Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Botelho, José Jacinto

(António Moreno) [N. Ponta Garça, ilha de S. Miguel, 2.3.1876- m. Furnas, ibid., 14.4.1946] Poeta e orador sacro, usou o pseudónimo, por que ficou conhecido, de António Moreno, e, raramente, o de Maria Angelina (nome da mãe). Fez o seminário em Angra do Heroísmo (Terceira), foi ordenado sacerdote em Braga e chegou a frequentar a Universidade Gregoriana (Roma), que não completou, por motivos de saúde, sobretudo primordialmente causados pela afastamento da ilha. Amigo íntimo de Armando Cortes Rodrigues (sendo também admirador e tendo conhecido P. Claudel), António Moreno passou bastante à margem dos movimentos e escolas do seu tempo (note-se: princípios do século XX até aos anos 40, período tão rico de novas experiências literárias).

Autor de uma obra dispersa por jornais e sem ambições literárias, foi porém reunida e estudada criteriosamente por Eduíno de Jesus, abrangendo os «livros» Ronda da Saudade, Sete Espadas, Urze do Monte, Ave Maria, Pai Nosso, cujos títulos já são significativos. Vê-se que a poesia de António Moreno, alheia a escolas e movimentos do seu tempo, se ocupa fundamentalmente de temas religiosos, piedosos e mariânicos, em que o culto da saudade, da mãe como entidade protectora, o louvor da Virgem e a recordação da infância e das coisas simples do campo avultam. A preocupação «clássica» com o soneto (quase duas centenas!) e a presença insistente de dezenas de quadras ao gosto popular demonstram não só uma disciplina formal de seguimento da tradição (nomeadamente com os esquemas rimáticos), mas também o isolamento geográfico-cultural do vigário das Furnas. Uma linha de simplicidade e reacção religiosa fim de século, que se poderia ir buscar a António Nobre e, no meio micaelense, ao seu amigo Armando Cortes Rodrigues (fixado em S. Miguel desde 1924), vem transparecer no nosso poeta furnense numa sensibilidade extremada e quase franciscana. A própria concepção cristã da vida, que lhe impunha a vida sacerdotal, e a sua tendência contemplativa e triste confluem em versos nos quais correm o sentimento da vida breve, da vida como «vale de lágrimas» e das «visões» do passado, as doces recordações da infância quando confrontadas pungentemente com a dureza presente «(...) Deixai-me ouvir essas canções perdidas,/ Revoca ao meu olhar visões queridas,/ Que o tempo tão depressa me apagou...» (?Visões do Passado?, 1960: 20). O conjunto de poemas reunidos sob o título Sete Espadas, apesar do seu caracter descritivo e prosaico relativo à Paixão de Cristo e aos sofrimentos da Virgem, consegue atingir um alto grau de exaltação religiosa e constitui um poema mariânico com certa unidade estrutural.

É ao poeta, crítico e professor, Eduíno de Jesus, que se deve um fundamental estudo crítico e de recolha e ordenação da poesia de António Moreno. António Machado Pires (Dez.1999)

Obra (1960) Obra Poética. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada [ed. crítica de E. Jesus].