Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Bruges, Teotónio de Ornelas

(T. de O. B. Paim da Câmara de Ávila e Noronha Ponce de Leão Bruges de Sousa e Saavedra, 1º visconde de Bruges e 1º conde da Praia da Vitória) [N. Angra do Heroísmo, 25.4.1807- m. ibid., 25.10.1870] Herdou, por sua mãe, uma das mais opulentas casas vinculadas da ilha Terceira. Fidalgo cavaleiro da Casa Real por alvará de 30.7.1822. Desde cedo começou a participar na vida política, aderindo ao movimento liberal, cujos ideais teria bebido em Lisboa, onde viveu na juventude. Regressado à Terceira, foi colaborador do capitão-general Manuel Tovar de Albuquerque, agente do conde de Subserra, enviado aos Açores para serenar os ânimos depois dos acontecimentos do vintismo, sendo nomeado seu ajudante-de-ordens (4.11.1826), mas já desde 1823 que era oficial do Regimento de Milícias da sua cidade. Desentendeu-se com o capitão-general quando este apoiou o infante D. Miguel e assumiu, então, a responsabilidade de apoiar e promover a revolta de Caçadores 5 a favor da causa liberal, da Carta e da rainha D. Maria II, contra a realeza de D. Miguel, a 22.6.1828. Era, nessa época, capitão. Foi membro do governo interino formado na sequência desse golpe, e passando a coronel agregado assumiu o comando do batalhão de Caçadores Milicianos. Estabelecida a Junta Provisória, em Outubro de 1828, em nome da rainha, foi encarregado da pasta dos Negócios da Guerra.

Quando a Regência assumiu o governo da Terceira participou, como ajudante-de-ordens do conde de Vila Flor, na conquista das ilhas de Oeste, distinguindo-se no ataque da Ribeira do Nabo, em S. Jorge (9.5.1831), o que o levaria, em 1836, a solicitar a ordem de Torre e Espada, que lhe foi negada. Foi nomeado inspector-geral das Ordenanças, membro da Junta Consultiva que supriu o Conselho de Estado, e enviado em comissão a Londres e Paris a cumprimentar a rainha e o imperador pela chegada destes à Europa. Apoiante de D. Pedro durante a estada nos Açores, recebeu-o no seu palácio de Santa Luzia (a 5.3.1832) e foi nomeado pelo imperador coronel-comandante dos voluntários nacionais nas ilhas Terceira, S. Jorge e Graciosa, recebendo deste uma exortação de apoio à causa da rainha. Em 9.6.1832, quando D. Pedro deixou  os Açores, foi nomeado provedor do Concelho de Angra, o primeiro da nova orgânica, cargo que exerceu até 1834. Ainda em 1832, foi nomeado comandante-general dos corpos nacionais e chefe da Legião Nacional de Angra, cargo da maior confiança política. Durante o cerco do Porto, a 8.12.1832, D. Pedro concedeu-lhe o título de visconde de Bruges. Em 1834 pediu a graça de ser nomeado, sem vencimento mas com a graduação de brigadeiro, governador do castelo de S. João Baptista, em Angra, que não lhe foi concedida.

Com o estabelecimento do regime liberal foi eleito deputado às primeiras Cortes, em 1834, mas logo no ano seguinte, a 1.10.1835, foi nomeado Par do Reino com direito a sucessão. Foi governador civil do distrito de Angra de 26 de Março a 4 de Maio de 1836. Aderiu à revolta de Setembro, mas não se sabe desde quando se havia convertido à esquerda do liberalismo. Não apoiou, por isso, os Pares no protesto àquela revolta. Em 8.10.1836, à frente do Batalhão dos Voluntários da Rainha, aclamou a Constituição de 1820 na Terceira e foi despachado administrador geral do distrito, cargo que exerceu de 18.11.1836 a 27.9.1839. São notáveis os seus relatórios sobre a situação económica e social das ilhas sob o seu governo.

Em 1837 foi condecorado com a comenda da Ordem de Cristo. Continuou a sua carreira de militar de 2ª linha e em 25.10.1839, na nova organização, foi nomeado coronel-comandante do Batalhão de Voluntários da Rainha. Em 1843 presidiu à comissão encarregada de erigir o monumento em Angra à memória de D. Pedro IV.

Durante a guerra civil contra os Cabrais presidiu em Angra à junta governativa em nome do governo supremo do Reino, a 22.4.1847, e comandou o batalhão nacional criado por essa mesma junta. Com o acordo político que deu início à Regeneração, tendo apoiado a revolta de Saldanha, chefiou a partir de 1851 o Partido Histórico, como anteriormente chefiara os reformistas e os setembristas, no distrito de Angra do Heroísmo, entrando assim no novo cenário constitucional cartista. Desempenhou por várias vezes, desde 1831, o cargo de presidente da Câmara Municipal da sua cidade natal e nessa qualidade aclamou os reis D. Pedro V e D. Luís.

Em 1863 foi-lhe concedida a medalha de D. Pedro e D. Maria Nº 9, e a 28 de Julho do mesmo ano foi elevado a conde da Praia da Vitória.

É uma das personagens mais interessantes da história política e social do período do liberalismo nos Açores e tornou-se o paradigma do herói romântico e símbolo de uma época, sendo sucessivamente invocado na memória colectiva, em especial da Terceira. Porém, não existe uma biografia isenta e científica desta personalidade. J. G. Reis Leite (Jul.2000)

Bibl. Maia, F. A. M. F. (1988), Capitães-generais (1766-1831). 2ª ed., Ponta Delgada, Instituto Cultural: 251 e segs. Silva, F. J. (1953), A fidelidade da ilha Terceira. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira: 48-50. Soares, E. C. C. A. (1944), Nobiliário da Ilha Terceira. Título de Pereiras. 2ª ed., Porto, Liv. Fernando Machado, II: 228. Valadão, F. L. (1964), Evocando figuras terceirenses. Angra do Heroísmo, E. Tip. Angrense. Id. (1944), O último capitão-general do regime absolutista na ilha Terceira. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, II: 21-165.