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Borges, António

(A. B. da Câmara Medeiros) [N. Fajã de Baixo, 14.6.1812- m. Ponta Delgada, 19.3.1879] 3° filho do morgado António Pedro Borges da Câmara Medeiros e de Maria Francisca de Andrade e Albuquerque Bettencourt. A família, com solar na Fajã de Baixo, pertencia ao pequeno grupo dos terratenentes e embora António Borges não tenha herdado os morgadios familiares que passaram para a administração do irmão mais velho, o visconde da Praia, as várias heranças que recebeu de ascendentes e colaterais, bem como o casamento com a sua prima Maria das Mercês de Andrade Albuquerque (1846), garantiram-lhe os meios de fortuna pessoal que sustentariam o estilo de vida faustoso a que se habituou. Pertencendo à segunda geração liberal, de tendência conservadora, estava-lhe reservada uma posição de protagonismo social que exerceu, no plano político, ocupando o cargo de governador civil, no plano económico enquanto agente do desenvolvimento agrícola e industrial, membro da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense e, consequentemente, no plano social, tido como uma figura mundana, conversador impenitente, cosmopolita por vocação e europeísta habituado a trocar Lisboa por Paris, Londres, Bruxelas ou Gand.

A personalidade artística de António Borges manifestou-se desde muito cedo pelo interesse que dedicou às obras de arte, peças de mobiliário e de pintura que foi adquirindo nos leilões da capital e do estrangeiro, e que fizeram dele o primeiro grande coleccionador de arte nos Açores. Na lista que o próprio elaborou, incluem-se obras de pintores famosos, tais como Nicolas Poussin, Crivelli, Guardi, Canaletto, Rubens e os mestres holandeses de Seiscentos... Dispersa ou perdida essa colecção, não é possível garantir a autenticidade de todas as obras, devendo as atribuições corresponderem, muitas vezes, a cópias dos originais. Nada invalida, no entanto, o empenho que sempre dispensou à produção pictórica.

Um outro campo de actividade em que se distinguiu foi o da construção de jardins e parques. Por volta de 1850 tinha já reunido nas Sete Cidades uma enorme extensão de terrenos (cerca de 27 ha em 1860), com vista a transformar o vale, «pela mão da arte», num vasto e único parque. Pouco depois construía uma casa de campo nas margens da Lagoa e intensificava a plantação de matas e o jardinamento com plantas exóticas de terrenos planos. O seu interesse pelo coleccionismo botânico, porém, levá-lo-ia a procurar na cidade um recinto mais propício às exigências desse empreendimento. Nascia assim o Jardim da Lombinha, instalado em 22 alqueires de terra (cerca de 3,1 ha) desde o Beco dos Cães até à estrada do Papa Terra. Traçado e plantado entre 1858 e 1861, este jardim sintetiza as tendências naturalistas e românticas desse período, aliando a exuberância festiva das espécies exóticas aos aspectos peculiares da paisagem insular, pontuada de grutas, furnas, lagos e mirantes.

Em 1861, António Borges deslocou-se com a família para Coimbra, a fim de acompanhar os estudos do seu enteado Caetano de Andrade Albuquerque que ia frequentar a Universidade. O período passado naquela cidade (1861-1868) revelou-se um dos mais profícuos da sua actividade como paisagista. Instado pela direcção da Universidade, dirigiu as obras da nova Escola Frutífera na cerca de S. Bento, entretanto adquirida; comprou uma colecção de 1898 árvores de fruto que ofereceu ao Jardim Botânico; e projectou a Avenida das Tílias. Por conselho de António Borges, o naturalista alemão Edmond Goëze, contratado como jardineiro em chefe para o Jardim Botânico, deslocou-se a S. Miguel, na Primavera de 1866, a fim de recolher os donativos em plantas que alguns proprietários micaelenses destinaram à nova estufa.

De regresso à ilha, prosseguiu os trabalhos de jardinagem com aquisições de plantas exóticas e experiências botânicas. Isabel Soares de Albergaria (Mar.1999)

Bibl. Albergaria, I. S. (1999). O Jardim da Lombinha: História e Significado. Arquipélago, (História), 1: 381-405. Album Açoriano (1903), Ponta Delgada. Ataíde, L. B. L. (1973-76), Etnografia, Arte e Vida Antiga nos Açores. Coimbra, Biblioteca da Universidade. Bensaúde, A. (1936), Vida de José Bensaúde. Porto, Litografia Nacional. Bulhão-Pato, R. (1868), Cartas dos Açores. Ponta delgada, Tip. Voz da Liberdade, II. Carvalho, J. A. S.(1872), Memória Histórica da Faculdade de Filosofia. Coimbra, Imp, da Universidade. Henriques, J. A. (1876), O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Coimbra.