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Bettencourt, Aníbal

[N. Angra do Heroísmo, 21.06.1868 - m. Lisboa, ?.01.1930] Médico, bacteriologista e professor. Graduado pela Escola-Médico-Cirúrgica de Lisboa, defendeu, em Junho de 1893, a dissertação inaugural intitulada Bacilo Typhico e B. Coli. Um novo argumento a favor da sua identidade.

?Tinha todas as qualidades do investigador a começar pela insaciável curiosidade perante os problemas da natureza e do homem? (Valente, 1930).

Em Portugal, esteve entre os pioneiros dos estudos bacteriológicos, área em que se tornou autoridade respeitada no estrangeiro. Amigo e colaborador de Câmara Pestana que acompanhou até ao último momento, veio a suceder-lhe na direcção do Instituto Bacteriológico que então se tornaria no suporte da actividade de todos os médicos portugueses dedicados à investigação. Colaborou no combate à epidemia de 1894, em Lisboa, sobre a qual foi co-autor de um relatório que viria a ser publicado, em língua alemã. O primeiro grande trabalho sobre a doença do sono em Angola, foi feito pela missão médica que chefiou, em 1901. A meningite cérebro-espinhal e a bilharziose e o seu parasita mereceram também a sua pesquisa para o que contou com a colaboração de outros médicos. Publicou mais de seis dezenas de trabalhos de investigação científica sobre Bacteriologoa e Parasitologia, em revistas portuguesas, nomeadamente nos Arquivos do Instituto Câmara Pestana de que foi fundador, em 1906, e em revistas estrangeiras.

Por decisão unânime do Conselho da Faculdade de Medicina, em 1911 foi convidado a leccionar Bacteriologia e Parasitologia quando esta disciplina foi incluída nos estudos médicos e o Instituto de Bacteriologia na Universidade de Lisboa.

Foi comendador da Ordem de Sant'Iago da Espada, do Mérito scientífico, literário e artístico (1901); membro correspondente, efectivo, titular ou honorário de diversas instituições científicas em Portugal e no estrangeiro; e presidente da Sociedade Portuguesa de Biologia e da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais. Dedicado ao estudo e à prática da fotografia foi fundador e primeiro presidente da Sociedade Portuguesa de Fotografia.

?Aqueles que viveram junto dele sabem o que houve de dramático na existência deste homem perseguido por um destino cruel nos seus afectos, nas suas nobres ambições científicas, constantemente em luta com a rotina e a incompreensão do meio e no fim martirisado por uma longa agonia? (Valente, 1930). Luís M. Arruda (Jul.1999)

Obras principais (1892), Primeiro relatório apresentado ao Exmo. ministro do Reino sobre a análise bactereológica das águas potáveis de Lisboa. Medicina Contemporânea, X: 401 [em colaboração com Câmara Pestana]. (1894), Bakteriologische Untersuchungen über die Lissaboner Epidemie von 1894. Centralblatt für Bakteriologie und Parasitologie, XVI: 401 [idem]. (1895), Ueber das Vorkommen feiner Spirillen in den Faeces. Ibid., XVII: 522 [idem]. (1896), Ueber die Anwesenheit Leprabacillus in der Medulla eines an Syringomyelitis gestorbenen Individuums. Ibid., XIX: 698 [idem]. (1901), Doença do Somno. Relatórios enviados ao Ministério da Marinha pela missão scientífica nomeada por portaria de 21 de Fevereiro de 1901 [em colaboração de C. Mendes, A. Kopke e Gomes de Resende]. (1903), Ueber die aetiologie der Schlafkrankheit. Centralblatt für Bakteriologie, Parasitologie und Infektiologie, XXXV: 45, 212 e 316 [idem]. (1906), Subsídios para o estudo bacteriológico das águas potáveis de Angra do Heroísmo. Arquivos do Instituto Câmara Pestana, I: 215 [em colaboração com I. Borges]. (1909), Sur une Theileria parasite du Cephalophus Grimmi (L.). Bulletin de la Société Portugaise des Sciences Naturelles, III: 64 [idem]. (1921), La bilharziose vésicale en tant que maladie autochtone au Portugal. Comptes-rendus Société de Biologie, LXXXV: 785 [em colaboração com I. Borges e A. Seabra]. (1927), à propos du mémoire de P. Remlinger sur l?absence de la bilharziose à Tanger. Bulletin de la Société de Pathologie Éxotique, XX: 350 [em colaboração com I. Borges].

 

Bibl. Ferreira, E. (1937), O arquipélago dos Açôres na história das ciências. Separata de Petrus Nonius, 1. Valente, P. (1930), Prof. Annibal Bettencourt. Arquivos do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, 6, 2: 1-10.