Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Ávila, Norberto

(N. A. Soares) [N. Angra do Heroísmo, 9.9.1936] Dramaturgo. Frequentou a Universidade do Teatro das Nações, em Paris, de 1963 a 1965; em Lisboa, em 1973-75, criou e dirigiu a revista Teatro em Movimento; na Secretaria de Estado da Cultura chefiou a divisão do Teatro, durante 4 anos (1974-78), mas abandonou o cargo, nesta data, para se entregar de corpo e alma ao ofício de dramaturgo. No entanto, ainda dirigiu, na Rádio Televisão Portuguesa, uma série de programas dedicados à actividade teatral portuguesa, com o título genérico «Fila 1», em 1981-2. Paralelamente, traduziu obras de consagrados escritores e dramaturgos.

 Norberto Ávila é um dos mais reconhecidos, traduzidos e representados dramaturgos portugueses. Com perfeito domínio da técnica teatral, as suas obras representam o que há de melhor na nossa literatura dramática contemporânea. Nelas consegue uma plena vivacidade do diálogo, uma boa definição dos personagens, um humor inteligente e uma inegável riqueza poética. A diversidade temática percorre mitos da Grécia Antiga e da literatura mundial, mergulha nos temas bíblicos e da história de Portugal e penetra nos problemas político-sociais contemporâneos. Com formação humanista, procura nas suas obras escalpelizar relações sociais com o objectivo de provocar reacções transformadoras e construtivas. Os seus trabalhos têm sido representados por numerosas companhias portuguesas e estrangeiras. O texto mais conhecido, As Histórias de Hakim, foi traduzido em 16 idiomas e representado na Alemanha, Áustria, Checoslováquia, Coreia do Sul, Croácia, Eslovénia, Espanha, Holanda, Roménia, Sérvia e Suíça. Pela qualidade da sua obra foi premiado 7 vezes, até ao presente (1998). Para além de dramaturgo, é autor de um romance (inédito), conto e poesia publicada em diversos jornais. Colaborou na Enciclopédia Luso-Brasileira, com diversos verbetes relacionados com o teatro, e tem vários artigos nas revistas Panorama e Teatro em Movimento. Os Açores também estão presentes na sua obra. Em O Homem Que Caminha sobre as Ondas debruça-se sobre a emigração para o Canadá; em A Paixão segundo João Mateus, versa a Paixão de Cristo de forma dramática, com linguagem popular da ilha Terceira, na perspectiva de um poeta popular, João Mateus; Antero de Quental e a Geração de 70 são abordados no romance No mais Profundo das Águas. Carlos Enes (Set.1998)

Obras principais: Teatro ? (1960a), A Descida aos Infernos: Farsa Dramática em dois Actos. Separata de Rumo, Lisboa. (1960b), O Homem Que Caminha sobre as Ondas. Peça em 3 actos. Lisboa, ed. do autor. (1963), O Servidor da Humanidade. Peça em 1 acto. Lisboa, Ed. Panorama. (1968), As Histórias de Hakim. Peça em 3 actos. Lisboa, Ed. Panorama [tem mais duas edições em Portugal e quatro na Alemanha]. (1972), A Ilha do Rei Sono. Lisboa, Plátano Ed. [2.ª ed. 1977; tem uma edição em alemão]. (1976), As Cadeiras Celestes. Farsa popular em dois actos. Lisboa, Prelo Ed. (1983), A Paixão segundo João Mateus. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura. (1987), D. João no Jardim das Delícias. Lisboa, Ed. Rolim. (1988), Viagem a Damasco. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura. (1990a), Florânia ou A Perfeita Felicidade. Ponta Delgada, Ed. Signo. (1990b), Magalona Princesa de Nápoles. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura. (1990c), As Viagens de Henrique Lusitano. Lisboa, Sociedade Portuguesa de Autores. (1992a), A Donzela das Cinzas. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura. (1992b), Arlequim nas Ruínas de Lisboa. Lisboa, Escola Superior de Teatro e Cinema. (1994), Os Doze Mandamentos. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura. (1997a), O Marido Ausente. Lisboa, Ed. Colibri. (1997b), Uma Nuvem sobre a Cama. Lisboa, Ed. Colibri.

