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Moura, Cristóvão (D.) (único conde e 1.º marquês de Castelo Rodrigo)

 [N. Lisboa, 1538 ? m. Madrid, 28.12.1613] Ficou na história portuguesa conhecido essencialmente pela actividade que desenvolveu a favor das pretensões de Filipe II ao trono de Portugal, que reconhecendo esses serviços o compensou generosamente. Viveu em Espanha desde muito jovem, ao serviço da princesa D. Joana, mãe de D. Sebastião, e Filipe II serviu-se dele como embaixador junto do cardeal infante D. Henrique, como regente e depois como rei, e de D. Sebastião.

Depois de Filipe II ser aclamado rei de Portugal, como Filipe I, Cristóvão de Moura foi feito vedor da fazenda, recebeu inúmeras mercês, entre elas o título de conde de Castelo Rodrigo, de que já era alcaide-mor, como seu pai e depois foi elevado por Filipe II de Portugal a marquês e por fim governador de Portugal por duas vezes, tornando-se num dos homens mais poderosos do seu tempo.

A sua ligação aos Açores, e que agora mais nos interessa, fez-se pelo seu casamento, promovido pelo próprio rei, com D. Margarida Corte Real, filha do 5.º capitão de Angra e 4.º de S. Jorge, Vasco Enes *Corte Real e sua herdeira, por ter morrido o primogénito varão em Alcácer Quibir. Ainda antes da conquista da Terceira recebeu as mercês de capitão da capitania de Angra e de S. Jorge, sendo assim o 6.º de Angra e o 5.º de S. Jorge, em sucessão de seu sogro, por carta de 27 de Janeiro de 1582.

Recebeu ainda, por a coroa a considerar vaga, a capitania da Praia, por carta de 14 de Agosto de 1582, reunindo as duas capitanias da ilha Terceira. Tomou posse das capitanias, por seu ouvidor, em Junho de 1583, e foram-lhe confirmadas mercês especiais e pessoais da data dos ofícios de tabelião nas três capitanias (cartas de 3 de Dezembro de 1584 e 17 de Junho de 1586) e ainda alçada da jurisdição exercida pelo seu ouvidor, por carta de 27 de Junho de 1582. Tudo isto era o engrandecimento e a restauração extraordinária dos poderes dos capitães e ia na contra-corrente da diminuição do efectivo poder jurisdicional dos capitães-do-donatário que Filipe II assim recuperava para o seu valido.

Gaspar Frutuoso dedica-lhe um panegírico muito significativo nas Saudades da Terra e é a ele que também é dedicada a célebre carta de Angra, desenhada por Linschoten e onde figuram as suas armas.

Em Angra ainda hoje perdura a sua memória com o nome da rua do Marquês, fronteira à casa do capitão, com escândalo de alguns por o considerarem um traidor à causa nacional. J. G. Reis Leite

Bibl. Arquivo dos Açores (1981). 2.ª ed., Ponta Delgada, Universidade dos Açores, IV: 162-163 [carta de doação da capitania de Angra, Lisboa, 27 de Junho de 1582], 168-170 [carta de doação da capitania da Praia, 14 de Agosto de 1582], 170-172 [alvará da posse das capitanias da ilha Terceira, S. Jorge e Praia, 1 de Julho de 1582 com uma apostilha, 21 de Junho de 1583], 172-175 [doação e confirmação das dadas dos ofícios de tabelião nas três capitanias, 3 de Dezembro de 1584, 16 e 17 de Junho de 1586]. Danvila, A. (1900), Don Cristobal de Moura. Madrid, Ed. Real Academia de la Historia. Frutuoso, G. (1963), Saudades da Terra. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, livro VI: 87-90. Leite, J. G. R. (2002), A honra, o serviço e o proveito, os capitães da Praia. Arquipélago-História, (2), VI: 11-31. Nobreza de Portugal (1960). Lisboa, Editorial Enciclopédia, II: 509-513.