Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Lorvela, Sebastião Correia de

[N. Angra, 1620 ? m. ibid., 23.11.1672] Filho de Tomé Correia da Costa, loco-tenente do marquês de Castelo Rodrigo, capitão das duas capitanias da ilha Terceira, de S. Jorge, do Faial e do Pico, e de D. Catarina Caixa, natural de Cuenca, em Castela, teve por padrinho de baptismo o bispo D. Agostinho Ribeiro. A vida aventurosa de Sebastião Correia de Lorvela mereceu a atenção e o elogio dos historiadores seus contemporâneos. Em 1638, com 18 anos, embarcou na armada para o Brasil, como capitão de uma companhia do terço que o mestre-de-campo D. Rodrigo Lobo organizou nas ilhas. Após servir em terras brasileiras, partiu em 1642 para o reino, como capitão de infantaria do terço da armada e capitão de proa de uma fragata. Nesse ano, recebeu a promessa de um hábito da Ordem de Cristo, confirmada por alvará de 20 de Setembro de 1643 (Arquivo dos Açores, 1981, V: 224-225). Em 1643, passou ao Alentejo, integrado num terço, participando nas campanhas que decorreram no Alentejo e na Extremadura espanhola até finais da década, quando se viu envolvido no processo relativo à morte de um fidalgo na corte. Sebastião Correia de Lorvela conseguiu escapar num primeiro momento à punição régia devido à acção do conde de Cantanhede, que agiu como seu protector, pois, como escreveu o Padre Manuel Luís Maldonado, no círculo da casa condal, ninguém era mais estimado «pello valor, e procedimento que nelle conhecia» (Maldonado, 1990, 2: 464). No entanto, Sebastião Correia acabou por abandonar as armas em 1656, pois D. João IV não esqueceu o seu envolvimento no citado homicídio, nem terá gostado de o ver em posição de destaque entre os homens do conde de Cantanhede. Nos anos imediatos, o azar de Sebastião Correia continuou a persegui-lo. Em 1657, foi nomeado capitão-de-mar-e-guerra do galeão São Gonçalo e, em 1658, foi enviado à Terceira como mestre-de-campo, para aí organizar o levantamento de um terço de infantaria paga e de cavalaria para a guerra no Alentejo. Porém, no regresso ao reino, em princípios de 1659, a urca na qual viajava com seus sobrinhos e outros nobres terceirenses, que iam prestar serviço militar, foi capturada por holandeses, que os desembarcaram na Corunha. Sebastião Correia de Lorvela, os dois sobrinhos e mais oficiais foram enviados para Madrid, onde faleceu um dos companheiros de viagem, Carlos do Canto e Castro, filho de João do Canto e Castro. Após oito meses de cativeiro, Sebastião Correia de Lorvela foi libertado, tendo servido como moeda de troca de um nobre capitão de cavalos. De regresso a Portugal, recebeu a notícia da morte de um filho natural, estudante em Coimbra. No início da década de 1660, Sebastião Correia viu recompensada a sua dedicação à coroa: em 1661, por diploma de 15 de Janeiro, foi agraciado com a pensão de 150.000 réis de renda, extraídos das redízimas do almoxarifado da Graciosa, e em 1662, pelo alvará de 1 de Março, recebeu o foro de fidalgo cavaleiro. Foi então provido no terço de Cascais e regressou ao Alentejo, estando presente na batalha do Ameixial ou do Canal, no Alentejo, que se traduziu numa importante vitória portuguesa, a 8 de Julho de 1663, e na restauração de Évora. Recebeu o título de general de artilharia ad honorem do Estado do Brasil e governou a praça de Elvas, onde adoeceu com gravidade. De regresso a Lisboa, em 1667 conseguiu a mercê de poder viver nas casas do marquês de Castelo Rodrigo, em Angra. Nomeado governador do castelo de S. João Baptista, em Angra, os seus achaques não permitiram que tomasse posse do ofício. No entanto, devido à sua notável folha de serviços, foi-lhe concedido que vencesse o respectivo soldo, «como se actualmente lidasse naquella occupação» (Maldonado, 1990, 2: 470). Até à sua morte, manteve a confiança do príncipe regente, D. Pedro. Faleceu em Angra, a 23 de Novembro de 1672 (Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, Secção I, Cartórios Paroquiais, Sub-secção A, Divisão 5, Colecção b, Terceira, Angra do Heroísmo, Sé, Óbitos (1660-1678), Livro 6, fl. 121), sendo sepultado na fortaleza do Monte Brasil, no jazigo dos governadores, com toda a pompa. Foi, nas palavras do cronista Manuel Luís Maldonado, um dos «varões sinalados que no Seculo de seiscentos illuxtrarão sua patria» (Maldonado, 1990, 2: 473). José Damião Rodrigues

Fontes Manuscritas: Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, Secção I, Cartórios Paroquiais, Sub-secção A, Divisão 5, Colecção b, Terceira, Angra do Heroísmo, Sé, Óbitos (1660-1678), Livro 6.

 

Bibl. Arquivo dos Açores (1981). Edição fac-similada da edição original, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, V. Maldonado, M. L. (Pe.) (1990), Fenix Angrence. Transcrição e notas de Helder Fernando Parreira de Sousa Lima, Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira, 2. Rodrigues, J. D. (2002), Entre duas margens: a circulação atlântica dos Açorianos nos séculos XVII e XVIII. Arquipélago-história, (2), VI: 225-245.