Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Câmara, Manuel da

[N. ?, 1504- m. Lisboa, 13.3.1578] 6º capitão de S. Miguel. Era filho de Rui Gonçalves da *Câmara, 5º capitão de S. Miguel, e de D. Filipa Coutinho, filha de Lopo Afonso Coutinho (ou Rui Lopes Coutinho, segundo D. António Caetano de Sousa), irmão do conde de Marialva. Manuel da Câmara, acompanhado por alguns nobres micaelenses da sua confiança, esteve uma primeira vez em Marrocos (Safim), de onde seguiu para o reino. Casou com D. Joana de Mendonça, filha do monteiro-mor Jorge de Melo e de D. Margarida de Mendonça, enlace que foi celebrado com pompa e festas, nas quais participaram D. João III e D. Catarina (Frutuoso, 1981, II: 355), mas que não terá agradado a D. Filipa Coutinho. Por instrumento de instituição de 22 de Julho de 1536, continuado a 16 de Dezembro desse ano e a 1 de Março de 1537, Manuel da Câmara e D. Joana de Mendonça fundaram um importante morgadio, confirmado pelo rei a 8 de Maio de 1537 (Arquivo dos Açores, 1982: 383-392). Em 1541, por ocasião do cerco dos Xerifes a Santa Cruz do Cabo de Gué, Manuel da Câmara partiu para esta praça marroquina com socorros e nela esteve quatro meses, sendo depois feito cativo, estado em que se manteve durante ano e meio. Foi resgatado à sua custa por 20.000 cruzados e, pelo seu desempenho em Santa Cruz do Cabo de Gué, recebeu entre outras mercês, por alvará de 18 de Dezembro de 1547, o dízimo do pescado da ilha de S. Miguel; sessenta moios de renda, das terras dos próprios do rei; e a dada dos ofícios de tabeliães do público e judicial, escrivães dos orfãos, da câmara e da almotaçaria e contadores, inquiridores e distribuidores da cidade de Ponta Delgada e seu termo. Alguns anos mais tarde, por alvará de 15 de Outubro de 1552, recebeu também a alcaidaria-mor do castelo de S. Brás, com um soldo de 50.000 réis, o que significava, em termos jurisdicionais, que a nomeação dos alcaides pequenos e dos carcereiros da cadeia da cidade passava agora a ser da responsabilidade dos capitães da ilha (Rodrigues, 1994: 280-281). Durante o governo de Manuel da Câmara, devemos registar duas importantes ocorrências: em 1544, o retrocesso do projecto de D. João III de criar duas corregedorias nos Açores, uma das quais com sede em Ponta Delgada, por oposição do próprio capitão (Rodrigues, 1994: 258-259); e, em 1552-1554, a montagem em S. Miguel da primeira estrutura de companhias de ordenanças, processo para o qual Manuel da Câmara, que se encontrava na corte, regressou a S. Miguel, de modo a executar as ordens de D. João III (Rodrigues, 1998: 531-532). Manuel da Câmara era senhor de uma grande casa nobre e a sua liberalidade ficou célebre. Gaspar Frutuoso descreveu em pormenor os gastos que este capitão dispendeu com o séquito do seu primogénito, Rui Gonçalves da *Câmara, que deveria ter acompanhado D. Sebastião na sua primeira expedição ao Norte de África (1574). Segundo aquele cronista, «da pessoa de el-Rei abaixo, não houve quem com mais custo e estado se fizesse prestes que o dito D. Rui Gonçalves» (Frutuoso, 1987, III: 116). Manuel da Câmara foi sepultado na capela da sua casa, onde estava igualmente o corpo da esposa, D. Joana de Gusmão, que nunca visitou S. Miguel. José Damião Rodrigues (Fev.2001)

 

Bibl. Arquivo dos Açores (1982). Ed. fac-similada da ed. original, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, VIII. Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, Fundo Ernesto do Canto, Manuscritos, Livro 133-A. Frutuoso, G. (1977-1987), Livro Quarto das Saudades da Terra. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 3 vols. Maia, F. A. M. F. e (1988), Capitães dos Donatários (1439-1766). 4ª ed., Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. Rodrigues, J. D. (1994), Poder Municipal e Oligarquias Urbanas: Ponta Delgada no Século XVII. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. Rodrigues, J. D. (1998), Orgânica militar e estruturação social: companhias e oficiais de ordenança em São Jorge (séculos XVI-XVIII) In O Faial e a Periferia Açoriana nos Séculos XV a XX, Actas do Colóquio, 12-15 de Maio de 1997, Horta, Núcleo Cultural da Horta: 527-550. Sousa, A. C. (D.) (1953), História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Nova ed., Coimbra, Atlântida, XII, I.