Governo dos Açores - Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura - Direção Regional da Cultura

Anglin, João H.

(J. Hinckling A.) [N. Ponta Delgada, 17.4.1894 - m. ibid., 28.12.1975] Pedagogo e tradutor. Concluídos os estudos secundários no antigo liceu da Graça, de Ponta Delgada (1912), frequentou em Coimbra a Faculdade de Letras (1912-17) e na mesma cidade prestou serviço militar (a partir de 1915). Após licenciar-se em Filologia Germânica (1917), partiu em missão para o sul de Angola, como oficial miliciano, e ali permaneceu durante dois anos (1918 e 1919). Regressado à Metrópole, passou à disponibilidade e fez a sua preparação para o magistério liceal na Escola Normal Superior de Coimbra (1919-21), exercendo depois o ensino no liceu de Ponta Delgada até ao limite de idade (1921-64) e, ao mesmo tempo, o cargo de reitor, a partir de 1926 (com uma interrupção nos anos lectivos de 1935-36 a 1938-39). Foi também professor da Escola do Magistério Primário da mesma cidade e seu director a partir de 1943. Fez parte do núcleo de sócios fundadores do Instituto Cultural de Ponta Delgada e sucedeu na presidência desse grémio ao poeta Humberto de Bettencourt em 1955, cargo que desempenhou depois até ao fim da vida.

Pertenceu à mesma geração literária de alguns poetas açorianos de relevo, como Armando Côrtes-Rodrigues, Espínola de Mendonça, Oliveira San-Bento, Rebelo de Bettencourt, Felix Horta, etc., mas só cultivou a poesia tardiamente, passando já dos 50 anos quando fez imprimir a sua primeira e única colectânea poética, Flores com Fruto, com um prefácio de Agnelo Casimiro (Ponta Delgada, 1945). Nos sonetos aí reunidos, limita-se a pôr em verso, numa linguagem chã e sem estilo, louvores à terra natal, alguns episódios do Novo Testamento e a evocação de uma dúzia de figuras nacionais. Em prosa escreveu um pouco mais longamente, mas apenas alocuções proferidas no decurso da sua carreira docente e alguns artigos sobre figuras históricas e literárias, que foi coligindo sucessivamente em: O Liceu de Ponta Delgada e a sua Acção Cultural nos Anos de 1926 a 1935, Ponta Delgada, 1936, Leituras para os meus Alunos, ibid., 1946, Alocuções Escolares e Outros Escritos, ibid., 1953, O Historiador Joaquim Bensaúde, ibid., 1953, Novas Leituras para os meus Alunos, ibid., 1954, Notas de um Professor Liceal, ibid., 1955, Trinta Anos de Reitorado, ibid., 1959, e Últimas Notas de um Professor Liceal, ibid., 1968. Também organizou e prefaciou uma antologia do P.e Sena Freitas, ibid., 1968. O que, porém, se destaca e tem realmente importância na sua actividade literária são as suas traduções, entre as quais ocupa o primeiro lugar Um Inverno nos Açores e Um Verão no Vale das Furnas, de Joseph e Henry Bullar, Ponta Delgada, 1940 (2.ª ed., 1986). Muitas dessas traduções foram publicadas na revista Insulana, de Ponta Delgada, e no Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, de Angra do Heroísmo, e algumas saíram em separata. Com excepção de um ensaio de Terence P. Waldron sobre Os Sonetos de Antero de Quental, todas as restantes versam matéria concernente à história, descrição do território e gente (carácter, costumes) dos Açores. Destacamos as de longos excertos das seguintes obras: A Description of the Azores or Western Islands, do Cap. Boid, Narrative of the Expedition to Portugal in 1832, de G. Lloyd Hodges, e A Summer in the Azores with a Glimpse of Madeira, de C. Alice Baker. Eduíno de Jesus (Out.1996)