Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Medeiros, José Honorato Gago da Câmara de (3.º visconde de Botelho)

 [N. Ponta Delgada, 19.5.1906 ? m. Lisboa, 8.5.1979] É uma das personalidades mais interessantes da sociedade açoriana e mesmo portuguesa do século XX, quer como técnico altamente especializado, como analista do atlantismo, como memoralista e como genealogista, além de benemérito.

Foi engenheiro civil pela Universidade de Gand (1926) e pela École Supérieur de l?Electricité de Paris (1928) e regressado a Portugal ocupou inúmeros cargos na área da marinha mercante, principalmente como engenheiro chefe do Estaleiro Naval do Porto de Lisboa (1929-1936) e como administrador da Companhia da Navegação Carregadores Açorianos (1943 a 1972) quando esta se fundiu com a Empresa Insulana de Navegação. Foi responsável pela construção de vários navios e barcos e colaborou em instituições internacionais da sua especialidade, como o Instituto Português de Conservas de Peixe, onde foi director adjunto (1937-1939), secretário-geral da SACOR (1939-1942) e vogal da Junta Nacional da Marinha Mercante (1951-1957). Foi ainda consultor de armadores nacionais ou de estaleiros estrangeiros em grande parte das encomendas de navios de carga e paquetes da renovação da marinha mercante (1945-1955).

Em 1936 foi nomeado procurador à Câmara Corporativa, como representante das empresas de navegação, cargo que exerceu na 2.ª e 3.ª sessão da I legislatura (1936-1938), na VII legislatura (2.ª sessão ? 1958-1959), e em toda a X legislatura (1969-1973).

O governo português encarregou-o de várias missões internacionais e diplomáticas, sendo as principais na NATO e no Direito Marítimo Internacional. Tinha uma vocação especial para a diplomacia e por mais de uma vez esteve próximo de ser nomeado embaixador, no Brasil e na Santa Sé. Representou o Vaticano, na sua condição de Camareiro Secreto de Capa e Espada da Santa Sé, em reuniões internacionais.

Deixou uma vasta bibliografia de mais de 30 volumes, principalmente em três áreas distintas de interesses. A primeira na sua especialidade profissional, que é a mais extensa, com trabalhos sobre construção naval e marinha mercante. A segunda de reflexão política sobre o atlantismo, que o acompanhou ao longo da vida e onde os Açores ocupavam um lugar de destaque. Uma terceira que poderemos classificar de histórica, onde realçam os estudos genealógicos, principalmente da busca apaixonada das raízes e das glórias familiares, alguns estudos de história nacional e um interessantíssimo livro de memórias, Um açoriano no Mundo.

Deixou também uma vasta obra jornalística, tendo sido director do Jornal do Comércio das Colónias (1933), e colaborador de A Voz, Diário de Notícias, Jornal da Marinha Mercante e de muitos boletins de várias associações.

O visconde de Botelho manteve sempre um grande interesse e uma participação muito activa na vida económica, social e política dos Açores, principalmente da ilha de S. Miguel, onde foi grande proprietário, industrial e armador.

Foi ainda mecenas e benemérito. Deixou a sua biblioteca pessoal à Universidade dos Açores, infelizmente desaparecida no incêndio que destruiu o edifício da reitoria e o seu arquivo à Biblioteca Nacional de Lisboa. Comprou o manuscrito de Frei Diogo das *Chagas, Espelho Cristalino, que ofereceu à Biblioteca Pública de Ponta Delgada e como benemérito instituiu em 1952 a *Fundação dos Botelhos Nossa Senhora de Vida e instituiu um prémio anual «Princesa Isabel de Portugal Duquesa de Borgonha» para o aluno mais classificado em Arquitectura Naval, da Universidade de Gand.

José Honorato de Medeiros era, por sua mãe, bisneto do 2.º visconde de Botelho, José Bento Botelho de *Gusmão, e foi autorizado por D. Manuel II, no exílio, a 10 de Junho de 1932, a usar o título de 3.º visconde de Botelho, tendo alvará do Conselho de Nobreza a 10 de Julho de 1948.

Era condecorado com a grã cruz da Ordem de Cruzeiro do Sul (Brasil), do Mérito Naval (Espanha), do Santo Sepulcro (Vaticano) e de Ruben Dario (Nicarágua), grande oficial da Ordem do Infante D. Henrique, comendador da Ordem de Cristo, do Mérito Industrial e do Mérito Naval (Brasil). Era cavaleiro da Legião de Honra (França) e foi distinguido com a medalha da OTAN pelos serviços prestados à Aliança Atlântica. J. G. Reis Leite

Obras principais. (1939), O problema da marinha mercante. Lisboa, Of. Gráfica. (1942), O transporte marítimo: contratos de transporte e de seguros marítimos. Lisboa, Parceria de A. M. Pereira. (1944), Esboço de uma solução do problema da nossa marinha mercante e as ligações marítimas e aéreas entre os Açores e o continente e inter-insulares. Lisboa, Soc. Ind. De Tipografia. (1946), Perspectivas marítimas açorianas. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 64 (3/4), Março, Abril: 80-86. (1957), Os Botelhos de Nossa Senhora da Vida. Lisboa, Ed. do autor. (1962), Companhia de Navegação ?Carregadores Açorianos? (exposição apresentada à Assembleia Geral). Ponta Delgada, Companhia de Navegação Carregadores Açoreanos. (1963), Palestra com os portugueses da América. Providence, Ed. do autor. (1965), Quo vadis Ocidente?. Lisboa, Pap. Fernandes. (1965), Rumo avante (comunicações feitas, em nome do Conselho de Administração e Assembleia Geral da Companhia de Navegação Carregadores Açorianos). Lisboa, Parceria A. M. Pereira. (1968), Conceitos de política atlântica. Lisboa, Parceria A. M. Pereira. (1969), Desafio na marinha de comércio. Política dos transportes marítimos. Lisboa, Gráfica Santelmo. (1972), Asas portuguesas em demanda do cruzeiro do sul. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. (1972), O encoberto nos Jerónimos. Lisboa, Centro de Estudos da Marinha. (1972), Nato and the Indian Ocean (conferência). Nova Iorque, National Itategy Information Center. (1972), Os Lusíadas e o Pacto do Atlântico. Lisboa, Centro de Estudos da Marinha. (1977-1978), Um açoriano no mundo. Ponta Delgada, Liv. Mendes, 2 vols.. (1978), Encontro com as raízes: origens da família Corvelo e do seu apelido. Armas e Trofeus, (3), VII, 2-3: 209-253. (1978), O mar patrimonial dos Açores. Ponta Delgada, Liv. Mendes.

 

Bibl. A nobreza de Portugal (s.d.). Lisboa, Editorial Enciclopédia, I: 430-432. Anais da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa, X Legislatura, 1.ª sessão, 1969-1970 (1971). Lisboa, Imprensa Nacional: 768-770. Biblioteca do visconde de Botelho (1983). Ponta Delgada, Universidade dos Açores, Serviços de Documentação (policopiado). Sousa, J. S. (1981), O visconde do Botelho e a sua obra. Arquipélago, Ciências Humanas, III: 197-217 [com uma lista bibliográfica do visconde do Botelho].