Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Meireles, Cecília (Cecília Benevides de Carvalho Meireles)

[N. Rio de Janeiro, 7.11.1901 ? m. idem, 9.11.1964] Poetisa

A morte marcou a sua infância ? o pai morreu três meses antes do seu nascimento e a mãe (que assistira à morte de três filhos antes do nascimento de Cecília Meireles) faleceu quando esta tinha três anos. A sua orfandade fez com que fosse criada pela avó materna, a micaelense Jacinta Garcia Benevides, de quem Cecília disse ter herdado «o que de mais profundo e autêntico» havia em si. A solidão silenciosa, uma acentuada consciência do binómio efémero-eterno e a intimidade tranquila com os mortos fizeram, assim, sempre parte da sua vida e seriam pedras de toque da sua poesia. Ao primeiro livro, atribuiram-se tendências parnasianas, mas Cecília Meireles depressa se revelou uma insula literária, fazendo convergir na sua poesia diversas perspectivas estilísticas (Classicismo, Simbolismo, Gongorismo, Romantismo, Realismo, as vanguardas Modernistas Brasileiras do tempo em que viveu) e imprimindo-lhes uma assimilação particular. Profissionalmente, foi professora primária e universitária ? chegou a ensinar Literatura Brasileira em Lisboa e Coimbra ?, tradutora, e exerceu uma importante acção como pedagoga e investigadora das tradições folclóricas. A sua relação com os Açores não se perdeu, acentuando-se também por meio de uma correspondência de dezoito anos, intensa e emotiva, com Cortes-Rodrigues. Visitou as ilhas apenas uma vez em 1951, encontrando nelas um cenário de imaginário místico que nutrira, desde sempre, no seu interior. O seu lirismo personalizado enriqueceu-se com as viagens à Índia, Europa, América, Terra Santa. A vocação de eterna navegadora não a impediu de sentir o Brasil natal em profundidade, e de o celebrar em Romanceiro da Inconfidência. Uma serena lutadora na vida pessoal ? casada com o pintor português Fernando Correia Dias, cuja depressão levou ao suicídio em 1936 (dele tendo três filhas), e depois com Heitor Grillo ?, é difícil definir Cecília Meireles como autora; porém, a claridade musical, o sentido da transcendência a par do da condição humana, a ânsia de perfeição versus o desalento do eterno vazio conjugam-se para tornar o seu lirismo um dos mais intemporais e universais da literatura brasileira. Postumamente, a Academia Brasileira de Letras concedeu-lhe o Prémio Machado de Assis pelo conjunto da sua obra (1965).

Carla Cook

Obras Principais: (1919), Espectros. Rio de Janeiro, Leite Ribeiro e Maurillo. (1923), Criança, meu amor. Rio de Janeiro, Anuário do Brasil. (1923), Nunca Mais ... e Poema dos Poemas. Rio de Janeiro, ed. Freitas Bastos. (1925), Baladas para El-Rei. Rio de Janeiro, ed. Lux. (1929), O Espírito Vitorioso. Lisboa, s.e. [ensaio para a vaga de professor de Literatura Brasileira]. (1930), Saudação à menina de Portugal. s.l, s.e. [folheto]. (1935), Batuque, Samba e Macumba. Lisboa, s.n.. [ensaio ? Portugal] (1937), A Festa das Letras. Rio de Janeiro, Nova Fronteira. (1939), Viagem. Lisboa, Editorial Império. (1942), Vaga Música. Rio de Janeiro, ed. Pongetti. (1944), Poetas Novos de Portugal. Rio de Janeiro, Edições Dois Mundos [ensaio] (1945), Mar Absoluto. Porto Alegre, ed. Globo. (1948), Rui ? Pequena História de uma Grande Vida. Rio de Janeiro, Livros de Portugal. [biografia de Rui Barbosa para crianças]. (1949), Retrato Natural. Rio de Janeiro, Livros de Portugal. (1950) [ensaio], Problemas de Literatura Infantil. S. Paulo, Editorial Summus. (1952), Amor em Leonoreta. Rio de Janeiro, Hipocampo. (1952), Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta. Rio de Janeiro, Livros de Portugal. (1953), Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro, Livros de Portugal. (1953), Poemas escritos na Índia. Rio de Janeiro, ed. Livraria de São José. (1955), Pequeno Oratório de Santa Clara. Rio de Janeiro, ed. Philobiblion. (1955), Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro. Rio de Janeiro, Philobiblion. (1955). Panorama Folclórico de Açores. [Ponta Delgada, Tip. Diários dos Açores]. (1956), Canções. Rio de Janeiro, Livros de Portugal. (1956), Giroflê, Giroflá. S. Paulo, ed. Moderna. (1957), Romance de Santa Cecília. Rio de Janeiro, ed. Philobiblion. (1957), A Rosa. Salvador, Dinamene. (1958), Obra Poética. Rio de Janeiro, José de Aguilar. (1960), Metal Rosicler. Rio de Janeiro, Livros de Portugal. (1963), Antologia Poética. Rio de Janeiro, Ed. de autor. (1963), Solombra. Rio de Janeiro, Livros de Portugal. (1964), Ou Isto ou Aquilo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira. (1964), Escolha o Seu Sonho. Rio de Janeiro, Record.

