Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Fontinhas

1 Toponímia Freguesia interior do concelho da Praia da Vitória, situada na encosta oriental da ilha Terceira, e limitada a norte pelas freguesias de S. Brás e das Lajes, a oriente e sul pela freguesia da Praia da Vitória, e a ocidente, pela freguesia de Agualva. M. Eugénia S. de Albergaria Moreira

Geografia A freguesia inclui três unidades morfológicas: a escarpa de linha da falha ocidental das Lajes, a vertente oriental da serra do Cume, e a parte mais baixa, que corresponde à margem ocidental da fossa das Lajes, onde está situado o aeroporto. A drenagem é deficiente, em especial na baixa encosta, onde a água se infiltra nos depósitos coluvionares; assim se somem, infiltradas nos solos agrícolas, as ribeiras do Marques e da Canada dos Doidos provenientes da serra do Cume. As nascentes situam-se na base da escarpa, onde se concentra o povoamento, e onde a toponímia relacionada com «fonte» denuncia o fenómeno. Em 2001 esta freguesia contava 1.648, dos quais 863 mulheres e 785 homens, mais 130 pessoas que em 1991 (INE, 2001). A tendência crescente da população, que se observou desde 1900 a 1960, quando atingiu o valor máximo de 2.043 habitantes, foi retomada nas últimas duas décadas, depois de, em 1970, ter sido atingido o valor mínimo desde 1864 (990 habitantes; INE, 1970). M. Eugénia S. de Albergaria Moreira

História, Actividades económicas e culturais Tira o seu nome das muitas pequenas fontes que correm pela falda da serra em cuja base se desenvolveu o povoado, o que condicionou a disposição em fila do casario. O início do povoamento desta zona, de ricas terras de trigo, fazendo parte do Ramo Grande, deu-se ainda possivelmente no último quartel do século XV, com a distribuição de dadas a João de Ornelas, vindo da Madeira, fidalgo da Casa Real e cavaleiro da Ordem de Cristo, que casou com Catarina de Teive, neta de Diogo de Teive, o célebre ouvidor do tempo de Jácome de Bruges, bem dos primórdios do povoamento da Praia. Nessas terras, que vieram a ser um vínculo, fundou João de Ornelas a ermida de Nossa Senhora da Pena, cabeça do morgadio que instituiu. Não sabemos hoje a data em que esse povoado passou a paróquia, mas foi antes de 1568 (Drumond, sem apresentar prova, aponta essa data para a fundação), pois na carta de D. Sebastião desse ano, de pagamento de côngruas já aparece nessa condição com menos de 100 fogos, ou seja, uma das mais pequenas.

No final do século XVI Frutuoso alude à riqueza de alguns dos seus lavradores, devido à fertilidade da terra e acrescenta a existência de pomares e jardins de muita e diversa fruta, que se vendia em Angra. Daí em diante os sucessivos cronistas não deixaram de aludir a essas duas produções para já no século XVII acrescentarem os inhames. No século XX passou a ter a agro-pecuária como actividade principal.

A sua igreja paroquial, bem como a maior parte dos edifícios foram destruídos pelos célebres terramotos de 1614 e 1841 e nas descrições conhecidas desses fenómenos, as Fontinhas são sempre indicadas como das freguesias com mais estragos. Do de 1841, o seu pároco, Mariano Constantino *Homem, deixou um impressionante testemunho no livro dos baptismos. O terramoto de 1980, que também danificou a freguesia, provocou, contudo, menos estragos.

A igreja de Nossa Senhora da Pena foi várias vezes reconstruída e o actual edifício foi-o entre 1925 e 1929, sobre as ruínas do anterior templo arrasado por um ciclone em Dezembro desse primeiro ano. Até aos nossos dias a igreja tem sido sucessivamente melhorada e decorada e foi recuperada dos efeitos do sismo de 1980.

Além da igreja paroquial existe na freguesia a ermida de Santo António, edificada pelo casal Antão Fernandes Leal e Maria Gonçalves de Ávila, para cabeça de um pequeno morgado que instituíram em 1536. Destruída e reconstruída também sucessivamente devido às catástrofes, foi-o na sequência dos sismo de 1980 e nela se continua a festejar o padroeiro.

