Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Bettencourt, Manuel Ortins de

[N. Luz, ilha Graciosa, 12.6.1892- m. Lisboa, 8.7.1969] Frequentou os liceus de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada (1910) e assentou praça como voluntário em 1909 na bateria nº 2 de artilharia da guarnição de Angra do Heroísmo. Matriculou-se nos preparatórios da Escola Naval (1911-12) e frequentou a Universidade de Coimbra. Em 1915, terminado o curso da Escola Naval, embarcou no Adamastor em missão em Moçambique, como guarda marinha. Em 1917, imediato da canhoneira Ibo, comboiou nos mares dos Açores os navios da Empresa Insulana de Navegação ameaçados pelos submarinos alemães. Ainda durante a guerra, nos Açores, serviu no Vasco da Gama. Foi promovido a 2º tenente e colocado como secretário do Ministro das Colónias.

Concorreu à aviação e passou a frequentar o curso de piloto na escola de aviação naval americana em Pensacola, Florida (1919). Regressado dos Estados Unidos no ano seguinte, serviu no Centro de Aviação Naval dos Açores até este ser extinto em 1921.

Foi colaborador de Gago Coutinho e Sacadura Cabral como 2º piloto. Pelo feito da viagem aérea à Madeira, em que tomou parte como 1º tenente, foi condecorado com o grau de Cavaleiro de Torre e Espada. Prestou, ainda, serviço no Centro de Aviação Naval de Lisboa, iniciando a escola de pilotagem da aviação naval portuguesa. Afastou-se da aviação em 1925, ocupando o lugar de capitão do porto da Figueira da Foz. Em 1927 regressou à aviação naval, como comandante do Centro de Lisboa. Frequentou o curso naval de guerra e em 1928 embarcou no Vouga, como imediato e, depois, em 1929, no Gil Eanes. Nesse ano foi prestar serviço no Estado-Maior Naval e foi adjunto do Secretário do Conselho Nacional do Ar, tomando parte na missão para escolher os aeroportos e aeródromos das colónias de Angola e Moçambique (1930-31). Em 1932 participou em idêntica missão nas Ilhas Adjacentes, optando-se pelos terrenos das Lajes, ligadas à baía da Praia da Vitória, para hidroaviões. Em 1933, visitou fábricas de hidroaviões na França, Alemanha e Inglaterra. Em 1933 comandou o contratorpedeiro Tâmega, como capitão tenente.

Na consolidação do Estado Novo foi destacado elemento da Brigada Naval da Legião Portuguesa e eleito deputado à Assembleia Nacional na 1ª Legislatura. Em Janeiro de 1936 passou a ministro da Marinha, no ministério conhecido por ?governo da guerra?, por na sua vigência se ter dado o início da Guerra Civil de Espanha e da 2ª Guerra Mundial. Em 1944, já capitão-de-mar-e-guerra, abandonou a pasta ministerial. Como ministro da Marinha empreendeu um conjunto de reformas, de entre as quais se destaca a reorganização da Escola Naval e a criação do Arsenal do Alfeite. Criou, ainda, a Junta Nacional de Marinha Mercante. Em 1941, acompanhou a visita aos Açores do Presidente da República, Óscar Carmona.

Depois de sair do governo, promovido a comodoro, foi nomeado comandante da Força Naval da Metrópole. Em 1946, foi promovido a contra-almirante e colocado no Ministério dos Negócios Estrangeiros, como presidente da comissão encarregada de coligir os documentos relativos à política externa portuguesa durante a guerra. Em 1951, voltou ao Ministério da Marinha, como secretário-adjunto da Defesa Nacional. Presidiu à delegação portuguesa à Conferência de Facilidades para a Defesa de África, em Nairobi, em Agosto de 1951, e também à delegação que negociou o acordo luso-belga para a defesa da foz do Zaire (Dezembro de 1951). Fez parte da reunião da NATO, em Roma, em Novembro desse ano.

Promovido a vice-almirante, ocupou ainda em 1951 o cargo de Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, e nessa qualidade participou nas reuniões da NATO em Paris e em Lisboa, em 1952. Em Julho deste ano foi nomeado vogal vitalício do Conselho de Estado. Passou à reserva em 1955 e em 1957 foi nomeado chanceler da Ordem da Torre e Espada. Ocupou o lugar de presidente da SOPONATA. Reformou-se em1962.

Além de várias condecorações estrangeiras, de que se destaca a de comendador da Legião de Mérito dos Estados Unidos e a de Cavaleiro da Legião de Honra francesa, era Cavaleiro de Torre e Espada e Grã-Cruz das Ordens de Cristo, Avis e Mérito Militar. J. G. Reis Leite (Jul.2000)

Bibl. Catálogo da Exposição  do Almirante Manuel Ortins Bettencourt, no Museu de Sta. Cruz da Graciosa (s.d.), Sta. Cruz da Graciosa, Ed. do Museu, imp. Rosas, F. e Brito, J. M. B. (ed.) (1996), Dicionário de História do Estado Novo. Lisboa, Círculo de Leitores, I: 99.