Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Ivens, Roberto

[N. Ponta Delgada, 12.6.1850 ? m. Dafundo, Lisboa, 28.1.1898] Filho de Roberto Brekespere Ivens e de D. Luísa Borralho (esta filha do Dr. António F. *Borralho), passou a meninice em Ponta Delgada embarcando para Lisboa, onde passou a residir, em 1858. Assentou praça na marinha, em 1867 e concluiu o curso em 1870, sendo promovido a guarda-marinha. Foi 2.o tenente, em 1875 e primeiro em 1877, por estar nomeado para a sua primeira exploração africana. Atingiu o posto de capitão de fragata. Espírito inquieto e aventureiro andou quase sempre embarcado.

Em 1876 o governo português decidiu executar um plano de exploração científica no interior de África, pressionado pelas exigências internacionais no referente às colónias no continente negro que exigiam a efectiva ocupação e conhecimento dos territórios. Essa tarefa foi entregue aos exploradores Hermenegildo Capelo, Serpa Pinto e Roberto Ivens.

A primeira dessas explorações fez-se entre 1877-1880, de Benguela às terras de Iaca (em Angola) tendo-se Serpa Pinto separado dos companheiros.

A segunda, mais espectacular, consistiu na travessia do continente africano, desde Porto Pinda, no sul de Angola, a Quelimane, no litoral de Moçambique (13 de Março de 1884 a 26 de Junho de 1885). Nesta viagem foram de facto efectuados importantes estudos geográficos, observações magnéticas e meteorológicas e recolhidos fósseis, minerais, conchas, colecções botânicas, aves, etc. A viagem teve também uma importante componente política e alimentou a esperança de um novo império português em África que voltasse a dar a Portugal a sua grandeza perdida, mas acabou na enorme frustração do Ultimato Inglês em 1890.

A aventura de Capelo e Ivens foi saudada com grande patriotismo na sociedade portuguesa do fim do século XIX e suscitou em Ponta Delgada uma manifestação cívica, levada a efeito pelos sócios locais da Sociedade de Geografia de Lisboa, patrono dessas explorações científicas que teve lugar em 1885 e vem minuciosamente descrito no Arquivo dos Açores. Foi dado o nome do herói micaelense à nova avenida então aberta entre o largo de S. Francisco e a rua Formosa e levantaram-lhe uma estátua, em 1886, ainda aí existente.

Em 1950, no centenário do seu nascimento, voltou a haver um cerimonial cívico na sua cidade natal tendo a Sociedade de Geografia enviado dois representantes, um deles o micalenese, brigadeiro Abel de Souto Maior, que trouxeram uma palma de bronze que foi depositada na base do monumento evocativo do feito de Roberto Ivens.

Existe também em Ponta Delgada uma escola do ensino secundário com o seu nome.

Brito Capelo e Roberto Ivens deixaram em livros a descrição das suas viagens, livros esses, principalmente o referente à travessia de África, ainda hoje testemunhos muito impressionantes no campo literário, científico e humano, e de grande qualidade gráfica. J. G. Reis Leite

Obras. (1881), De Benguella às terras de Iácca. Lisboa, Imprensa Nacional, 2 vols. (1886), De Angola à contracosta (edição ilustrada com mapas e gravuras). Lisboa, Imp. Nacional, 2 vols. [existe desta uma edição moderna de bolso, s.d., Lisboa, Europa-Améria, 2 vols.]

 

Bibl. Consagrações cívicas. Brito Capello e Roberto Ivens. Archivo dos Açores. 2.ª ed., Ponta Delgada, Universidade dos Açores, VIII: 193-280. Dicionário Bibliográfico Português (1973). 2.ª ed., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, XI: 261 e aditamento: 185. Supico, F. M. (1982), Roberto Ivens. Archivo dos Açores. 2.ª ed., Ponta Delgada, Universidade dos Açores, VIII: 221-224. Sotto-Mayor, A. A. (1950), Roberto Ivens. Insulana, VI, 3-4: 229-259.