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Meneses, José Maria Sieuve de (único visconde e 1.º conde de Sieuve de Meneses)

 [N. Angra, 20.11.1826 ? m. ibid., 4.11.1893] Filho do morgado João Sieuve de Seguier Camelo Borges e da sua segunda mulher D. Gertrudes de Meneses de Lemos e Carvalho, nasceu no solar de S. Sebastião da Pedreira, na freguesia da Conceição de Angra, o que tem levado alguns biógrafos, por confusão, a darem-no como natural de Lisboa. Ele próprio foi morgado e administrador de vínculos. Estudou em Coimbra, onde se formou em Direito, em 1853, regressado à Terceira fez uma notável carreira na política.

Em 1859 foi nomeado administrador do concelho de Angra e no ano seguinte eleito deputado pela primeira vez. Homem da Regeneração fez amizade pessoal e política com Joaquim António de Aguiar, eleito chefe regenerador e de seguida com Fontes Pereira de *Melo de quem foi sempre indefectível apoiante. Foi ele quem deu forma e vida ao Partido Regenerador no distrito de Angra do Heroísmo. Comprou o jornal A Terceira e a sua tipografia a André Meireles do Canto e Castro e transformou-o no órgão partidário dos regeneradores. Tornou-se o seu chefe incontestado e montou uma máquina partidária e uma rede de fidelidades e dependências pessoais que tornaram o Partido Regenerador, durante o período do rotativismo, no mais forte e praticamente imbatível. Em 1884 estava o Partido Regenerador no auge no distrito ganhando nas eleições desse ano a maioria e a minoria. Ainda que se tenha mantido como chefe partidário até ao fim da vida, nos últimos anos a sua chefia era mais nominal de que outra cousa e Jacinto *Cândido da Silva, a partir de 1887, já era o chefe regenerador de facto, uma vez que o 2.º conde de Sieuve Meneses não se mostrava capaz de continuar a obra do pai. A morte de conde Sieuve, como era conhecido, em 1893 abriu uma grave crise partidária entre os regeneradores do distrito de Angra do Heroísmo, da qual não voltaram a sair até ao final da monarquia.

O prestígio político e social do conde era enorme mesmo a nível nacional, sendo admirado e acarinhado pelo próprio rei D. Luís, que o fez visconde de Sieuve de Meneses (decreto de 6 de Março de 1873) e o elevou a conde (decreto de 17 de Fevereiro de 1885).

A sua administração no distrito foi muito marcada pelas obras públicas, principalmente estradas e canalizações de água potável, podendo-se dizer que foi o Fontes da Terceira, mas além disso a sua influência política permitiu a criação da comarca da Praia da Vitória, a elevação de curatos a paróquias, a reparação e construção de igrejas, reparação de edifícios públicos, etc.

Foi eleito deputado às Cortes nas legislaturas de 1860, 1861, 1864 e 1865, sempre pelo círculo uninominal da Praia da Vitória onde ainda hoje há uma rua com o seu nome, como aliás em Angra e nas legislaturas de 1874 e 1878 pelo círculo de Angra do Heroísmo. Foi um parlamentar distinto, mas um defeito gutural não lhe permitiu ser grande orador. Contudo, foi várias vezes secretário e em 1879 vice-presidente da Câmara dos Deputados. Esteve sempre atento aos interesses distritais no parlamento e intervinha com projectos próprios nos momentos oportunos, nomeadamente em matérias do regime especial da produção de tabacos, contratos de navegação e obras públicas. Pelo decreto de 29 de Dezembro de 1881 foi feito par do reino vitalício, mas depois de tomar posse, a 24 de Março de 1882, alegando doença, não voltou a Lisboa. Acabara a sua carreira parlamentar.

Exerceu a função de presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (1874-1875), onde existe no salão nobre um retrato seu. Foi vogal do Conselho do Distrito, juiz substituto e *governador civil em várias ocasiões (1881, 1883-1884, 1885-1886). Pertenceu a inúmeras comissões de caridade e praticamente a todas as associações pias e de beneficência, com destaque para o lugar de provedor da Misericórdia de Angra.

Era moço fidalgo, com exercício no paço, cavaleiro e comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Casado com D. Ana Raimunda Martins Pamplona, rica herdeira e administradora do vínculo, formaram uma das mais prestigiadas famílias aristocratas de Angra na segunda metade do século XIX. J. G. Reis Leite

Bibl. Álbum Açoriano (1903). Lisboa, Ed. Oliveira e Baptista: 322-323. Conde Sieuve de Meneses (1893). A Terceira, Angra do Heroísmo, 11 de Novembro, n.º 1.794. Canto, E. (1890), Biblioteca Açoriana. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, I: 27. Dicionário Biográfico Parlamentar (2005). Lisboa, Assembleia da República, II: 918-919. Leite, J. G. R. (1995), Política e administração nos Açores de 1890 a 1910. O 1.º movimento autonomista. Ponta Delgada, Jornal de Cultura: 43-54, 83-92. Rodrigues, V. L. G. (1985), A geografia eleitoral dos Açores de 1852 a 1884. Ponta Delgada, Universidade dos Açores.