Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Homem, Álvaro Martins

 [N. ?, ? ? m. Praia?, antes de 26.3.1483] 1.o capitão da Praia, sucedendo a Jácome de Bruges, primeiro capitão da ilha Terceira. Servidor do Duque D. Fernando, Maldonado insiste na sua «calidade», atestado pela confiança de D. Beatriz ao entregar-lhe a capitania, e pela ligação aos «Câmara» da Madeira. É dado por filho ou sobrinho de Garcia Homem, que foi à referida ilha casar com uma filha de João Gonçalves Zarco, po nome Catarina Gonçalves da Câmara. Contraiu matrimónio, este primeiro capitão da Praia, com Inês Martins Cardosa, nascida de Martim Anes Cardoso, da Casa de Viseu e Beja. Terá estado, com João Vaz *Corte-Real, na descoberta da Terra Nova. Veio para a ilha de Jesus Cristo, provavelmente na década de 460, onde se fixou na área de Angra. É, por isso, por muitos considerado seu primeiro povoador e fundador. Entre os que vieram consigo do reino registam-se: Nuno Cardoso, irmão de sua mulher; Antão, Gonçalo e João Vaz Homem, seus primos co-irmãos; Antão Martins da Fonseca ? também primo ? e seu filho, Álvaro Lopes da Fonseca; Gil de Borba, natural do lugar do mesmo nome, no Alentejo; Gil Fernandes de Escobar, natural de Olivença; talvez Gonçalo Ferreira de Teive; e Afonso Álvares de Antona, o Velho de S. Francisco, que Maldonado diz ter sido seu lugar-tenente. É também dado por parente próximo de João Álvares Homem (de Guadalupe) e Heitor Álvares Homem, irmãos. Como consta da carta de doação de 1474, não terá sido fácil o entendimento e acordo com Jácome de Bruges, anterior a esta data, já que se registaram pleitos no que seria a primeira tentativa, entre ambos, de divisão da Terceira em duas capitanias. É então, no dito ano de 1474, que D. Beatriz o concretiza, e já depois do desaparecimento de Jácome de Bruges, cumprindo um projecto de seu marido. Nasciam, deste modo, as capitanias de Angra e da Praia. Com a primeira ficou João Vaz *Corte-Real (2 de Abril de 1474), com a segunda Álvaro Martins Homem (17 de Fevereiro de 1474), na condição de ser indemnizado pelos investimentos perpetrados na banda de Angra, nomeadamente na construção de moinhos. Fixando-se na Praia com sua mulher, diz Frutuoso que estiveram oito ou dez anos sem contactos com o exterior e vivendo com grandes carências. Apesar de aparentemente ter aceite a troca da zona de domínio, não foi fácil a demarcação das áreas de jurisdição pertencentes a cada capitania. Desde logo, Álvaro Martins Homem e João Vaz Corte-Real envolveram-se em renhida demanda pela respectiva definição, demanda que só terminou em 1565. Para além deste conflito, ter-se-á antagonizado, e ainda no contexto da posse da capitania, com os que se consideravam e diziam legítimos herdeiros de Jácome de Bruges. Estamos a falar: de Pero Gonçalves, filho do referido e contra o qual, já em tempo de seu filho Antão Martins *Homem, se obteve sentença ducal favorável (1483); e de Duarte Paim, genro de Jácome de Bruges, depois com o filho daquele, Diogo Paim. Maldonado refere o «silêncio» a que se remeteu esta demanda, fruto dos casamentos do dito Diogo Paim. Estava bem informado o ilustre cronista, já que o recém-encontrado dote de casamento de Diogo Paim com Catarina Câmara, neta deste capitão, regista explicitamente o acordo tácito e a desistência da demanda. Não obstante tais entraves e escolhos, Maldonado considera-o protagonista do grande desenvolvimento da capitania, um pouco por rivalidade e despeito em relação a Angra, e particularmente atestado pelo facto de, ao tempo de sua morte, já a Praia ter o número de paróquias que continuava a ter na época de escrita da Fenix Angrence. Terá morrido no ano de 1482, confirmadamente antes de 26 de Março de 1483, data em que o filho vê confirmada a sucessão na capitania. Deixou descendência em Inês Martins Cardosa, segunda de nome, que casou com João de Galegos e, ao que consta, contra a vontade dos pais; em Luís Martins Homem, falecido sem casar; e em Antão Martins Homem, herdeiro da Casa e capitão que se segue. Rute Dias Gregório

Fontes. Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, Cartório dos Condes da Praia, Inventários-1516 a 1556, maço 2.3.4..

 

Bibl. Arquivo dos Açores (1980), Sentença entre partes ? Pero Gonçalves e Antão Martins, capitão da Praia, proferida a 17 de Março de 1483. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, I: 28-31. Id. (1982), Donatarios da villa da Praia da Ilha Terceira. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, IV: 207-219. Chagas, D. (1989), Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores. S.l., Secretaria Regional da Educação e Cultura/Universidade dos Açores. Drummond, F. (1981), Anais da Ilha Terceira. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, I. Frutuoso, G. (1978), Livro Sexto das Saudades da Terra. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada. Gregório, R. (2004), Rendimentos da Capitania da Praia (1533-1537). Anais de História de Além-Mar, vol. V [no prelo]. Leite, J. G. R. (2002), A honra, o serviço e o proveito: os capitães da Praia. Arquipélago-História, (2), VI, 11-31. Maldonado, M. (1979), Fenix Angrence. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira, III. Matos, A. T. (1989), Povoamento e Colonização dos Açores. In Albuquerque, L. (dir.), Portugal no Mundo. Lisboa, Edições Alfa: 176-188; Veiga, I. (2000), Álvaro Martins Homem In Costa, J. P. O. e (coord.), A Nobreza e a Expansão. Estudos biográficos. Cascais, Patrimonia: 73-84.