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Montalverne, Frei Agostinho de

 [N. Ribeira Grande, S. Miguel, 11.1.1629 ? m. ibid., 1726] Filho de Estêvão Álvares Barreiro e de Guiomar Cabral pouco se sabe da sua biografia e aquela que chegou até nós é no essencial o que indagou Diogo de Barbosa Machado para a sua Biblioteca Lusitana (tomo I, fl. 72 e tomo IV, fl. 5) junto da comunidade franciscana da ilha de S. Miguel. É mesmo extraordinário o silêncio dos cronistas açorianos sobre o seu colega Montalverne.

Professou no convento da Ribeira Grande, onde iniciou os seus estudos com os frades franciscanos, mas mostra-se na sua crónica homem de cultura bastante limitada, sendo porém pregador de merecimento e gozando da fama de frade virtuoso, o que lhe valeu a escolha para comissário da Ordem Terceira da cidade de Ponta Delgada, em 1699. No fim da vida regressou ao convento da Ribeira Grande onde morreu quase centenário.

Deixou como obra uma crónica da província franciscana dos Açores cujo título completo é um verdadeiro programa Crónica da província de S. João Evangelista, das ilhas dos Açores, da Ordem de S. Francisco, em que se dá relação como foram descobertas as ilhas de S. Miguel e Santa Maria e da criação de suas vilas e cidades, com suas ermidas, freguesias, e pessoas de confissão, fundação de seus conventos, mosteiros e recolhimentos e do estado dos conventos e mosteiros, em tempo de comissão, custódio e província, das cousas da Misericórdia e suas rendas, e das cousas notáveis que tem acontecido e das pessoas que em virtude floresceram até ao ano de 1695. Conforme a mais verdadeira notícia que alcançou Fr. Agostinho de Mont?Alverne, indigno frade menor, filho da dita província.

A sua obra foi por muito tempo desprezada por incluir, com grande ingenuidade, as mais fantásticas histórias dos acontecimentos ditos milagrosos, mas não deixa contudo de ter o maior interesse para a história das mentalidades e contém informações importantes para o conhecimento de muitos factos do século XVII pois o autor conheceu as ilhas e recolheu nos conventos franciscanos muitos documentos hoje perdidos.

O interesse pelo seu manuscrito começou na segunda metade do século XIX principalmente com a chamada de atenção de José de Torres na Revista dos Açores (vol. I: 371-375), mas só em 1960 foi publicada por iniciativa de Rodrigo Rodrigues e concretização de João Bernardo de Oliveira Rodrigues, pelo Instituto Cultural de Ponta Delgada. O autógrafo conserva-se na Biblioteca Pública daquela cidade. J. G. Reis Leite

Obra. (1960-1962) Crónica da província de S. João Evangelista das ilhas dos Açores. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 3 vols..

 

Bibl. Dias, U. M. (1931), Literatos dos Açores. Vila Franca do Campo, Emp. Tip. Ltda.: 25-28. Rodrigues, J. B. O. (1960), Breve notícia sobre Fr. Agostinho de Monte Alverne e o seu manuscrito. In Crónica da província de S. João Evangelista das ilhas dos Açores. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada., I: XXI-XLVI.