Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Félix, Emanuel

 [N. em Angra do Heroísmo, a 24.10.1936 ? m. em Angra do Heroísmo, a 14.2.2004] Poeta, professor, ensaísta e técnico de restauro artístico, Emanuel Félix viveu a maior parte da sua vida na ilha Terceira, exceptuando-se estadias em França e na Bélgica (onde estudou técnicas de conservação e restauro, bem como história da arte). Ensinou também na Escola Superior de Tecnologia de Tomar.

É enquanto poeta que Emanuel Félix se afirma como uma das vozes literárias açorianas mais destacadas da segunda metade do século XX. Desde jovem e juntamente com Rogério Silva e Almeida Firmino esteve ligado à Gávea (Revista Açoriana de Arte), onde publicou uma «Breve Antologia de Poesia Açoriana». Em 1958 publica o seu primeiro livro de poesia, Sete Poemas, geralmente identificado como precursor do concretismo, precedendo os poetas e a poesia que nos anos 60 reinventaram a plasticidade do discurso poético, entendido como parente próximo da figuração visual. A partir daí, confirma-se a estreita relação que a sua poesia estabelece com as artes plásticas e com a música: em O Vendedor de Bichos (de 1965) a poesia de Emanuel Félix dialoga com a pintura de Miró e de Picasso, com a tapeçaria de Lurçat e com a escultura de Henry Moore; em As Quatro Estações de António Vivaldi (1965) ecoa a música de Vivaldi, reencontrado na forma de sonetos de nítida sonoridade neo-barroca.

Depois disso, Emanuel Félix prosseguiu uma escrita poética tão discreta como rigorosa. Em cada palavra dos seus poemas parece prolongar-se a experiência de quem fixa a cor certa ou o contorno exacto que numa tela antiga se reencontram. Tudo isto sem postergar a dignidade de um trabalho verbal capaz de assimilar o poeta ao operário: «Na madrugada o operário/De madrugada o poeta/Recolhem as palavras mais precisas/Para o tempo que vem que se avizinha/(?) Enquanto um sol de fogo se levanta.» (A Palavra o Açoite, 1977). Em 1984, o volume A Viagem Possível reuniu a produção poética anterior ou aquilo que, no critério do poeta, dela sobreviveu ou a ela se acrescentou. Dos anos 90 são também O Instante Suspenso (de 1992) e Habitação das Chuvas (de 1997). Neste último projecta-se um cenário com cor local e marcas distintivas próprias, cenário entretanto refigurado pelo vigor lírico de um discurso poético que transcende o localismo (o que parece ser uma preocupação constante em Emanuel Félix) e busca sentidos verdadeiramente superiores. Carlos Reis

Obras principais: (1958), Sete Poemas. Angra do Heroísmo, Diário Insular. (1965), O Vendedor de Bichos (2.a ed., Angra do Heroísmo, ed. do autor, 1971). (1977), A Palavra o Açoite. Coimbra, Centelha. (1984), A Viagem Possível (Poesia ? 1965/1981). Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1985), Seis Nomes de Mulher. Angra do Heroísmo, Jornal A União. (1992), O Instante Suspenso. S.l., Ínsula. (1997), Habitação das Chuvas. Angra do Heroísmo, SerSilito ? Empresa Gráfica. (2003), 121 Poemas Escolhidos (1954-1997). Lisboa, Edições Salamandra.

 

Bibl. Machado, O. (1995), «Os autores estrangeiros na obra de Emanuel Félix», in Atlântida, 40, 1: 51-84. Morna, F. F. (2003), «Apresentação» a 121 Poemas Escolhidos (1954-1997). Lisboa, Edições Salamandra. AA. VV. (2003), Emanuel Félix: 50 Anos de Vida Literária. Separata de Atlântida, XLVIII.