Peças inéditas ? (1962), O Labirinto. (1965), A Pulga. (1965), Magnífico I. (1977-78), O Rosto Levantado. (1979), O Pavilhão dos Sonhos. (1982 e 88), Os Deserdados da Pátria. (1995), Fortunato e TV Glória.

Fotografia (e texto) ? (1992), As Fajãs de S. Jorge (álbum). Calheta, Câmara Municipal.

Romance ? No mais Profundo das Águas (1998), Lisboa, Ed. Salamandra.

 

 

Adenda
A dedicação ao seu trabalho de escritor resultou na escrita de três dezenas de peças teatrais, três romances (dois deles ainda inéditos) e um livro de poemas. Além, disso, traduziu obras de Jan Kott, William Shakespeare, Tennessee Williams, Arthur Miller, Jacques Audiberti, Friedrich Schiller, Junji Kinoshita, Ramón María del Valle-Inclán, Rainer Werner Fassbinder, Eduardo Blanco Amor, José Zorrilla e Liliane Wouters. Adaptou à cena o romance O Bobo, de Alexandre Herculano, e, para marionetas, a obra D. Quixote e Sancho Pança, de António José da Silva.
As suas obras dramáticas, em grande maioria publicadas, têm sido representadas em teatros profissionais portugueses como o Teatro Monumental e Teatro da Trindade (Lisboa), Marionetas de Lisboa, Teatro Experimental de Cascais, Teatro Animação de Setúbal, Teatro Experimental do Porto, Teatro de Portalegre, Teatro A Oficina (Guimarães) e Centro Dramático de Évora, por exemplo, além de muitos grupos de teatro amador. As suas obras foram ainda encenadas em teatros da Alemanha, Áustria, Bélgica, Coreia do Sul, Croácia, Eslovénia, Espanha, França, Holanda, Itália, República Checa, Roménia, Sérvia e Suíça.
Tem colaborado com várias entidades culturais (nomeadamente sendo membro de júris), como a Secretaria de Estado da Cultura, Direção Regional da Educação e Cultura (Açores), Fundação Calouste Gulbenkian, FNAT/INATEL, Sociedade Portuguesa de Autores, Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia e Fundação Bernardo Santareno. Também tem presença especificamente literária na Enciclopédia Verbo (temas teatrais, 1971-1975), Radiotelevisão Portuguesa, Emissora Nacional/RDP, TSF, Radiotelevisão Francesa, revistas e jornais.
Em 2008, a Sociedade Portuguesa de Autores prestou-lhe homenagem com a sua Medalha de Honra, em 2009, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda publicou a coletânea Algum Teatro (20 peças de Norberto Ávila, em 4 volumes), cuja ordenação cronológica permite avaliar facilmente a evolução temática e estética do autor.
Em 2010, ano em que se completaram os 50 anos da sua estreia como dramaturgo representado, foi agraciado com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento, da Região Autónoma dos Açores e a 10 de junho de 2011, recebeu, do Presidente da República, o grau de Comendador da Ordem do Mérito.
Entre outras, é autor das seguintes obras: Salomé ou A cabeça do profeta (2000). Comédia escrita a convite do Teatro de Portalegre, que no mesmo ano a estreou. Tríptico provinciano: Cavalheiro de Nobres Sentimentos – As Invenções do Demónio – As Suaves Luvas de Londres (2002),  Frente à cortina dos enganos (2003 e 2004, inédito), A Paixão segundo João Mateus (2004 a 2006, inédito), Para além do Caso Maddie (2007) e Memórias de Petrónio Malabar (2008). Ranu Costa (2022)
[(...) – m. Lisboa, 11.05.2022]. DRAC (2022)