Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Câmara, Francisco Ornelas da

[N. Praia, ilha Terceira, 12.10.1606- m. Angra, 24.4.1664] É uma das figuras emblemáticas da história açoriana em geral e terceirense em particular, e a sua biografia, um dos indispensáveis ingredientes do nacionalismo histórico. Tem sido sempre apontado como herói exemplar para formação de consciências cívicas e patrióticas.

Pertencia por nascimento à aristocracia terceirense e, portanto, estava predestinado para funções de poder. Apenas com 20 anos, em 1627, foi eleito pela câmara da sua vila natal, capitão de uma das companhias de ordenanças, concorrendo ele próprio com as despesas do armamento. Mas o horizonte praiense era curto para a sua ambição e, por isso, embarcou na esquadra real para o Brasil, entrando na guerra contra os holandeses, o que lhe valeu o lugar de capitão de um terço de infantaria das armadas. Em 1636 substituiu o pai no cargo de capitão-mor e provedor das fortificações de Vila da Praia e foi agraciado com o hábito da Ordem de Cristo, indo professar em pessoa a Tomar. Em 1640 encontrava-se na capital e começou aqui verdadeiramente a sua glória, pois foi encarregado pelo próprio D. João IV de promover a aclamação do novo rei nas ilhas dos Açores. A sua missão mostrou-se, contudo, difícil e espinhosa e são desencontradas as interpretações da sua acção, sendo hoje difícil descortinar nas crónicas laudatórias o que se passou e qual a sua responsabilidade nas hesitações estratégicas que fizeram quase perigar a empresa da aclamação na Terceira e tornaram a conquista do castelo e a expulsão dos castelhanos demorada, perigosa e, durante muito tempo, de êxito incerto. Aclamou D. João IV na Praia e, conjuntamente com o cunhado, o capitão-mor de Angra João de Bettencourt, comandou as acções militares do cerco ao castelo. Voltou a Lisboa a levar a nova ao rei, sendo extraordinariamente acolhido e agraciado com a mercê da comenda de S. Salvador de Penamacor e 10.000 cruzados de renda. Contudo, foi acusado, num processo de traição ainda pouco claro, e preso, acabando depois de peripécias várias, por ser absolvido das acusações, atribuindo o desfecho a uma intervenção do Espírito Santo e acrescentando às suas armas a pomba, símbolo do Paráclito.

Tentou por várias vezes obter o governo do castelo de S. João Baptista, mas só em 1660 conseguiu a nomeação em recompensa dos seus serviços, falecendo no exercício desse cargo. J. G. Reis Leite (Jan.2001)

Bibl. Brás, H. (1985), O Herói da Restauração, Francisco de Ornelas, teria sido inconfidente ou pusilânime? In Ruas da Cidade e Outros Escritos. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira: 147-159. Maldonado, M. L. (1991), Fenix Angrense. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira, II: 141 e segs. Silva, F. A. L. (João Ilhéu) (1963), O capitão-mor de Vila da Praia, Francisco de Ornelas da Câmara, herói da Restauração. Independência, XII, 28: 3-17