Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Homem, Antão Martins

 [N. ?, antes de 1474 ? m. Praia, 5.12.1531] 2.o capitão da Praia, na linha dos Martins Homem. Filho de Álvaro Martins Homem, primeiro capitão, que sucedeu a Jácome de Bruges, primeiro capitão da Terceira. Veio à ilha como escudeiro da casa do donatário, duque D. Diogo, na companhia de seu pai. Casou em 1483, na Madeira, com Isabel Ornelas da Câmara, filha de Pedro Álvares da Câmara e sobrinha do capitão do Funchal, com a qual se fixou na Praia. Teve os seguintes filhos: Álvaro Martins *Homem, que lhe sucedeu na capitania; Domingos Homem, casado com Rosa de Macedo, filha de Jos *Dutra; Pedro Álvares da Câmara, vigário das Lajes e depois da matriz da Praia; João Martins da Câmara, casado com Maria Luís, filha de João Afonso da Caldeira; Inês da Câmara, casada com Manuel de Sousa; e Catarina da Câmara, segunda mulher de Diogo Paim. É dado por padroeiro do mosteiro da Luz da Praia, erecto na década de 480 e fundado por Catarina de Ornelas, depois «Catarina de Cristo». Foi o seu mandato confirmado por duas cartas, uma de 26 de Março de 1483, quando tomou posse, e outra de 10 de Outubro de 1529. Em 1522, segundo Drummond, o rei terá confirmado a renúncia que fez da capitania em seu filho, o dito Álvaro Martins *Homem, e de facto a intervenção activa deste último, nos assuntos da governação, recua pelo menos a 1515. É o governo do segundo capitão da Praia conhecido por bastantes demandas e conflitos. Uma foi a intentada pelos Paim, herdeiros do referido Jácome de Bruges, que termina no casamento de Diogo Paim com a filha deste capitão, como se comprova pelo respectivo dote de casamento, de 17 de Junho de 1521. Aliás, com Diogo Paim os conflitos não foram apenas pela jurisdição e redízima da capitania, mas também pela herança de Pedro Álvares da Câmara, sogro de ambos. Outra demanda que, pelas datas, provirá também dos tempos de seu pai, foi levantada por Pedro Gonçalves (morador em Orense, Galiza), filho e herdeiro que se dizia do referido Jácome de *Bruges. Nesta obteve sentença ducal a seu favor, de 17 de Março de 1483. Outra, ainda, foi a demanda ocorrida com Fernão *Dulmo, pela posse da célebre e ainda não totalmente deslindada «capitania das Quatro Ribeiras», em curso a 18 de Maio de 1487. Justificaria ela a ausência do capitão, já que então seu sogro o substituía no cargo? Mas as acções que mais o marcaram, e pela negativa, terão sido as atitudes de força e esbulho perpetradas contra antigos detentores de dadas em sesmaria, e a que foi intentada contra ele, pelos moradores da capitania, em razão da insuficiência dos moinhos. Fruto desta última, e segundo Drummond, em 1517 é reconhecido o direito dos moradores da Praia poderem fazer moenda nos seis meses de Verão, algo que continuou pelos herdeiros e, naturalmente, terá afectado os respectivos réditos senhoriais. Não obstante, estes ainda seriam consideráveis, a julgar pelos dados existentes para os anos de 1533/1537, já em tempo de seu neto (Antão Martins *Homem), mas muito próximos da data de sua própria morte. De 21 de Maio de 1530 data do seu testamento e, de 5 de Dezembro de 1531, a respectiva abertura. Entre as mais disposições da cédula testamental, manda dar 8$000 à Misericórdia da Praia, em restituição do que poderia dever a muitas pessoas. Isto não deixa de remeter para o que atrás foi dito e, principalmente para o nada lisonjeiro juízo de valor de Manuel Corte-Real (1565), naturalmente faccioso, sobre seu neto (o dito Antão Martins *Homem), e pelo qual este bem se pareceria com o avô. Para mais, dispõe também ser enterrado na igreja matriz da Praia, deixa a mulher por testamenteira e herdeira de sua terça, que vincula «em sacrifios d?altar», e indica o filho mais velho como herdeiro e sucessor no morgadio e da capitania da Praia. Rute Dias Gregório

Fontes. Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, Cartório da Madre de Deus, maço 25-005, fls. 11-11v. Ibid., Cartório dos Condes da Praia, Inventários-1516 a 1556, maços 2.3.2., 2.3.3. e 2.3.4.

 

Bibl. Arquivo dos Açores (1980), Sentença entre partes ? Pero Gonçalves e Antão Martins, capitão da Praia, proferida a 17 de Março de 1483. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, I: 28-31. Ibid. (1982), Donatarios da villa da Praia da Ilha Terceira. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, IV: 207-219. Ibid. (1983), Carta do ouvidor e corregedor Vasco Afonso a Pedro Álvares da Câmara, então capitão por Antão Martins, de 18.V.1487. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, XII: 388-389. Chagas, D. (1989), Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura/Universidade dos Açores. Drummond, F. F. (1981), Anais da Ilha Terceira. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, I. Frutuoso, G. (1978), Livro Sexto das Saudades da Terra. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. Gregório, R. (2004), Rendimentos da Capitania da Praia (1533-1537). Anais de História de Além-Mar, vol. V [no prelo]. Leite, J. G. R. (2002), A honra, o serviço e o proveito: os capitães da Praia. Arquipélago-História, VI (2): 11-31. Maldonado, M. (1979), Fenix Angrence. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira, III. Veiga, I. (2000), Álvaro Martins Homem. In Costa, J. P. O. (coord.), A Nobreza e a Expansão. Estudos biográficos. Cascais, Patrimonia: 73-84.