Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

laranja (história económica até à actualidade)

A laranja é um fruto produzido por uma árvore do género citrus, da família das rutáceas. É proveniente do continente asiático, nomeadamente do sul da China e da península da Indochina. De modo geral, a laranjeira desenvolve-se bem nas zonas temperadas dos hemisférios norte e sul, em regiões onde as temperaturas se situam entre um mínimo de 10 graus, no Inverno, e de 34 graus, no Verão. Nos Açores, esta planta encontra excepcionais condições de amenidade climática para prosperar, devido à influência benéfica da corrente quente do Golfo do México. Contudo, a sua cultura não pode ser feita nos terrenos mais elevados nem no interior das ilhas, por causa dos frequentes nevoeiros, dos ventos fortes e da fraca luminosidade que não permitem uma conveniente polinização nem o amadurecimento dos frutos, que ficam cascudos e insípidos. É, por conseguinte, nas terras do litoral e nalguns vales mais propícios do interior das ilhas que se situam os pomares de fruta de espinho. Também não podem ficar muito próximos da beira-mar, por causa do efeito nocivo dos ventos salgados que cresta a vegetação. Não se trata de uma planta muito exigente quanto à natureza e composição dos solos, por isso o maior obstáculo para o desenvolvimento dos pomares foi, desde o início, as ventanias que amiúde fustigam as ilhas. Os agricultores açorianos aprenderam a defender as plantações com sebes vivas ou abrigos, usando a faia das ilhas, os incenseiros, o metrosídero, a loureira e o cedro de palma (Pereira, 1949: 31). Estes abrigos ensombram os pomares, dificultam o seu arejamento e obrigam as árvores a crescer muito na vertical, com prejuízo dos ramos periféricos geralmente mais produtivos, mas são inevitáveis. A elevada humidade do arquipélago permite a dispensa das regas, excepto nos primeiros anos da plantação, e não parece ter efeitos prejudiciais na cultura das auranciáceas.

Conhecem-se muitas variedades de laranja doce ou citrus sinensis, mas só algumas têm sido cultivadas nos Açores. A laranja da terra ou temporã é o tipo vulgar das laranjas mediterrânicas, caracterizado por amadurecer cedo, entre Dezembro e Janeiro. Este tipo de laranja constituiu o grosso da exportação dos Açores para a Inglaterra, no século XIX. Depois da escolha dos melhores exemplares, era embarcada em largas quantidades e ficou conhecida pela «St. Michael?s orange». A laranja selecta foi introduzida em meados do século XIX, vinda do Brasil, e a sua maturação faz-se de Março a Junho. A laranja de umbigo caracteriza-se por apresentar uma excrescência ou mamilo junto ao ápice do fruto. Conhecem-se nos Açores dois subtipos: a laranja da Baía e a da Califórnia. Amadurece entre Janeiro e Fevereiro. Há ainda outras variedades de laranja que têm sido cultivadas nas ilhas em reduzida escala, tais como a laranja sanguínea, a laranja prata e a laranja-lima, entre outras que foram introduzidas ao longo do século XX. A laranja azeda existe desde o início do povoamento e as sementes eram aproveitadas para a obtenção de porta-enxertos, o sumo servia como condimento e as cascas para a confecção de marmelada. As outras frutas de espinho cultivadas são a mandarina (ou laranja mandarim), a tangerina vulgar e, naturalmente, diversas variedades de limão. A lima também se cultiva em diminutas quantidades, distinguindo-se a lima da Pérsia e a lima da terra ou azeda. Por fim, pode-se ainda referir o pomêlo ou grapefruit, introduzida no século XX, e a cidra, de que existem raros exemplares.