Durante muitos anos as Fontinhas foram servidas por péssimas estradas, que os cronistas assinalavam como caminhos lamacentos e no Inverno intransitáveis e ainda que tendo alguns bons exemplares de casas rurais típicas da zona do Ramo Grande, construídas na 2.a segunda metade do século XIX, a maior parte dos seus edifícios civis é pobre.

Hoje a freguesia é servida por boas estradas e de fácil acesso, ainda que não fique na estrada corrente.

A freguesia conta com os equipamentos sociais típicos da ruralidade terceirense, de onde se destaca o cemitério, o Império de pedra desde 1870, escola pública do ensino primário desde 1865, masculino, e desde 1879 feminino. Em 1947 foi inaugurado um edifício escolar oferecido pelos beneméritos irmãos Goulart.

A Sociedade Musical União das Fontinhas nasceu em 1976, da fusão de duas sociedades musicais que a antecederam, uma de 1884 e a outra de 1952. Tem uma filarmónica e uma sede ampla e confortável, com salão de festas, inaugurada em 1979. Desde 1975 que foi organizado o Clube Desportivo das Fontinhas, com equipa de futebol e um campo de jogos, Fernando Brum, doador do terreno, inaugurado no ano seguinte.

Possui também desde 1973 uma Casa do Povo com um polivalente construído em 1979, onde se alberga a Junta de Freguesia e o Clube Juvenil.

A população da freguesia era em 1938 de 1.014 pessoas e hoje conta com cerca de 2.000 almas, não sendo por isso das freguesias com despovoamento assinalável, até porque nunca baixou dos 1.200 habitantes.

Foi em terreno das Fontinhas que se travou o recontro do Pico do Celeiro, em 4 de Outubro de 1828, em que um destacamento de Caçadores 5, comandado pelo coronel António Silva Torres (futuro barão do Pico Celeiro) desbaratou as milícias miguelistas e acabou assim com a resistência armada ao golpe liberal do restabelecimento da Carta Constitucional.

Entre as personalidades das Fontinhas, que se têm distinguido são de destacar, João de Ornelas, seu fundador, o padre Mariano Constantino *Homem, seu pároco em 1841, Antão Fernandes Leal, fundador do morgadio de Santo António, Constantino José *Cardoso, governador civil, os irmãos Francisco e José *Goulart, beneméritos, Francisco *Gonçalves, deputado regional, e o padre Dr. Manuel Nunes da Costa Freitas. J. G. Reis Leite

Heráldica A freguesia conta com armas, bandeira e selo próprios aprovados pela Assembleia de Freguesia em sessão de 12 de Setembro de 2000 e publicada no Diário da República.

Os símbolos da freguesia tiveram o parecer da Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e são o brasão, escudo verde, fontanário de prata realçado de negro, em chefe, açor estendido de ouro, carregado nas patas de uma quina das armas de Portugal. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legende a negro: Fontinhas. A bandeira branca, cordão e borlas de prata e verde, haste e lança de ouro e selo, circular com a legenda «Junta de Freguesia das Fontinhas ? Praia da Vitória». J. G. Reis Leite

Bibl. Diário da República (2000), III série, 238, 14 de Outubro.

2 Sede da freguesia de Fontinhas, do concelho da Praia da Vitória, situada na parte mais baixa da encosta. M. Eugénia S. de Albergaria Moreira

Bibl. Andrade, J. E. (1891), Topografia ou Descripção Physica, Politica, Civil, Eclesiastica e Histórica da Ilha Terceira. 2.a ed. anotada por José Alves da Silva. Angra do Heroísmo, Livraria Religiosa Ed. Costa, F. J. (1983), Memória histórica do horrível terramoto de 15.VI.1841 que assolou a vila da Praia da Vitória. 2.a ed., Praia da Vitória, Câmara Municipal: 191-269. Drumond, F, F. (1990), Apontamentos Topográficos, Políticos, Civis e Eclesiásticos para a História das Nove Ilhas dos Açores. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira: 272 e segs. Instituto Nacional de Estatística (1960), Recenseamento Geral da População no Continente e Ilhas Adjacentes. Lisboa, INE, I, 1. Id. (2001), Censos 2001. Resultados Preliminares. Região Autónoma dos Açores. Lisboa, INE. Merelim, P. (1982), Freguesias da Praia. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, I: 185-228.