 

Obras póstumas: (1965), Crónica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Livraria José Olympo. (1966), O Menino Atrasado. Rio de Janeiro, Olímpica. (1968), Poemas italianos. S. Paulo, Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro. (1969), Poesias. S. Paulo, Melhoramentos. [inclui poemas inéditos]. (1972), Flor de Poemas. Rio de Janeiro, Aguilar. (1974), Elegias. Rio de Janeiro, Alumbramento. (1979), Flores e Canções. Rio de Janeiro, Confraria dos Amigos. (1994), Poesia Completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar. (1998), Obra em Prosa. 6 vols. Rio de Janeiro, Nova Fronteira. (2001), Canção da Tarde no Campo. S. Paulo, Global.

 

Bibl. Azevedo Filho, L. (1970), Poesia e Estilo de Cecília Meireles: a pastora de nuvens. Rio de Janeiro, Liv. José Olympio Ed. Bandeira, M. (s.d.), Modernistas In Apresentação da poesia brasileira, seguida de uma antologia de poetas brasileiros. Ediouro, Rio de Janeiro. Carvalho, R. G. (1943), A açorianidade na poesia de Cecília Meireles. Ocidente, XXXIII. Cavalieri, R. V. (1984), Cecília Meireles: O Ser e o Tempo na Imagem Reflectida. Rio de Janeiro, Achiamé. Coelho, N. N. (1993), O eterno instante na poesia de Cecília Meireles In A literatura feminina no Brasil Contemporâneo. São Paulo, Siciliano. Gouvêa, L. (2001), Cecília em Portugal. São Paulo, Iluminuras. Gouveia, M. M. M. (1993), Cecília Meireles: uma Poética do Eterno Instante. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. Gouveia, M. M. M. (2001), Vitorino Nemésio e Cecília Meireles ? A Ilha Ancestral. Porto, Fundação Eng. António de Almeida. Id. (1985), História e Poesia no Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. Igel, R.(1975), Despedida à vida e acercamento à morte, Belo Horizonte, Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais. Lamego, V. (1996) A farpa e a Lira ? Cecília Meireles na Revolução de 30, Rio de Janeiro, Record. Meireles, V. L. (1998), Cecília Meireles: Aspectos para uma Biografia. Ponta Delgada, EGA. Mourão-Ferreira, D. (1981), Temas e motivos da poesia de Cecília Meireles In Hospital das Letras. 2.ª ed., Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda. Nemésio, V. (1997), A Poesia de Cecília Meireles In Conhecimento de Poesia. 3.ª ed., Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda. Oliveira, A. M. D. (1988), Estudo crítico da bibliografia sobre Cecília Meireles. Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem-Unicamp. Ramos, M. L. (1960), Aspectos do Romanceiro da Inconfidência In Tendência 3 (separata), Belo Horizonte, s.n.. Ricardo, C. (1939), A academia e a poesia moderna. S. Paulo, Revista dos Tribunais. Russomano, M. (1979), Cecília Meireles e o Mundo Poético Infantil. Porto Alegre, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Queiroz, M. J. (1972), Linguagem e Expressão de Cecília Meireles. Belo Horizonte, Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais. Quintana, M. (1983), Cecília In A vaca e o hipógrifo. Porto Alegre, Rev. Porto Alegre. Sachet, C. [org. e notas] (1988), A Lição do Poema: Cartas de Cecília Meireles a Armando Côrtes-Rodrigues. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada [pref. de J. Almeida Pavão «O Portuguesismo de Cecília Meireles»]. Souza Neves, M. de, Lôbo,Y. L. e Venancio Mignot, A. C. [org.] (2001), Cecília Meireles: a poética da educação. Rio de Janeiro, Ed. PUC. Vitureira, C. (1965), La poesia de Cecília Meireles: estudio y antologia. Montvideo, Istituto de Cultura Uruguayo-Brasileño. Zagury, E. (1973), Cecília Meireles: notícia biográfica, estudo crítico, antologia, bibliografia, discografia, partituras [org.] Affonso Ávila. Petrópolis, Vozes.