelistas. Não podendo desembarcar do paquete inglês em que seguia continuou viagem e a 27 de Setembro estava em Tenerife, nas Canárias, tentando dirigir-se para a Terceira onde os liberais revoltados resistiam. Não lhe sendo possível esse intento seguiu para o Brasil para em Fevereiro de 1829 regressar ao exílio em Inglaterra. Tenta de novo alcançar a Terceira, onde Vila Flor (António José S. M. *Noronha) era capitão-general e Sá Nogueira havia sido nomeado seu chefe de Estado-Maior. Chegou ao porto de Angra a bordo do brigue inglês Briton, mas o seu barco foi detido pelo bloqueio miguelista à ilha e minuciosamente inspeccionado. Bernardo de Sá Nogueira e seu irmão José conseguem iludir as buscas escondendo-se em condições muito penosas entre o carvão do navio e desembarcar clandestinamente em Ponta Delgada refugiando-se em casa do cônsul inglês *Read, que lhes dá protecção. Este episódio tornou-se num dos mais admirados da heroicidade da emigração e alimentou a imaginação e a resistência nos dias negros do desânimo. É contado minuciosamente por Sá Nogueira no seu diário.

Só em Agosto (dia 4) ele e o irmão conseguiram sair clandestinamente de S. Miguel regressando a Plymonth, na Inglaterra. Passou então a França e foi do porto de Ostende que voltou a embarcar para a ilha Terceira, conseguindo desta vez desembarcar em Angra a 12 de Dezembro de 1829 e tomar finalmente posse do seu cargo de primeiro ajudante de ordens do capitão-general, conde de Vila Flor, a quem auxiliou nos trabalhos militares que se desenvolveram daí em diante. Esteve presente no desembarque no Pico, a 21 de Abril, combateu em S. Jorge a 9 de Maio pela conquista da ilha, tendo-se destacado e não sendo isento das responsabilidades pelos desacatos e assassinatos cometidos pelos liberais naquela ilha. Participou na ocupação do Faial a 23 de Junho e na conquista de S. Miguel a 1 de Agosto.

Com a chegada de D. Pedro, como regente, aos Açores, foi nomeado a 16 de Março de 1832 seu ajudante de campo acompanhando o «imperador» na corveta Amélia quando a 27 de Junho o Exército Libertador saiu de Ponta Delgada para Portugal.

Em 1831, em Abril, quando a regência vivia na Terceira uma desesperada situação financeira, ofereceu, numa exposição que enviou à rainha D. Maria II, todos os seus bens em Portugal para serem usados na luta pela causa liberal. Era uma atitude romântica de pouco efeito prático, mas de elevado simbolismo.

Foi um dos heróis do cerco do Porto e de toda a guerra civil o que lhe valeu as mais elevadas condecorações e o título de barão de Sá da Bandeira (4 de Abril de 1833), em memória da sua acção no alto da bandeira (Março de 1833) e depois visconde e marquês.

Deixou um diário da guerra civil que veio a ser publicado em 1975 por José Tengarrinha e no qual se encontram importantes notícias para a acção dos liberais nos Açores.

J. G. Reis Leite

Obra. (1975-1976), Diário da guerra civil (1826-1832). Lisboa, Seara Nova, 2 vols. [recolha, prefácio e notas de José Tengarrinha].

 

Bibl. Castro, A. M. T. C. (1876), O marquês de Sá da Bandeira. Biografia fiel e minuciosa do ilustre finado. Lisboa, Imprensa Nacional. Mónica, M. F. (coord.) (2006), Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910). Lisboa, Assembleia da República, II: 171-175. Nobreza de Portugal (1961), Lisboa, Editorial Enciclopédia, III: 251-259. Soriano, J. S. L. (1887-1888), Vida do marquês de Sá da Bandeira. Lisboa, Typ. Viúva Sousa Neves, 2 vols..