Já existem referências aos pomares de fruta de espinho, em especial de laranjeiras e limoeiros, na obra de Gaspar Frutuoso. As laranjas eram mesmo utilizadas, no final do século XVI, em jogos com os quais os habitantes de S. Miguel se divertiam, atirando-as e apanhando-as como se fossem pélas. Estas árvores foram introduzidas pelos povoadores das ilhas e eram importantes para a alimentação das populações e para o refresco das naus. No século XVIII, parece que já se exportavam laranjas para a Inglaterra e a França, e também iam da ilha do Faial para a América do Norte. Mas foi no século XIX que a cultura e a exportação da laranja se afirmou como uma actividade de significativa importância na economia de algumas ilhas açorianas. No segundo quartel daquele século, sobrepôs-se mesmo às tradicionais exportações de cereais e de vinho. As laranjas açorianas tornaram-se famosas pela sua qualidade e, em 1821, um visitante estrangeiro refere que especialmente as de S. Miguel eram «afamadas tanto pelo seu fino aroma, como pelo seu doce sumo» (Webster, 1983: 150). No seu relato menciona os altos muros de pedra que rodeavam as quintas, por vezes ainda subdivididas interiormente, e as filas de incensos que abrigavam as árvores da violência dos ventos. Isso tornava os terrenos demasiado sombrios e húmidos, prejudicando a produção dos frutos. Também critica a pouca simetria das plantações, o excesso de folhas e de vergonteas que se deixava crescer, e a falta de providências contra o ataque nocivo dos insectos e de outros parasitas, contra os quais se limitavam a aplicar uma leve camada de alcatrão nas árvores. As técnicas da cultura não eram muito apuradas, mas, mesmo assim, obtinham-se boas colheitas.

Os pomares eram mais abundantes nas ilhas de S. Miguel e da Terceira, apesar de também existirem nas outras ilhas do arquipélago. As quintas ocupavam uma área relativamente limitada, apesar do seu valor económico. Na ilha de S. Miguel, a estrada litoral de Ponta Delgada a Lagoa era bordejada por pomares, que exalavam um perfume intenso e agradável. Na ilha Terceira, a maior parte das quintas situava-se nos arredores de Angra, na zona de S. Carlos. A cultura das laranjeiras é extensiva e pouco dispendiosa para os agricultores. Além dos vendavais, os principais inimigos dos pomares são as pragas e os pássaros granívoros que causam elevados estragos. Segundo os poucos dados disponíveis sobre a produção de laranja, podemos constatar que S. Miguel produzia mais do que o total das outras ilhas, no século XIX. Entre 1860-1865, o distrito de Ponta Delgada produzia uma média anual de 229.931,5 milheiros; o de Angra do Heroísmo ficava bastante aquém com uma produção de 45.749 milheiros, em 1857; e o da Horta quedava-se por 10.725,6 milheiros, em média por ano, entre 1861-1863 (João, 1991: 50). Em 1873, a ilha de S. Miguel produziu 164.586 milheiros e as restantes ilhas do arquipélago somente 58.119 milheiros, isto é, quase três vezes menos quantidade.

Quando confrontamos aquelas quantidades com a exportação média anual do mesmo período, verificamos que mais de metade da produção tinha esta finalidade. A laranja era, sobretudo, exportada para a Grã-Bretanha. Chegou a ser enviada para a América do Norte, mas a longa viagem estragava grande parte da fruta e tornava pouco lucrativo o negócio. Em 1821, os açorianos que queriam arriscar na exportação de laranja eram raros. Esta actividade ficava a cargo de comerciantes ingleses e americanos, ou dos seus agentes nas ilhas. Mas, em 1860, já existiam vinte e cinco casas exportadoras de laranja na ilha de S. Miguel, na esmagadora maioria de portugueses. Os lucros do comércio da laranja justificavam, naquela época, o elevado risco que os exportadores tinham de correr. A fruta era, geralmente, comprada ainda nas árvores, o que se chamava «comprar fruta no ar». Qualquer vendaval podia deitar o negócio a perder, porque as laranjas caídas no chão não podiam ser embarcadas. A concorrência era feroz e, por isso, cada comerciante queria assegurar os seus fornecedores a tempo e pelo melhor preço. A laranja era embarcada entre Novembro e Maio, coincidindo o tráfego mais intenso com alguns dos meses mais perigosos para a navegação no oceano Atlântico, em plena invernia. Eram veleiros os navios que faziam o transporte da fruta e os atrasos nas viagens, por causa do mau tempo, podiam estragar quase todo o carregamento. A laranja seguia acondicionada em caixas de madeira, envolvida em folha de milho, mas para poupar nos direitos alfandegários, nos portos britânicos, iam bastante apertadas. Cada caixa levava uma média de 750 laranjas, podendo elevar-se a 800 ou 900, segundo outras fontes. O número de caixas exportadas por ano era bastante irregular. Os picos máximos foram atingidos no final dos anos 60, elevando-se a exportação média anual de S. Miguel a 206.704 caixas, no quinquénio de 1865-1869. Nos mesmos anos, a exportação da ilha Terceira era de 30.719,2 caixas, em média, e a do Faial quedava-se por 9.233 caixas (João, 1991: 159). Entre 1833 e 1870, S. Miguel foi responsável por quase 82% do total da exportação de laranja dos Açores, a Terceira ficou por 14% e o Faial por uns escassos 4%. No conjunto, as ilhas dos Açores chegaram a representar metade de toda a importação de laranja nos portos britânicos, precisamente no início dos anos 60. Mas a concorrência da laranja proveniente do continente português, da Espanha, da Sicília e de outras regiões começou a fazer-se sentir e a diminuir a cota de mercado dos Açores. O aumento da oferta foi reduzindo os preços e, para compensar a perda de rendimento, os produtores e comerciantes tendiam a exportar mais quantidade, o que levou o cônsul português em Bristol a alertar para o erro de inundar o mercado britânico de laranjas (João, 1991: 104). A baixa dos preços ia diminuindo as margens de lucro e tornava o negócio menos compensador.

