Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Góis, Damião de

 [N. Alenquer, 1502 ? m. Alenquer, 30.1.1574] Oficial régio, diplomata, historiador e humanista, foi indubitavelmente a figura mais cosmopolita do Portugal do seu tempo e o máximo representante da cultura humanista no plano nacional. Viveu na corte desde os nove anos de idade e, em 1518, o seu nome surge já no livro de matrículas dos moradores da Casa Real. Em 1523, encontra-se em Antuérpia, como secretário da feitoria portuguesa e nos anos seguintes viaja pela Europa (Brabante, Alemanha, Polónia, Dinamarca) em missões oficiais, estabelecendo contactos quer com mercadores, quer com figuras gradas da vida cultural e política da época (Lutero, Melanchton). Em 1532, renuncia ao ofício de tesoureiro da Casa da Índia, para o qual fora nomeado, e abandona a feitoria de Antuérpia. Retoma as viagens e os contactos culturais, é amigo de Erasmo de Roterdão e escreve diversas obras importantes, nas quais defende a expansão portuguesa (Lopes, 1994: 465). Em 1545, regressa a Portugal, mantendo, porém, o contacto com a rede de pensadores humanistas em que se integrava. Datam deste período as suas obras historiográficas, nomeadamente o Elogio da Cidade de Lisboa, de 1554, texto encomiástico, no qual o autor apresentou a capital do império como uma urbe rica e dinâmica, fruto da epopeia dos descobrimentos; a Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel I, publicada em 1566 e que originou protestos vários por parte de algumas famílias nobres; e a Crónica do Príncipe D. João, editada em 1567. Para além de Damião de Góis ter sido um dos autores lidos e citados por Gaspar Frutuoso, é de notar que a Crónica do Príncipe D. João contribuiu para alimentar uma das polémicas que mais tinta fez correr no contexto da historiografia açoriana. Referimo-nos à questão da famosa «estátua equestre» do Corvo, que Damião de Góis descreveu, comentando a sua antiguidade e possível origem (Góis, 1977: 29-31). Os ecos do debate na imprensa oitocentista mereceram a atenção de Ernesto do Canto, que publicou alguns dos textos relativos ao assunto nas páginas do Arquivo dos Açores (1980, II). O prestígio intelectual e a abertura de espírito de Damião de Góis estiveram na origem da perseguição que a Inquisição lhe moveu, em 1545 e em 1571, sendo preso e submetido a processo na segunda ocasião. A sua morte misteriosa ? apareceu morto na casa de Alenquer ? ajudou a reforçar a aura que rodeia a figura ímpar deste português de Quinhentos. José Damião Rodrigues

Bibl. Damião de Góis: humanista português na Europa do Renascimento (2002). Lisboa, Biblioteca Nacional. Arquivo dos Açores (1980). Reprodução fac-similada da edição original, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, II. Góis, D. (1977), Crónica do Príncipe D. João. Edição crítica e comentada por Graça Almeida Rodrigues, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa. Lopes, M. S. (1994), Góis, Damião de 1502-1574. In Luís de Albuquerque (dir.), Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, Caminho, I: 464-467. Serrão, J. V. (1981), Góis, Damião de (1502-1574). In Joel Serrão (dir.), Dicionário de História de Portugal, Porto, Livraria Figueirinhas, III: 123-125.