Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Corte-Real, João Moniz

[N. Angra, 23.7.1785 ? m. Ibid., 9.1.1860] Morgado na ilha Terceira, alistou-se como voluntário no Batalhão da sua cidade natal, em 3 de Outubro de 1801, passando para a 2.ª Divisão da Brigada da Marinha. Foi cadete em 1802, alferes em 1809, tenente em 1813, capitão em 1820. Foi reformado em major. Fez as campanhas da Guerra Peninsular, entre 1809 e 1814, condecorado com a cruz de ouro n.º 6 e cavaleiro de Cristo e Avis. Na capital envolveu-se na revolução de 1820, mas em breve aderiu à causa do absolutismo, aspirando em 1823 ao governo da ilha de S. Miguel ou Faial, que lhe foi negado. Aquando da entrada em vigor da Carta Constitucional foi, devido à sua posição política, desligado do serviço, regressando à Terceira. Aqui, foi um entusiasta da aclamação de D. Miguel, em Maio de 1828 e chamado pelo capitão-general para precaver o levantamento militar de Caçadores 5 a favor da Carta, o que não conseguiu. Com a revolta de 27 de Junho de 1828, que estabeleceu a Carta, organizou a resistência realista com base nas ordenanças, ocupando a vila da Praia e aclamando D. Miguel, mas foi derrotado no recontro do Pico do Seleiro, em Outubro de 1828, a que não assistiu por estar recolhido devido a uma queda. Conseguiu escapar às prisões que se seguiram e ainda organizou a resistência com base nas guerrilhas que actuavam principalmente na área de Terra Chã, onde ele próprio tinha propriedades. Ficaram lendárias essas acções. Desiludido com a falta de apoio externo e incapaz de derrotar os liberais, e com a cabeça a prémio, saiu da ilha em 1829, passando por S. Miguel, onde se encontrou com o capitão-general absolutista, Sousa Prego. Seguiu para Lisboa, sendo recebido pelo rei D. Miguel a quem expôs a situação na Terceira. Foi mandado embarcar como ajudante-de-ordens do coronel José António de Azevedo, na esquadra que ia subjugar a Terceira. Assistiu ao desastre dessa expedição na baía da Praia, em 11 de Agosto de 1829, não chegando a desembarcar.

Escreveu um folheto, Fatalidades do Povo da Ilha Terceira, que é uma espécie de relatório da sua actividade e, ao mesmo tempo, libelo acusatório, que é hoje uma fonte primordial para a história dessa conturbada época.

É um dos derrotados, mas cuja imagem de coragem e coerência não pode deixar de ser assinalada, coisa que mesmo os seus adversários, como Drumond, não deixaram de admirar. J. G. Reis Leite (Jan.2001)

Obras. (1832), Fatalidades do Povo da Ilha Terceira na sua Política Contenda contra os Rebeldes, por João Moniz Corte-Real natural da mesma Ilha. Lisboa, Imp. Régia [2.ª ed., Arquivo dos Açores, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, X: 150-177]. (1833), Resposta ao Vice-Almirante Prego (pelo autor das ? Fatalidades do Povo da Ilha Terceira). Lisboa, Impr. Régia.

 

Bibl. Drumond, F. F. (1981), Anais da Ilha Terceira. 2.ª ed., Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, IV: 152 e segs. Soares, E. C. C. A. (1944), Nobiliário da Ilha Terceira. 2.ª ed., Porto, Liv. Fernando Machado, II: 163.