Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Ávila, João de

[N. Angra, 26.4.1596- m. Ibid., 18.6.1684] É uma das figuras mais interessantes da história açoriana e ficou na memória colectiva como o herói exemplar que sucessivos cronistas apresentaram como exemplo de patriotismo e dedicação à causa comum. Serviu a sua figura como ponto de partida para reflexões sobre a condição social, a Manuel Luís Maldonado, no século XVII, e a sua biografia foi um dos exemplos preferidos da historiografia liberal para crítica ao sistema aristocrático do Antigo Regime, por ser um homem vindo dos estratos mais baixos da nobreza e ter conseguido por mérito próprio impôr-se à sociedade do seu tempo, triunfando e ultrapassando as rígidas regras de ascensão política.

Neto de espanhóis, estudou com os Jesuítas em Angra, mas desde cedo percebeu que a sua vocação estava na vida dos negócios, que iniciou ainda muito jovem. Em 1618, com 21 anos, foi nomeado alferes da Companhia de Ordenanças de Diogo do Canto e Castro e aproveitou sempre todas as ocasiões para se fazer notado no serviço militar no mar e em terra, em defesa da ilha e apoio aos barcos da carreira das Índias. Em 1630 foi nomeado mamposteiro dos cativos da ilha Terceira e anexas, que exerceu por sete anos.

Contudo, a grande oportunidade da sua vida surgiu em 1641, com o movimento da Restauração em Angra. Era ele, então, o vereador mais velho da Câmara da cidade e decididamente se pôs ao serviço da causa nacional, chefiando a facção que defendia a revolta contra os Espanhóis. Foi o responsável mais activo no cerco ao castelo, comandando uma companhia e o posto da Boa Nova, o mais perigoso. Acabada a guerra foi nomeado capitão de ordenanças e recebeu a mercê de Cavaleiro da Ordem de S. Bento de Avis e, depois, de Cristo.

Continuou, porém, a intervir na vida pública e política e serviu-se da sua fortuna pessoal para acudir à Fazenda Real em períodos de aperto. Como recompensa, foi nomeado feitor da Alfândega de Angra, em cujo cargo se distinguiu, principalmente na defesa e apoio às frotas do Brasil, andando várias vezes embarcado. Não descurava os seus negócios pessoais tornando-se, dizem os cronistas, o tipo de mercador exemplar pela escrupulosa lisura como cumpria os contratos, inclusive com os estrangeiros. Foi por isso que em 1650 passou a ser o administrador da Companhia Geral do Comércio do Brasil, na ilha Terceira e anexas.

Como militar, apoiou sempre a política oficial na guerra da Restauração e sobressaiu pela forma como coadjuvou o mestre-de-campo Sebastião Correia de Lornela, quando este foi às ilhas levantar um terço de infantaria e cavalaria. Em 1646 foi juiz ordinário do município angrense, para em 1655 ver atingido o cúmulo da sua ascensão social, com a carta régia que o fazia Fidalgo Cavaleiro da Casa Real. Serviu ainda na Misericórdia e foi o padroeiro do Convento dos Capuchos Franciscanos.

Rico, respeitado e tido sempre por incontestável apoiante da causa pública, vinculou os seus bens em morgado e preparou o casamento da neta, herdeira única, com o filho do governador do castelo Francisco de Ornelas da Câmara, o capitão-mor da Praia, Manuel Paim. Foi o coroar de uma estratégia de ascensão social e o entrar no círculo fechado da aristocracia angrense. J. G. Reis Leite (2002)

Bibl. Costa, F. J. (1844), Memoria Biographica do Terceirense João d?Ávila. Angra do Heroísmo, Typ. do Angrense. Drumond, F. F. (1981), Anais da Ilha Terceira. 2ª ed., Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, II: 48 e segs. Maldonado, M. L. (1990), Fénix Angrense. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira, II: 609 e segs.