A laranja chegou a representar mais de metade do valor total das exportações da ilha de S. Miguel. Entre 1860-1866, o valor da exportação foi superior a 720 contos de réis, em média por ano, elevando-se o da laranja a 413 contos de réis, isto é, 57% desse valor. O preço de uma caixa de laranja foi variando, mas chegou a atingir os 3 mil réis. No início dos anos 60, instalou-se uma tendência de baixa e o valor da caixa passou de 2.400 réis, em 1860, para 1.400, em 1869. Só o aumento da quantidade exportada permitia manter elevado o peso desta exportação na balança comercial dos Açores. A quebra nos preços veio somar-se aos graves problemas com as doenças dos pomares, que contribuíram para encarecer a produção de laranja. A primeira foi a resina, lágrima ou gomose que surgiu logo no início dos anos 30, com efeitos muito perniciosos. A árvore apresenta uma cárie da casca e dos tecidos subjacentes, a que se segue uma exsudação de resina ou goma que solidifica ao contacto com o ar. No final da década, em 1838, apareceu no Faial um insecto de origem brasileira, o Coccus hesperidium ou «bicho da laranjeira», que rapidamente se espalhou pelas ilhas e começou a devastar os pomares. Os processos para eliminar as pragas eram desconhecidos e as soluções encontradas muito precárias. Por isso, a meados dos anos 70, a situação apresentava-se calamitosa devido à proliferação da gomose, da fumagina ou fuligem, provocada pelo desenvolvimento dos fungos, e das cochonilhas, parasitas animais entre os quais estava o referido Coccus hesperidium. Estas pragas afectaram a produção, a qualidade e a apresentação dos frutos, numa altura em que a concorrência era muito forte no principal mercado importador e em que os preços diminuíam. A distância a que se situam as ilhas açorianas também encarecia os fretes e é importante notar que a esmagadora maioria dos navios do transporte da fruta era inglesa. Além disso, só um terço do total da laranja açoriana, importada pelo mercado de Londres em 1872, era transportado em navios a vapor; os exportadores preferiam os veleiros por serem menos dispendiosos os fretes. Mas essa opção aumentava o tempo da viagem e contribuía para deteriorar a fruta. Assim, esta conjugação de factores adversos ditou o declínio da produção e da exportação de laranja, a partir de meados dos anos 70. Os agricultores viram-se na contingência de ter de substituir os pomares por cereais, sobretudo o milho, boa forragem para os bovinos, pela vinha americana e pela batata-doce que iria alimentar a indústria do álcool. Por outro lado, as experiências com a plantação de ananás começaram a dar resultados e os portos britânicos passaram a receber da ilha de S. Miguel este fruto exótico.

