Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Maia, Francisco de Ataíde Machado de Faria e

 [N. Ponta Delgada, 22.9.1876 ? m. ibid., 29.4.1959] Estudou inicialmente na sua cidade natal e entre 1896 e 1901 frequentou a Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Direito. Deixou um livro de memórias desses anos em que conviveu com Teixeira de Pascoaes e Afonso Lopes Vieira. Acabado o curso, regressou a Ponta Delgada onde exerceu o cargo de inspector escolar distrital, cuja acção compilou numa das suas primeiras publicações, Em Prol da Instrução (1909), e foi professor de liceu. Viveu com a família na Suíça e viajou pela Europa, deixando também literatura dessas viagens, nomeadamente do seu interesse pela democracia na Suíça. É um dos melhores autores açorianos de literatura de viagens. Com a proclamação da República, em 1910, devido ao seu ideário republicano, foi convidado a assumir a presidência da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Ponta Delgada, que voltou mais tarde a presidir (1943). Foi eleito senador pelo distrito de Ponta Delgada, em 1921, como independente. Como político, foi um autonomista entusiasmado e o seu projecto de lei para a Autonomia Administrativa dos Distritos Açorianos era uma «pedrada no charco» republicano sobre as questões de descentralização. Reuniu mais tarde em livro as suas opiniões sobre a autonomia, escritas quando acreditou que a ditadura militar saída do golpe de 28 de Maio de 1926 teria uma atitude de maior abertura às questões autonómicas açorianas. Foi aliás apoiante, com outros, dessa solução autoritária, mas rejeitou o Estado Novo. Participou activamente no Congresso Açoriano de 1938 e redigiu um relatório a pedido do Ministro do Interior em nome da Comissão para o Aproveitamento Turístico da ilha de S. Miguel, que esteve na base dos diplomas que visavam a criação da primeira zona de turismo dos Açores.

Foi um escritor incansável e jornalista, mas da sua obra destaca-se a historiografia, não porque tenha sido um investigador, mas pelas sínteses notáveis que deixou sobre a história de S. Miguel em três livros inovadores, os Capitães dos Donatários (1439-1766), os Capitães Generais (1766-1832) e Novas Páginas de História Micaelense (1832-1895), que ainda hoje são úteis e de proveitosa leitura. Anteriormente tinha-se interessado pelo período da época liberal com uma monografia sobre um deportado da Amazonas, o Dr. Vicente Cardoso da Costa, seu antepassado. J. G. Reis Leite

Obras. (1909), Em Prol da Instrução. Ponta Delgada, Typ. A. Medeiro. (1912), Kodaks (Impressões de viagem). Lisboa, Ferin. (1927), Pela Suíça e pelo reino. Paisagens, escolas e aspectos. Ponta Delgada, Tip. de Artes Gráficas. (1931), Um deportado da Amazonas (Época liberal nos Açores) (1810-1834). Ponta Delgada, Tip. Casa F. D?Alcântara. (1932), Em Prol da Descentralização. Livre administração dos Açores pelos açoreanos. Colectânea de artigos de propaganda da descentralização administrativa de S. Miguel. Ponta Delgada, Tip. da Casa F. D?Alcântara. (1937), A minha velha pasta. Tempos de Coimbra gente do meu tempo (1896-1901). Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores. (1942), Capitães dos Donatários. Subsídios para a história de S. Miguel (1439-1766). Ponta Delgada, Of. Diário dos Açores [2.ª ed., Ed. Maria Luísa F. M., 1972, 3.ª ed., Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1988]. (1943), Capitães Generais (1766-1831). Subsídios para a História de S. Miguel e Terceira. Ponta Delgada, Typografia Regional. [2.ª ed., Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1988]. (1947), Novas Páginas Micaelenses (Subsídios para a História de S. Miguel) (1832-1895). Ponta Delgada, Tip. Insular [2.ª ed., Jornal de Cultura, 1994].

 

Bibl. Maria, A. F. (1972), Nota Biográfica In Capitães dos Donatários. 2.ª ed., Ed. Maria Luísa F. M.: 4. Necrologia (1959). Insulana, XV (1): 234.