A produção de laranja passou a ser para consumo local e uma pequena quantidade continuou a ser exportada para o continente. A cultura da laranja teve uma considerável evolução e, em 1949, o Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores debruçava-se sobre o assunto com o intuito de melhorar as práticas dos agricultores. O plantio tinha deixado de ser feito directamente e recorria-se aos viveiros de plantas. A mergulhia aérea, ou alporque, também tinha sido praticamente abandonada, preferindo-se a sementeira seguida de enxertia. As formas de enxertia também sofreram mudanças. O esquema de marcação dos pomares açorianos era designado por «quintar» e intercalava as laranjeiras com vários tipos de árvores, geralmente de vida mais curta, que deviam ser arrancadas quando começavam a prejudicar os citrinos. Como, em regra, os agricultores acabavam por não arrancar as árvores intercalares, o pomar ficava demasiado povoado, o que tinha um efeito negativo na produtividade. Por isso, tornou-se necessário adoptar um esquema de marcação em quadrado, em que as árvores deviam manter uma equidistância de 6 a 8 metros (Pereira, 1949: 33). Os terrenos dos pomares em crescimento eram, tradicionalmente, cultivados com as leguminosas (favas, ervilhas ou feijões), o milho e a batata, o tabaco, a chicória e a beterraba. Quando as laranjeiras já estavam mais crescidas, só se podiam cultivar plantas pouco esgotantes e que ensombrassem o terreno nos dias quentes de Verão, como a batata-doce, as abóboras, as melancias, etc. Cerca do sexto ano após a plantação, aconselhava-se a só fazer a sementeira das leguminosas destinadas à adubação verde, usando-se geralmente o tremoço de flor azul. Nos Açores, todo o trabalho era feito manualmente, com o sacho. No auge da citricultura açoriana, só se adubava com a cultura sideral do tremoço, mas os adubos químicos foram-se impondo já no século XX. Fazia ainda parte do processo de tratamento das plantas a realização da poda de limpeza e clareamento, para libertar as árvores dos ramos inúteis e daqueles que prejudicavam o arejamento e a exposição aos raios solares. Quando as árvores se apresentavam decadentes, procedia-se a uma poda ou atarraque de rejuvenescimento. Os golpes deviam, então, ser cobertos de piche, de alvaiada ou de algum «mastique» que os protegesse contra o apodrecimento e as infecções. A variedade das doenças e dos parasitas foi aumentando, mas os meios de combate tornaram-se mais eficazes. No final dos anos 40, eram poucos os pomares que não recebiam tratamentos insecticidas e fungicidas duas a três vezes por ano com bombas pulverizadoras. As moscas da fruta eram apanhadas com as garrafas caça-moscas, onde se colocava semanalmente um líquido ou infusão para atrair os insectos. A apanha da laranja fazia-se por ranchos de rapazes, dirigidos por um capataz, os quais subiam às árvores munidos de um cesto de asas com um gancho para suspensão. Quando este ficava cheio, era descido com o auxílio de uma corda e as laranjas eram transportadas para o local de embalagem. Mas, nos anos 40, os cultivadores mais cuidadosos recorriam ao apoio de escadas ou escadotes para fazer a colheita, como é aconselhável.

Apesar de alguns esforços para melhorar a produção, esta nunca mais voltou a ter a importância económica do século XIX. As estatísticas agrícolas disponíveis sobre a exportação de laranja referem-se à ilha de S. Miguel e dão conta dos valores irrisórios envolvidos, apesar de ser de admitir que não sejam muito fiáveis. Entre 1966-1973, ainda se exportaram daquela ilha 24 toneladas de laranja para o consumo no continente, cujo valor se cifrou em 109 contos. Nos dois anos seguintes não há dados, mas, em 1976, as estatísticas registam uma exportação de 3,8 toneladas de laranja. Depois daquele ano deixam de discriminar este fruto. Na mesma data, a exportação de ananás para o continente era de 1.423 toneladas, mantendo-se em torno dessa quantidade nos anos seguintes. Contudo, o inquérito feito sobre as plantações de árvores de fruto, em 1992 e 1998, permite constatar que os citrinos ocupam o número mais elevado de explorações e a maior área, seguidos a considerável distância pelas macieiras. As ilhas de S. Miguel, Terceira e Pico possuem quase 91% da área total de pomares dos Açores. Por isso, como o inquérito foi feito por amostragem, somente se realizou naquelas ilhas e em relação a explorações agrícolas que possuíam uma superfície mínima de 15 ares de pomar em povoamento regular (plantação normalmente alinhada não devendo a distância entre as árvores exceder os 10 metros), nas quais os frutos produzidos são total ou parcialmente para venda. Assim, o quadro seguinte dá conta dos resultados do inquérito:

 

Fruto

N.o explorações

Área (em ares)

1992

1998

1992

1998

Macieira

936

607

7.626

4.445

Pereira

393

320

2.715

1.024

Damasqueiro

56

37

162

152

Laranjeira

1.865

1.312

29.871

21.374

Limoeiro

508

426

1.592

962

Citrinos fr. pq*

802

738

4.453

3.721

Total

4.560

3.440

46.419

31.678

 

                                   * Citrinos de frutos pequenos: tangerinas, clementinas, satsumas e outros.

 

Constata-se que as laranjeiras ocupam 64,3% da área total de pomares, em 1992, e a sua posição ainda se reforça, em 1998, subindo para 67,5%. A diminuição da área de pomares e do número de explorações é notória e afecta todas as espécies, mas isso traduz-se numa subida da posição relativa dos citrinos. No conjunto, representam 77,4% da área total dos pomares, em 1992, mas ascendem a 82,2%, seis anos mais tarde. Os limoeiros ocupam uma área relativamente pequena. Por sua vez, as tangerineiras, as clementinas ou mandarinas e outros tipos de citrinos não especificados têm uma importância superior aos limoeiros. Em 1998, registam-se duas explorações de satsumas, uma variedade de tangerina de origem chinesa e japonesa, onde existe actualmente a maior produção ao nível mundial. Os tipos da laranjeira discriminados são os seguintes: Baía, Valência Late, Dalmau (só 2 explorações referidas em 1998), as variedades regionais e outras não especificadas. A laranja da Baía é a mais cultivada, em 1992, seguida pelas variedades regionais. Mas a situação alterou-se substancialmente no inquérito seguinte, com a Valência Late a ocupar o primeiro lugar, seguida pela laranja da Baía. O seu crescimento fez-se em detrimento das variedades regionais e de outras que não são discriminadas nas estatísticas.

Finalmente, importa referir que a laranjeira é utilizada na medicina popular. A infusão das flores da laranjeira azeda é empregada como calmante do sistema nervoso (Pereira, 1953: 113). Além disso, o cancioneiro popular açoriano tem muitos versos em que a laranja e o limão estão presentes (Costa, 1953: 150). Citemos somente dois em que estes frutos alternam para enviar uma mensagem amorosa:

 

O limão tira o fastio,

A laranja o bem-querer;

Tira de mim o sentido,

Se me queres ver morrer.

 

Laranja tira o fastio,

O limão o bem-querer;

Trocastes a mim por outra,

Inda te hás-de arrepender.

Maria Isabel João

Bibl. Costa, C. (1953), Dois citrinos na poesia popular açoriana. Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, 17, 1.º semestre: 147-157. Instituto Nacional de Estatística (1992 e 1998), Inquérito base às plantações de árvores de fruto, httP://www.ine.pt:8080/biblioteca/search.do. Id. (1950 a 1980), Estatísticas Agrícolas, http://www.ine.pt:8080/biblioteca/search.do. João, M. I. (1991), Os Açores no século XIX. Economia, sociedade e movimentos autonomistas. Lisboa, Cosmos. Miranda, S. (1989), O ciclo da laranja e os «gentleman farmers» da ilha de S. Miguel (1780-1880). Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. Pereira, S. A. (1949), A Laranja dos Açores. Notas acerca da citricultura. Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, 9, 1.º semestre: 17-46. Id. (1953), Plantas empregadas na medicina popular nas ilhas dos Açores. Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, 17, 1.º semestre: 111-116. Webster, J. W. (1983), A ilha de São Miguel em 1821. Arquivos dos Açores, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, XIII: 128-155.